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Sem vaga, dependente desiste de internação

Ribeirão tem 115 leitos, todos ocupados, o que faz usuário de droga migrar para ter só o tratamento ambulatorial

Procura por internação cresce e pacientes são encaminhados para outros tipos de tratamento na cidade

WOLFGANG PISTORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE RIBEIRÃO PRETO

A procura por internações de dependentes químicos é cada vez maior em Ribeirão Preto, mas, com a falta de leitos em hospitais, ou o doente desiste do atendimento ou tem de passar por um tratamento temporário.

A Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto afirma que entre 15 e 20 pessoas procuram ajuda diariamente no setor público, mas nem todas seguem o tratamento. "A maioria desiste antes da análise técnica", disse o coordenador de saúde mental do município, Alexandre de Souza Cruz.

Só um em cada cinco dependentes químicos que procuram o sistema público de saúde em busca de ajuda pode ser internado na cidade.

Como a procura sobe constantemente, o excedente é obrigado a buscar tratamento ambulatorial -sem internação, no Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) que chega perto do limite de capacidade.

O número de leitos disponível é ainda menor quando contabilizados pacientes que "fogem" do tratamento.

Segundo levantamento do Caps-AD, somente neste ano 431 novos pacientes foram atendidos na unidade.

Existem 115 vagas gratuitas de internação, sendo 80 no Santa Tereza, 15 no HC (Hospital das Clínicas) e 20 na comunidade terapêutica Rarev, que mantém convênio com a Prefeitura de Ribeirão.

Também há outros 16 leitos no Hospital Estadual de Santa Rita do Passa Quatro, totalizando 131 para uma população de 1,2 milhão.

O tratamento de um dependente químico não passa obrigatoriamente por internação, segundo o psicanalista e especialista no ramo Jorge Henrique Said. Para ele, a reclusão é necessária apenas quando existe autodestruição ou sofrimento familiar.

Said disse que o problema é a qualidade do atendimento dispensado. "A grande dificuldade de um atendimento ambulatorial é que a família e todo o convívio social do paciente precisam de cuidado", afirmou o psicanalista.

A Folha flagrou um usuário no antigo galpão da Ceagesp, que disse precisar de ajuda. "Quero muito, preciso de ajuda, mas não consigo."

LENTIDÃO

Na contramão do tráfico de drogas, o investimento em saúde pública voltada para o tratamento de dependentes cresce lentamente, segundo o presidente do Conselho Municipal Antidrogas de Araraquara, Márcio Servino.

Álcool e cocaína são os principais responsáveis pela procura de tratamento. O crack corresponde a 50% das internações. "O crack e a cocaína são os mais agressivos e, consequentemente, provocam os efeitos mais devastadores", disse Cruz.

Um a cada três pedidos na área de saúde recebidos pela Defensoria Pública são para internação e tratamento de dependentes químicos.

O tratamento médio dura nove meses e é composto por várias etapas. As famílias veem nas internações a única forma de recuperar o familiar, segundo a presidente da Associação e Pais, Amigos e Parentes de Dependentes Químicos, Marisa Alcântara. "Sozinha, a família se sente incapaz de cuidar dele."

Colaborou SILVA JUNIOR

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