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Por trás da notícia

Repórter investigativo e escritor, Saulo Gomes é atualmente mais conhecido graças aos seus livros sobre Chico Xavier

ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO

Diga-lhe onde não ir... e é lá que estará o repórter e escritor Saulo Gomes, 84 -56 de atividade jornalística, 42 como repórter investigativo.

Gomes é autor de peripécias para estar onde há notícia -como em 1958 ao "invadir" o avião com a seleção brasileira de futebol após a Copa de 1958 no aeroporto do Galeão (Rio) ou "furar" a barreira de segurança para falar com o cosmonauta Gagárin, no mesmo Galeão, em 1961.

Hoje, no entanto, ele é mais lembrado por ser o autor de livros sobre o médium Chico Xavier, morto em 2002.

Apesar da ligação entre o repórter e o médium, Saulo Gomes não se declara espírita. "Sou repórter", responde sempre que indagado.

"Há pessoas que tomam passe e já se dizem espíritas. Outros estudam a doutrina há 40 anos e dizem que ainda não sabem nada. Não sou espírita, só conheci o Chico", disse em entrevista à Folha.

A vida do repórter e escritor cruzou com a de Chico em 1968. Gomes conseguiu quebrar o silêncio de 24 anos do médium. Chico não dava entrevistas desde 1944, após a repercussão da reportagem feita por Davi Nasser e Jean Manzon em "O Cruzeiro", que questionava a mediunidade e o mostrava ingênuo.

A confiança, afirmou o repórter, é reflexo de anos de trabalho.

Em 1967, após veicular na TV Tupi uma matéria sobre o Instituto Bairral de Psiquiatria, que fica em Itapira, no interior de SP, e era ligado a um médium espírita, Gomes conquistou a confiança de Chico. No ano seguinte, conseguiu a entrevista exclusiva.

"Ele disse para eu ir sozinho até Uberaba [MG], me viu pela primeira vez e disse: 'Você é quem eu pensava. Vai buscar seus colegas [que estavam em um hotel, escondidos] que eu vou fazer a entrevista que você quer'", disse.

PINGA-FOGO

Dois anos depois, em 1971, Saulo Gomes levou Chico Xavier para o programa de entrevistas "Pinga-Fogo", da Tupi. Com três horas e 20 minutos de duração, foi considerado um marco na história do espiritismo no país. "Apesar de conhecê-lo, não o poupei", afirmou.

Gomes convidou líderes das religiões católica, evangélica, judia, espírita, além de ateus, para a sabatina sobre a religião e os espíritos.

DOCUMENTADO

Foram mais de 30 anos de convívio entre o repórter e o médium. As memórias desses tempos foram compiladas no livro "Nosso Chico", com 416 páginas, ilustrações, depoimentos e psicografias inéditas. O lançamento está previsto para setembro deste ano.

O repórter costuma dizer "tenho tudo documentado" sempre que cita alguma reportagem. A foto abaixo, por exemplo, foi feita quando ele invadiu o avião da seleção brasileira em 1958.

"Passei a noite com o macacão dos mecânicos da PanAir [empresa de aviação] e, quando o avião aterrissou, entrei escondido", disse. O objeto na mão dele é um microfone "portátil" com transmissor, que guarda até hoje.

"Os milicos ficavam doidos comigo", disse. O período da ditadura não poupou Gomes, que foi exilado em Montevidéu (Uruguai) por sete meses em 1964. Ao voltar ao Brasil, foi preso e submetido a tortura psicológica ao ter a família ameaçada pelos militares.

"Era muito magro, acho que eles [militares] tinham medo de me dar umas pancadas e me matar", afirmou.

Gomes se envolveu em grandes reportagens ao longo da carreira, como nos casos de Aida Cury, PC Farias, Mamonas Assassinas e Pablo Russel Rocha, de Ribeirão.

Em diversos processos que apuraram crimes, foi convocado para ser testemunha -seja de acusação ou defesa. "Era consequência do que eu descobria nas matérias."

Respondeu a 106 processos e, diz, acabou absolvido em todos eles.

Nascido no Rio, Gomes morou em São Paulo, São José do Rio Preto e Cuiabá, além de Montevidéu. Chegou a Ribeirão pela primeira vez em 1977, ao implantar a transmissora da Tupi. Voltou há dez anos. Mora com a mulher, Edna Gomes, com quem é casado há 43 anos.

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