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INFÂNCIA
Levantamento inédito foi realizado em 55 municípios da região para conter exploração desse tipo de trabalho
Guaíra tem 85% de crianças sem escola
CIBELE BARBOSA
enviada especial a Bebedouro
Levantamento inédito realizado
pelo Mutirão pela Erradicação do
Trabalho Infantil e Proteção do
Trabalho Juvenil, divulgado ontem, revela que a região de Ribeirão Preto possui municípios com
até 85% das crianças e adolescentes fora da escola.
A cidade com situação mais grave, de acordo com o relatório, é
Guaíra (145 km de Ribeirão Preto), onde 248 crianças e adolescentes foram visitados e 199 não
estavam frequentando a escola.
Guaíra também registra a maior
porcentagem de crianças que trabalham em idade escolar. De todos
os pesquisados, 95 (38,3%) estão
no mercado de trabalho.
No entanto, a média geral de trabalho infanto-juvenil nas 55 cidades pesquisadas acaba sendo baixa. Das 149.351 crianças e adolescentes visitados pelo programa,
apenas 8,1% disseram trabalhar.
O relatório foi elaborado por
pesquisadoras da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara (95 km de Ribeirão Preto), com base em coleta voluntária
de dados de aproximadamente 11
mil pessoas em todas as cidades.
O mutirão foi realizado no dia 30
de novembro de 97, com apoio da
Fundação Abrinq para os Direitos
da Criança, do Unicef (Fundo das
Nações Unidas Para a Infância) e
de outras entidades.
O objetivo foi mapear o trabalho
infantil na região para tentar erradicá-lo (leia texto nesta página).
Depois de Guaíra, os municípios
que registram as mais altas taxas
de trabalho infanto-juvenil são Pitangueiras (53 km de Ribeirão) e
Piranji (90 km de Ribeirão).
Em Pitangueiras, 20,7% das
1.779 crianças pesquisadas disseram estar trabalhando. Em Piranji, a porcentagem de trabalho infanto-juvenil nas 2.237 casas visitadas é de 10,6%.
O delegado do Trabalho da região de Barretos (127 km de Ribeirão Preto), Mário Henrique Scannavino, afirmou que o trabalho infantil é mais problemático em
Guaíra, na chamada "lavoura
branca" das culturas de algodão,
amendoim e tomate.
"Essas culturas são rasteiras e
obrigam o adulto a se curvar para
recolher o produto. Por isso, muitas vezes são contratadas crianças
para o trabalho", disse o delegado.
A professora de estatística na
Unesp e responsável voluntária
pela compilação dos dados, Ana
Maria Elias, afirmou que as cidades que são pólos regionais, como
Araraquara, Barretos e Bebedouro, oferecem as melhores condições e facilidades de acesso à escola. "O trabalho infantil nesses locais também é menor", afirmou
Ana Maria.
Sobre Guaíra e Pitangueiras, ela
disse que os índices são elevados
por ter sido usada outra metodologia no trabalho de pesquisa.
A coordenadora no Brasil de trabalhos da OIT (Organização Internacional do Trabalho), Beatriz
Cunha, disse que a organização está apoiando a iniciativa de erradicação do trabalho infantil na região.
"A OIT apóia atividades que,
como essa, buscam a mobilização
da sociedade contra o trabalho infantil de risco", afirmou.
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