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Oficina de personagens

Escritor Menalton Braff lança novo livro no qual explora técnica do teatro para 'mergulhar' nas personagens para criar suas histórias

LUÍS EBLAK
EDITOR DA “FOLHA RIBEIRÃO”

"A concentração numa personagem às vezes é tão forte que ou eu caio na gargalhada ou eu me deparo a chorar, como se eu fosse a própria personagem."

Assim, o escritor Menalton Braff, 73, define o que ele chama de oficina de personagem, base de criação de seus romances -incluindo na lista "Tapete de Silêncio", sua nova obra, inspirada nas técnicas do teatro.

"Eu fecho os olhos e procuro imaginar aquela personagem. Se eu estivesse naquela situação, como eu faria. Se estivesse na outra situação, como faria. Eu escrevo como se estivesse envolvido naquelas situações, [como se] tivesse aquela personalidade, aquele tipo de caráter."

Para o público da região, "Tapete de Silêncio" será lançado amanhã, em Ribeirão Preto (no hotel Stream Palace, às 19h), e no próximo dia 6, em Araraquara (Unesp, às 20h). Na última quinta-feira, o lançamento foi na capital.

POETA FINGIDOR

Na criação de suas obras, Braff faz um exercício de fingimento. "No teatro é sempre um faz de conta: faz de conta que eu sou e faz de conta que você acredita que eu sou. Finjo no sentido poético: finjo que sou as personagens para falar delas."

"Tapete de Silêncio" é o 18º livro do autor, que estreou na literatura em 1984, com "Janela Aberta" -obra que ele prefere, aliás, "esconder", por considerá-la fraca. "Foi meu exercício de aprendiz."

O novo romance narra a história de um grupo de moradores de uma pequena cidade, a fictícia Pouso do Sossego. Nela, duas famílias tradicionais dominam o ambiente político e social a ponto de provocar um crime.

"Eu nasci em cidade pequena. [Depois de viver em outros municípios pequenos]Percebi que tem muita semelhança em todas as pequenas cidades por onde passei."

Braff nasceu em Taquara (RS) e desde o final da década de 1980 vive em Serrana, na região de Ribeirão. Ainda na adolescência, conta ele, morou também em Carazinho e Palmeira das Missões -ambas no Rio Grande do Sul.

Nesse contexto, "Tapete de Silêncio" trata, segundo o autor, de intransigência, intolerância, preconceito e distinções sociais -elementos típicos presentes em cidades pequenas, segundo o autor.

PONTUAÇÃO ECONÔMICA

Vencedor do grande Prêmio Jabuti de 2000, com o livro "À Sombra do Cipreste", Braff é um escritor respeitado no concorrido mundo da literatura. Alguns de seus livros mais recentes, como "Bolero de Ravel" e "A Muralha de Adriano", foram finalistas dos prêmios São Paulo e Portugal Telecom.

Como em obras anteriores, "Tapete de Silêncio" apresenta uma narrativa marcada pela economia de pontuação. Braff faz questão de dizer que prefere a pontuação expressiva no lugar da gramatical.

"O que a personagem pensa ou fala não vem marcado: travessão e tal. Não, ele vem junto com o discurso do narrador que vai misturando discurso de narrador com discurso do pensamento da personagem", conta.

Assim, num mesmo parágrafo, Braff intercala os discursos do narrador, de uma outra personagem e até o pensamento de um deles.

"Para que a linguagem chame a atenção para si mesma, ela cria combinações diferentes e percalços para o leitor. Muita gente se queixa: 'ah, então a literatura dificulta o entendimento?' Claro! Dificulta o entendimento, sim!"

Para ele, esse é um diferencial da literatura. "Literatura não é comunicação, literatura é expressão."

Em sua obra, frisa, ocorre o mesmo. "Não interessa se você vai entender ou não. Interessa que você sinta."

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