Ribeirão Preto, Sábado, 1 de agosto de 1998

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INFÂNCIA
Levantamento inédito foi realizado em 55 municípios da região para conter exploração desse tipo de trabalho
Guaíra tem 85% de crianças sem escola

CIBELE BARBOSA
enviada especial a Bebedouro

Levantamento inédito realizado pelo Mutirão pela Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Trabalho Juvenil, divulgado ontem, revela que a região de Ribeirão Preto possui municípios com até 85% das crianças e adolescentes fora da escola.
A cidade com situação mais grave, de acordo com o relatório, é Guaíra (145 km de Ribeirão Preto), onde 248 crianças e adolescentes foram visitados e 199 não estavam frequentando a escola.
Guaíra também registra a maior porcentagem de crianças que trabalham em idade escolar. De todos os pesquisados, 95 (38,3%) estão no mercado de trabalho.
No entanto, a média geral de trabalho infanto-juvenil nas 55 cidades pesquisadas acaba sendo baixa. Das 149.351 crianças e adolescentes visitados pelo programa, apenas 8,1% disseram trabalhar.
O relatório foi elaborado por pesquisadoras da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara (95 km de Ribeirão Preto), com base em coleta voluntária de dados de aproximadamente 11 mil pessoas em todas as cidades.
O mutirão foi realizado no dia 30 de novembro de 97, com apoio da Fundação Abrinq para os Direitos da Criança, do Unicef (Fundo das Nações Unidas Para a Infância) e de outras entidades.
O objetivo foi mapear o trabalho infantil na região para tentar erradicá-lo (leia texto nesta página).
Depois de Guaíra, os municípios que registram as mais altas taxas de trabalho infanto-juvenil são Pitangueiras (53 km de Ribeirão) e Piranji (90 km de Ribeirão).
Em Pitangueiras, 20,7% das 1.779 crianças pesquisadas disseram estar trabalhando. Em Piranji, a porcentagem de trabalho infanto-juvenil nas 2.237 casas visitadas é de 10,6%.
O delegado do Trabalho da região de Barretos (127 km de Ribeirão Preto), Mário Henrique Scannavino, afirmou que o trabalho infantil é mais problemático em Guaíra, na chamada "lavoura branca" das culturas de algodão, amendoim e tomate.
"Essas culturas são rasteiras e obrigam o adulto a se curvar para recolher o produto. Por isso, muitas vezes são contratadas crianças para o trabalho", disse o delegado.
A professora de estatística na Unesp e responsável voluntária pela compilação dos dados, Ana Maria Elias, afirmou que as cidades que são pólos regionais, como Araraquara, Barretos e Bebedouro, oferecem as melhores condições e facilidades de acesso à escola. "O trabalho infantil nesses locais também é menor", afirmou Ana Maria.
Sobre Guaíra e Pitangueiras, ela disse que os índices são elevados por ter sido usada outra metodologia no trabalho de pesquisa.
A coordenadora no Brasil de trabalhos da OIT (Organização Internacional do Trabalho), Beatriz Cunha, disse que a organização está apoiando a iniciativa de erradicação do trabalho infantil na região.
"A OIT apóia atividades que, como essa, buscam a mobilização da sociedade contra o trabalho infantil de risco", afirmou.



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