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No corredor da angústia

Escritor Júlio Chiavenato lança livro baseado em relatos de pacientes sobre a luta contra o câncer

JOÃO ALBERTO PEDRINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE RIBEIRÃO PRETO

O jornalista e escritor Júlio José Chiavenato ganhou fama ao escrever livros que abordam principalmente a história do Brasil e da América Latina.

O mais lido, "Genocídio Americano - A Guerra do Paraguai", lançado em 1979 pela Brasiliense, chegou a ficar entre as obras mais vendidas no Brasil.

A obra trazia uma nova visão da história do conflito, contrariando a versão oficial e provocando enorme polêmica no meio intelectual e político.

Chiavenato, colaborador do jornal "A Cidade" de Ribeirão Preto, atribui o sucesso como escritor à sua peculiaridade de escrever grandes reportagens retratando as histórias de forma fidedigna, como elas aconteceram.

Essa busca inabalável pela reprodução fiel dos fatos, de acordo com ele, vem da veia de jornalista.

"No fundo, o trabalho jornalístico é a busca pela verdade. Você fez um monte de perguntas e no final quer saber uma coisa só: é verdade?", diz.

A afirmação é para justificar a maneira como escreveu o seu mais recente livro "Nada Não, Só Câncer", da editora Coruja, lançado oficialmente na 12ª edição da Feira do Livro de Ribeirão Preto.

A obra reúne 17 contos, baseados em histórias reais de pacientes diagnosticados com câncer. Chiavenato ouviu relatos por cerca de seis meses durante um tratamento a que se submeteu contra um câncer de próstata.

REALIDADE PURA

Os depoimentos foram obtidos em salas de espera, clínicas e hospitais.

"Não tem ficção. É tudo verdade. Em meio a exames, testes e consultas fui conhecendo pessoas com o mesmo problema que eu tive", diz o escritor.

Enquanto colhia depoimentos, conheceu gente de todo o tipo. Ouviu dessas pessoas relatos de experiências, vivências, dramas, alegrias, tristezas.

As narrativas são breves e diretas, obtidas entre um procedimento médico e outro, em locais que causavam uma certa angústia e apreensão, segundo o próprio escritor contou.

No livro, Chiavenato escreve sobre o tema de uma forma escrachada, sem pudor nem rodeios.

"Para ser verdadeiro, para ser honesto comigo mesmo e com quem vai ler. Não tentei fantasiar nada. Literatura não é beletrismo. Não tem que fazer um negócio bonitinho. Você deve passar aquilo que sente", afirmou.

O escritor diz não ter a intenção de provocar reflexão nas pessoas.

"É óbvio que o livro deve chocar quem lê, mas não tenho nenhum objetivo com a obra. Encaro como uma catarse, para espantar meus fantasmas. Conheci pessoas, elas se abriram, contaram histórias, e eu escrevi."

PENSAR NA VIDA

Apesar disso, ao tratar do tema com realidade e honestidade, sem tabus, o próprio autor reconhece que pode, ainda que indiretamente, levar o leitor a pensar mais na vida.

"A pessoa pode ler e perceber que a vida deve ser aproveitada agora, hoje, sem 'precisar aparecer' uma doença para viver intensamente", afirmou.

O jornalista diz ainda acreditar que algumas pessoas vão reagir mal em relação ao livro, principalmente profissionais da saúde, como médicos, psicólogos e psiquiatras.

"Possivelmente não vão gostar da forma com que tratei o assunto, mas procurei retratar o que realmente acontece. [O câncer] É uma coisa ruim? Sim. E ponto."

LUTA PRÓPRIA

Após ter sido diagnosticado com câncer em 2008, o jornalista afirma já estar recuperado da doença. Foram seis meses de intensos tratamentos, classificados por ele como "dolorosos" e "terríveis".

Diz levar uma vida praticamente normal, mas faz questão de lembrar que não está curado. "A doença está controlada. Se estivesse curado, não precisava voltar de seis em seis meses ao médico."

Como forma de incentivar a leitura, "Nada Não, Só Câncer" teve distribuição gratuita de cem exemplares durante a Feira do Livro de Ribeirão Preto.

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