Ribeirão Preto, Domingo, 01 de Agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Assassinato de jovem choca Santa Cruz

Morte de Jefferson Iotti, 25, espancado por cinco rapazes, é o principal assunto na cidade de 1.733 habitantes

A vítima e os jovens acusados de espancar Jefferson após um baile se conheciam desde a época de infância

PAULO GODOY
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

O assassinato de Jefferson Iotti, 25, no dia 11 de julho, ainda é o principal assunto de Santa Cruz da Esperança, cidade de 1.733 moradores onde, segundo os dados oficiais, o homicídio anterior havia ocorrido em 2008 -o único, desde 1961, antes da violenta morte do jovem.
Na última semana, os cinco acusados de espancar Jefferson na saída de um baile foram indiciados por homicídio triplamente qualificado -eles estão presos.
No fim de semana em que seria alvo, Jefferson fez o que era rotina todas as vezes em que estava na casa da mãe, em Santa Cruz da Esperança.
Chegou à tarde, ligou o computador, pegou o violão comprado havia poucas semanas, começou a conversar pelo MSN com a noiva, Daiane, que mora em São Paulo.
O jovem vivia em Ribeirão Preto havia quatro anos, onde trabalhava em uma empresa de cabos elétricos. A irmã, Priscila, com quem morava, é a gerente.
No sábado, 10, ele bateu às portas da mãe, Elisabeth de Jesus Ferreira Iotti, que já tinha anunciado uma lasanha para o almoço de domingo. Chegou no Gol 2001, cujo financiamento é o pai dele, Devanir Aparecido, quem vai terminar de pagar.
Em Santa Cruz, a violência que marcou a saída do baile no Centro Social Urbano, motivada por um suposto envolvimento de Jefferson com uma garota de 17 anos, ainda soa incompreensível.
No lugar em que todos se conhecem, vítima e agressores eram amigos de infância. O principal acusado do crime é primo de Jefferson.
Na saída do CSU, o cenário já se desenhava. A festa com música sertaneja ao vivo é a única opção de diversão, mas não ocorre sempre.
Em algum momento do baile, Jefferson, acompanhado da menor, encontrou-se com Danilo Fernandes, 24, seu primo em terceiro grau.
Danilo já tinha "ficado" com a menina que acompanhava Jefferson, segundo depoimento da própria garota. Segundo testemunhas, conversaram amistosamente.
Perto das cinco da manhã Jefferson sai e leva a menina em seu carro. Danilo, então, é acusado de reunir Romário Aparecido da Silva, 20, Alex José da Cruz, 29, Marcos Aurélio da Cruz, 22, e Celso Luiz Jardim Júnior, 19, o Juninho, para ir atrás de Jefferson.
No terreno já preparado com marcações no solo para a construção de casas de uma futura Cohab, o filho de Elisabeth e Devanir teria sido fechado pelo carro de Romário e retirado de dentro de seu Gol, sendo espancado por, no mínimo, 30 minutos.
Jefferson apanhou tanto que seu tio, Luiz Antonio Souza, guarda municipal, não reconheceu o sobrinho ao removê-lo do seu carro para a maca do hospital. "Ele já respirava com dificuldade", disse o pai, Devanir.
Em Santa Cruz, os agressores tomaram rumos diferentes. Alguns ainda foram para um churrasco. Alex, sem camisa, voltou ao cenário do crime. Depois, ainda teria ido tomar cerveja. Ele é conhecido na cidade por ter matado um burro a pauladas, pelo simples fato de o animal não ter obedecido.
Pai de dois meninos, entre dois e quatro anos, chorou na delegacia após ser preso. A mãe não entende o que passou. Na rua, andando de cabeça baixa, Célia, funcionária da Prefeitura de Santa Cruz, disse ter vergonha.
"Não sei como ele chegou a esse ponto", disse sobre o filho. "Minha dor é muito grande, mas não é nada perto da dor da Beth", disse, citando a mãe de Jefferson.
No pequeno cemitério de Santa Cruz o túmulo de Jefferson ainda está sem número -foi o último enterro.
A Folha não conseguiu ouvir os advogados dos cinco acusados do crime.


Texto Anterior: Italiano quer abertura de CPI contra o presidente da Câmara
Próximo Texto: Família diz que PM demorou a atender chamado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.