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Minha história - Alaor do Carmo Oliveira Júnior, 58

Doce liberade

Após seis anos preso na Califórnia acusado de sequestro, brasileiro teve julgamento anulado e voltou a morar em Borborema (SP)

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

RESUMO - O analista de sistemas Alaor do Carmo Oliveira Júnior, 58, de Borborema (SP), foi preso com outro brasileiro, Reynaldo Eid Júnior, nos EUA em 2005 sob suspeita de sequestrar uma brasileira e seu filho. Chegaram a ser condenados à prisão perpétua, mas o julgamento foi anulado e, em nova sentença, a pena foi reduzida para quatro anos e meio de prisão. Oliveira voltou ao Brasil no fim de janeiro, após seis anos preso. Ele pretende morar em Borborema. Eid também foi solto, mas continua vivendo nos EUA.

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Era novembro de 2005. Faltava um mês para eu ir ao Brasil conhecer o meu netinho, com um aninho, e ir para o casamento do meu filho.

Um amigo brasileiro me convidou para ir para lá para mudar o layout de um jornal. Terminei em 15 dias e fiquei em Danbury, em Connecticut.

Um americano me convidou para trabalhar num canteiro de obras. Após 13 dias de trabalho, eu voltaria ao Brasil.

Ao me despedir, ele pôs US$ 6.000 no meu bolso. Era o equivalente a R$ 16 mil. Liguei para minha mulher e disse: "Vou ficar". Cheguei a ganhar R$ 50 mil num mês.

Conheci o [Reynaldo Eid] Júnior em 2000. Nunca mais nos vimos até 2005 quando, em um restaurante, ouvi uma conversa: "Estou precisando de um brasileiro para levar uma limusine até a Califórnia".

Dava pra fazer a Rota 66 todinha e seria uma chance de ir ao México depositar meu dinheiro no Banco do Brasil.

No hotel, o Júnior recebeu a ligação de Jeferson Ribeiro perguntando se levava a mulher dele e o filho da Califórnia à Flórida. Júnior deu o preço: US$ 3.000.

CRIANÇA

Um dia, ouvi uma criança dizer a uma mulher, em português, que estava com fome. O menino estava sem sapato e ela, com o rosto assustado, perguntou pelo Júnior.

O Júnior reclamou com o Jeferson de que não tinham acordo. Aluguei um quarto para ela, fui comprar roupa, levei o menino para cortar cabelo.

Um dia apareceu a Vanessa, uma brasileira, da Marinha Americana e falou que havia ido buscá a Ana Paula. Mas ela ficou assustada e se negou a ir. Nós interviemos, discutimos que queríamos falar antes com o marido da Ana, mas o Jeferson não atendia. A Vanessa chamou a polícia e disse que estávamos segurando a Ana.

O problema foi que revistaram nosso quarto e viram nosso dinheiro. Eram US$ 28 mil do Júnior e US$ 250 mil meus. Perto da fronteira, com aquele dinheiro todo?

SENTENÇA

Fomos à delegacia. Depois de três dias me mandaram embora, mas haviam nos roubado. Eu me recusei a ir. Não trabalhei a vida toda para sair sem o dinheiro.

Mandaram-nos para a corte. Só então fizeram a acusação de sequestro. Manipularam a Ana Paula para ela depor contra a gente em troca do "green card".

No julgamento, depois de receber a papelada, ela negou sequestro.

Eles queriam que eu me declarasse culpado em troca de dez anos de prisão. Quando recebi a sentença da prisão perpétua, foi a coisa mais triste do mundo. É a mesma coisa de você se declarar morto.

APELAÇÃO

Em seis anos, só vi a luz do sol dois dias. Fui começando a clarear, a pele fica muito mais fina. Não sabia se era dia, noite, chovendo ou frio.

De 2005 a 2009, não recebi visita de ninguém. A primeira visita que tive foi a de um cônsul, em 2009. Mas o pior é que não pude falar com a minha família por telefone.

Em nove meses, consegui a apelação. E foi anulado o julgamento. Foi bonito isso. Ah, a reação foi de felicidade, de Justiça.

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