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Internet do bem
Campanha realizada nas redes sociais reuniu desconhecidos em torno da meta de arrecadar dinheiro para trazer ao Brasil jovem que sofreu acidente de moto do outro lado do mundo
Motivadas por uma campanha iniciada no Facebook, duas meninas de 11 anos saem batendo de porta em porta em casas da cidade de Bauru. Pedem doações em dinheiro. Em troca, retribuem com um doce: brigadeiro ou cupcake, que elas próprias ajudaram a fazer.
O objetivo é arrecadar dinheiro e dar para a amiguinha de classe a ajudar a trazer o pai de volta ao Brasil.
A coleguinha em questão é Fernanda Cordeiro, 10, única filha do professor de educação física Renato Cordeiro Mecca, 33, que sofreu um grave acidente de moto em Surabaia (a sudeste da Indonésia), no dia 24 de janeiro. Hoje ele só consegue mexer a cabeça.
"A gente passava nas casas, batia na porta e dizia: você pode dar dinheiro para ajudar o pai de uma amiga nossa a voltar para o Brasil?", diz Lorenna Gonçalves Pereira, 11, que junto com a amiga acumulou R$ 205 para doar a Fernanda, filha de Renato.
Para trazê-lo ao Brasil a família, que vive em São Carlos, iniciou uma campanha na internet para arrecadar cerca de R$ 330 mil, custo calculado para pagar as despesas de transporte -UTI aérea- e as diárias dos hospitais onde ele ficou internado.
E deu certo. Anteontem, parentes de Renato anunciaram o fim da campanha e, com ajuda do governo brasileiro, vão trazer o professor para continuar o tratamento no país. Ele chega na quinta-feira -Mecca embarcará no dia anterior.
Na internet, duas fotos de Renato postadas no mesmo dia pela mãe, Maria Beatriz Cordeiro Mecca e por um de seus três irmãos, Andréia Cordeiro Mecca, somaram mais de 3.400 compartilhamentos no Facebook em dez dias, até a noite da última sexta.
O Itamaraty informou que as passagens serão custeadas pelo governo brasileiro. São R$ 123 mil -a instalação dos equipamentos de uma UTI aérea num voo comercial pode ocupar o espaço de cerca de nove poltronas.
Com o dinheiro arrecadado na campanha, a família vai custear a instalação dos equipamentos de UTI na aeronave, a equipe médica que o acompanhará e as diárias dos hospitais no exterior. Hoje, Renato está em Cingapura -ele foi transferido 15 dias depois do acidente para uma unidade com mais recursos.
SOLIDARIEDADE
O caso comoveu André Marcelo Alavasse, 43, de Barra Bonita, que ajudou na campanha, sem conhecer a família. "Fomos à rua, conversamos com as pessoas, divulgamos no Facebook", afirma. "Fico feliz pelo resultado. Isso prova que com união dá para mudar muita coisa", diz, chorando ao telefone.
A advogada Maria Carolina Cury, 34, também não conhecia a família e se engajou na campanha. Ela arrecadou dinheiro junto aos colegas de trabalho, em Curitiba.
"Meu irmão mora no Canadá, meu namorado, na Itália. Me vi nessa situação", diz. "Não sei o que faria se estivesse no lugar deles [da família]. Me deu um aperto no coração. E se fosse comigo? Não pensei duas vezes e ajudei."
TATUAGEM
O professor Cezar Augusto Coutinho Bender, 32, que cursou educação física com Renato na Unesp de Bauru, diz que estava disposto a leiloar uma propaganda no braço.
A empresa que pagasse um determinado valor teria seu logotipo tatuado no ombro de Bender. Segundo ele, todo o dinheiro seria doado para ajudar a trazer seu amigo de volta para o Brasil.
A pesquisadora Patrícia Ferrini, 34, de São Paulo, afirma que ajudou porque possui uma amiga que passa pela mesma situação no Brasil.
Além de doar uma quantia, ela convenceu amigos e familiares a ajudar: "Estou muito feliz."
O ACIDENTE
O acidente causou um trauma na coluna cervical de Renato e uma lesão medular que o impossibilitam de se mexer do pescoço para baixo. Também levou à perda da contração da musculatura do diafragma. Por isso, ele respira com a ajuda de aparelhos.
O professor passou por uma cirurgia para reconstrução das vértebras. No Brasil, ele deve continuar o tratamento no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde será submetido a exames mais detalhados, que vão dar um diagnóstico definitivo.
