Ribeirão Preto, Domingo, 01 de Agosto de 2010

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Minha filha é uma boneca

A perfeição de traços define a arte dos bebês reborns, feitos de vinil e silicone e com cabelos costurados à mão fio por fio, que encontra fãs na região

Márcia Ribeiro/Folhapress
Aline Ceballos com boneca e a filha (à dir.)

HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO

No quarto da filha mais velha da médica que se identifica como Kazumi, 55, de Ribeirão Preto, a cama de casal ocupada apenas pela primogênita da família hoje é dividida entre quatro bebês.
Rubiazinha, uma ruivinha de quatro anos, mesmo não tendo traços típicos de japoneses, é a sua preferida. Tanto que até ganhou um perfil na página de relacionamento Orkut, onde mantém contato com cerca de 50 amigos.
"Sempre que passo por uma loja de bebês paro para comprar roupinhas novas para as quatro, mas a Rubiazinha é a minha xodó. Gosto de penteá-la, dar banho, trocar sua roupinha e enfeitá-la. Às vezes a levo para a sala, onde assistimos televisão juntas", conta Kazumi.
A situação seria comum, não fosse Rubiazinha uma boneca reborn (renascida, em inglês). Com traços parecidos com os de um recém-nascido, ela foi a primeira reborn comprada pela médica.
Depois dela vieram outras três bebês. A médica gosta de comprar as bonecas para dá-las de presente. O valor de cada uma delas varia de R$ 600 a R$ 3.800.
A empregada doméstica Adriana dos Santos Moreira, 37, de Ribeirão, foi uma das premiadas de Kazumi. Há quatro anos ela foi presenteada com uma reborn, uma recém-nascida que virou "irmãzinha" do seu filho.
"Ela tinha muita vontade de ter uma menina, mas ter filhos hoje em dia é tão difícil. Então resolvi fazer uma surpresa num aniversário e comprei a bebê para ela", conta a médica.
Moreira diz que se encantou pela boneca e a trata como uma filha. "Quando cheguei em casa com a bebê, meu filho tinha quatro anos e chorou muito, porque ficou com ciúmes, mas agora ele já se acostumou e até falou outro dia para a pediatra que tem uma irmãzinha."

ARTE
Na região, há pelo menos cinco artesãs que dominam a técnica. Elas vendem bonecas para todo o país, pela internet.
A artesã Rose Doricci, 56, de São Carlos, é mãe de quatro "filhos", mas a pequena reborn Sophia, 2, virou xodó.
Por onde vai ela é paparicada por todos e passa de colo em colo até ser colocada em sua cestinha para assistir televisão com toda a família.
"Adoro comprar as roupinhas, sapatinhos, dar banho, sair para passear"
Sophia foi a primeira boneca reborn criada por Doricci. "Até por isso ela é minha preferida. Não vendo, não troco e não empresto. Tenho um casal de filhos "de verdade", já adultos, mas eles também se apegaram à Sophia."
Há um ano se juntou a eles a "caçulinha" da família, a boneca Débora. "A Sophia precisava de irmãzinha. Agora a família está completa."
A artesã conta que sente dificuldade quando chega a hora entregar uma boneca que foi encomendada. "É como se fosse um parto. Faço todo o processo de montagem e acabo me apegando a cada uma delas".

HISTÓRIA
A arte reborn consiste em transformar bonecas comuns em bebês quase reais, com materiais como silicone.
A arte, por sua vez, teve origem na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. As mulheres não podiam comprar novos brinquedos, e por isso reformavam bonecas das filhas.
No Brasil a técnifoi introduzida recentemente, há cerca de oito anos, mas já há artistas do país reconhecidos no exterior.


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