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História resgatada

Prestes a completar 195 anos, Araraquara começa a realizar um inventário de cerca de 40 de seus imóveis históricos que ainda não estão protegidos

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Em 2000, o empresário Mateus Antonio Estrella, dono da rede de farmácias Droga Ven, comprou um imóvel que integra da história de Araraquara: o palacete Nove de Julho, do início do século 20.

Mas a fachada do imóvel, desgastada, já não refletia a beleza de outrora. Estrella poderia simplesmente demolir o imóvel -o prédio não é tombado por órgãos de proteção ao patrimônio.

Decidiu, no entanto, recuperar a fachada, a escadaria e inclusive o campanário. Resultado, na visão do empresário: o prédio, ao renovar a beleza do centro, também passou a ser associado positivamente à marca da drogaria.

Já outros imóveis não tiveram o mesmo destino. Mesmo com um movimento popular pela revitalização organizado no ano passado, o Cine Coral foi demolido e deverá dar lugar a salas comerciais.

Diante de exemplos tão opostos de cuidado com o patrimônio, Araraquara, que completa 195 anos na próxima quarta-feira, lança um novo olhar para o passado.

A partir do ano que vem, membros do Compphara, o conselho municipal de preservação do patrimônio, e da prefeitura devem iniciar um levantamento para mapear todos os imóveis com valor histórico na cidade que não são tombados ou protegidos por lei.

É o tombamento e leis do gênero que garantem que a fachada e elementos históricos do prédio não possam ser demolidos.

O inventário vai identificar principalmente prédios particulares que tenham relevância pelo estilo arquitetônico, por sua história ou mesmo pelo seu aspecto cultural.

Isso porque quase todos os 29 imóveis tombados na cidade são públicos e já ficam longe do apelo do mercado imobiliário.

"Tombamento" é um termo que assusta donos de imóveis -significa, para muitos, "congelar", perder negócios.

A ideia não é tombar todos os imóveis, diz a presidente do Compphara, Marcela Vergilio Raimundo, que também é gerente de patrimônio histórico da prefeitura.

Podem ser criados incentivos fiscais, por exemplo, para que o dono cuide da fachada. "Esse levantamento é para impedir que esses imóveis se percam no tempo", disse.

Ela estima haver entre 30 e 40 imóveis particulares relevantes, como o atual Clube Araraquarense, na rua Duque de Caxias, e o Sesa, da USP.

O próximo passo é inventariar aquilo que não é físico: bens imateriais, como o Baile do Carmo e a dança de catira, devem ser catalogados, segundo a secretária da Cultura, Euzânia Andrade.

NO CHÃO

Quem passa hoje pela rua Sete de Setembro e vê um terreno em obras nem reconhece mais o que restou do Cine Coral, cinema que deu vida à cidade principalmente nas décadas de 60 e 70.

No ano passado, um grupo de artistas e comerciantes do centro iniciou um movimento de revitalização do espaço.

Em uma das ações, estenderam faixas com os dizeres "Salvemos o Cine Coral" e a colocar velas na porta.

O livreiro Marcos Valério Murad, 51, diz ter "dor no estômago" de ver o imóvel que abrigou o cinema destruído. "Lembro da minha infância, que sentávamos com meus amigos para ver o pessoal sair do cinema", afirmou.

O imóvel começou a ser demolido por dentro. Houve uma tentativa na Câmara de tombar a fachada do cinema e até uma ação movida pelo Ministério Público Estadual, mas os donos do imóvel derrubaram o embargo à obra.

Procurada, a dona do prédio, Walda Nice Affonso, não quis se manifestar.

Iniciativas do poder público são importantes, mas, sozinhas, não bastam, segundo Maria Angela Bortolucci, docente do curso de arquitetura da USP de São Carlos e pesquisadora sobre patrimônio histórico no interior paulista.

"O ideal são duas frentes. Se tem só a lei de proteção, o dono, como não pode demolir, deixa o imóvel definhar. O ideal é haver um trabalho de educação patrimonial com toda a cidade", disse.

ANIVERSÁRIO

Depois da apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão que lotou o Teatro Municipal na última quarta-feira, haverá nesta terça, às 18h, bolo de aniversário e, em seguida, seresta na Arena da Fonte -o encerramento será com show de Jerry Adriani.

Na quarta, após desfile cívico, às 9h, acontecem shows sertanejos à tarde, com duplas como Edson & Hudson e João Bosco & Vinícius. No sábado à noite, haverá a Orquestra Bachiana com regência de João Carlos Martins.

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