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Problemas da cidade

Soluções contra favelas são contestadas

Medida adotada por Dárcy e Gasparini, remoção para conjuntos habitacionais é criticada por especialistas

Ribeirão Preto tem hoje 25 mil moradores em barracos, ante os 18 mil existentes há cinco anos, diz a prefeitura

GABRIELA YAMADA
JOÃO ALBERTO PEDRINI
DE RIBEIRÃO PRETO

A dona de casa Marli de Lourdes Oliveira, 55, mora na favela das Mangueiras, a mais antiga de Ribeirão Preto, com mais de quatro décadas.

Sete prefeitos se passaram e o problema da habitação continua sem solução: são 40 favelas em toda a cidade. Hoje são 25 mil moradores, ante os 18 mil de cinco anos atrás, segundo a prefeitura

Nos dois últimos governo -o da prefeita Dárcy Vera (PSD) e o do tucano Welson Gasparini-, o município adotou como regra principal a remoção de famílias para conjuntos habitacionais. É o que ocorre, por exemplo, com aos moradores do entorno do aeroporto Leite Lopes.

A receita, entretanto, é criticada por especialistas, que defendem a urbanização. Além de mais barata, a medida evita problemas de adaptação dos moradores, principalmente quando eles se mudam para conjuntos habitacionais verticais.

"Experiências em todo o país apontam que as remoções, principalmente para prédios, deram errado", diz a antropóloga Clarice de Assis Libânio, coordenadora executiva da ONG Favela É Isso Aí, de Belo Horizonte (MG), cidade pioneira no país na urbanização de favelas.

Em Ribeirão, a Secretaria de Assistência Social teve de oferecer aulas de convivência aos moradores do conjunto habitacional Wilson Toni após o surgimento de problemas como furtos de gás, roupas penduradas em grades, lixo em locais proibidos e cães em espaços pequenos.

Embora o governo municipal tenha erradicado dez favelas nos últimos três anos, os números mostram o inchaço desta população.

Os especialistas explicam por que isso ocorre. "Na atual conjuntura, posso dizer que é impossível acabar com as favelas", afirmou a urbanista Suzana Pasternak, da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.

O problema, segundo especialistas, é conseguir encontrar a solução adequada para a favelização. E quanto mais aumenta o número de moradores nessa situação, mais complicado fica resolver o problema.

Um exemplo está no caso da dona de casa Mayra dos Reis Rodrigues, 20, moradora da favela da Mata com o marido e dois filhos. Ela diz não ter dinheiro para sair de lá. Pior: chegaram do Maranhão há três anos e não serão contemplados no desfavelamento porque apenas são aceitos os que se mudaram para o local até 2007.

A explosão demográfica nas favelas de Ribeirão aconteceu principalmente entre 1996 e 1999. Até 1995, havia menos de 10 mil pessoas morando em 21 núcleos.

O que mudou foi a organização: inicialmente, as ocupações eram feitas por famílias isoladas. A partir de 1994 surgiram ocupações organizadas, o que pode ser constatado hoje.

Em junho a Fiscalização-Geral constatou dez invasões irregulares em um período de dez dias, com barracos erguidos durante a madrugada.

O secretário da Casa Civil, Layr Luchesi Júnior, afirmou haver motivação política.

'PROBLEMA DAS ELITES'

O pesquisador de periferias urbanas e professor do departamento de sociologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Gabriel Feltran,vê a favelização de Ribeirão sob outra ótica. "Eu não acho que as favelas sejam um problema crônico da cidade. Acho que as elites de Ribeirão é que são."

Até as eleições de outubro, o tema deverá ser um dos mais debatidos pelos seis candidatos a prefeito -entre eles, a própria Dárcy.

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