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Sem-terra 'debutam' em acampamentos

Grupo está acampado em Boa Esperança há 15 anos à espera de lote; região tem 13 agrupamentos semelhantes

Improviso marca o dia a dia dos moradores, que abriram fossas irregulares e dependem de bicos para sobreviver

Edson Silva/Folhapress
Vista do acampamento Luiz Gustavo, que tem cerca de 115 famílias e existe desde 1998
Vista do acampamento Luiz Gustavo, que tem cerca de 115 famílias e existe desde 1998

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Aos três anos de idade, o neto de Ivonil Barbosa, 54, não entendia por que a avó não tinha luz em sua casa, um barraco no acampamento sem terra de Boa Esperança do Sul, na região de Ribeirão.

O neto tem hoje 18 anos, mas Ivonil continua no mesmo acampamento sem energia elétrica, sem nem mesmo ter ideia se conseguirá o lote que deseja.

Assim como na Fazenda Cachoeirinha, em Boa Esperança, acampamentos sem terra da região completam até 15 anos de existência sem uma resposta definitiva se e quando se tornarão assentamentos regularizados.

Há na região pelo menos 13 acampamentos sem terra, segundo dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), do governo federal, e do Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo), do governo estadual.

Enquanto a decisão da Justiça ou do Executivo não vem, os acampamentos vivem do improviso. Famílias sem terra buscam água em minas ou dependem de caminhão-pipa da prefeitura, abrem fossas irregulares e as usam como banheiros e fazem bicos na cidade ou no campo para sobreviver.

Maria Ferreira Sousa Pas, 48, foi uma das primeiras a chegar com os pais, em 1998, no que se tornou o acampamento Luiz Gustavo Henrique, em Colômbia.

Eram 300 famílias na época, conta ela. Naquele ano, o Incra visitou a fazenda e definiu-a como "grande propriedade improdutiva".

O Incra diz que teve decisão favorável em primeira e segunda instâncias da Justiça Federal, confirmando a improdutividade do imóvel.

Hoje, estão na área 115 famílias, segundo o líder do grupo, Paulo Ricardo Rodrigues Pereira.

No local local há um ano, o novato Waldemir Antonio Costa, 35, conta ter sofrido preconceito de parte da família. "Sem-terra tem imagem de vagabundo, mas é gente que trabalha e sofre".

Diferentemente de outros grupos, o tempo fez com que o acampamento se tornasse semelhante a um assentamento formal. A maioria das casas construídas é de tijolos. Parte das hortaliças e frutas é vendida para a merenda escolar do local, segundo Ivonil Barbosa.

Mas ainda há precariedades. "Tem criança que nasceu aqui e não sabe o que é uma água de geladeira, um banho quente de chuveiro."

Outros acampamentos são marcados pela itinerância. Criado em 2008, o Alexandra Kollontai, de Serrana, montou pela sétima vez acampamento na fazenda Martinópolis, após sucessivas reintegrações de posse.

Quando são expulsos, vão para um assentamento vizinho até montarem novo acampamento. São cem famílias, segundo Guê Oliveira, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

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