Ribeirão Preto, Domingo, 02 de Janeiro de 2011

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Diminui interesse em anular casamento

Cúria da Arquidiocese de Ribeirão recebeu 59 consultas sobre anulação em 2010 ante as 72 dos anos anteriores

Só metade dos casos se torna processo devido aos custos da ação e ao constrangimento; Igreja aprova a maioria

Márcia Ribeiro/Folhapress
O comerciante Dauri Trevilato Rêgo beija Sonia Teresinha Rêgo, com quem se casou após anular a primeira união

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

O respeito ao preceito "o que Deus uniu o homem não separe" parece ter ganho fôlego nas igrejas católicas de Ribeirão. Seja por respeito ou falta de dinheiro, tem caído o número de interessados que procuram a Cúria da Arquidiocese de Ribeirão para pedir a anulação do casamento.
A opção de cancelar o casamento religioso é garantida pela Igreja desde 1917 e, na maioria dos casos, é aprovada pelo Tribunal Eclesiástico, que ouve o casal e também as testemunhas.
De acordo com o padre Nasser Kehdy Neto, juiz auditor e responsável pelo tribunal em Ribeirão, a cada ano menos pessoas procuram informações sobre como anular seu casamento.
Em 2010, por exemplo, até o mês de novembro, houve 59 consultas. Nos dois anos anteriores, tinham sido 72.
O "boom" da procura para anular o casamento, segundo o padre, ocorreu há dez anos. Em 2001, nada menos que 103 pessoas buscaram informações para saber como pedir a anulação (veja quadro nesta página).
"A procura foi muito maior há dez anos, talvez porque se falou muito na época sobre isso", disse. Para o padre, os casais que se unem hoje estão mais conscientes.
A maior parte dos casais que leva adiante o pedido de anulação é bem-sucedido: no ano passado, os 16 que entraram com o processo conseguiram a anulação. Em 2009, foram 33 nulidades em 45 processos.
A diferença entre o número de pessoas que consulta a Igreja buscando informações e o que de fato pede a anulação pode ter várias explicações. Uma delas é o preço: anular pode custar até 11 salários mínimos -R$ 5.610. Outra é o constrangimento de arrolar testemunhas e ter de reviver o passado.
Os mais motivados são os que desejam se casar de novo na Igreja e os católicos fervorosos que querem seguir os ritos religiosos.
Mesmo ciente do desgaste de "mexer em velhas feridas", o comerciante Dauri Trevilato Rêgo, 47, pediu a anulação do casamento.
Atuante na paróquia Santa Luzia, além de querer a bênção do padre para sua nova união, ele disse que seu maior desejo era poder voltar a comungar (receber a hóstia), o que não é recomendado pela Igreja a pessoas que estão divorciadas (leia texto nesta página).
Se o interesse em anular casamentos caiu, cresceu -e muito- a fila de noivas interessadas em estrear no altar.

TRAIÇÃO E DINHEIRO
Mas o que leva a Igreja Católica a passar uma borracha na história de um casal?
A justificativa é bastante ampla. A anulação do casamento ocorre basicamente "pela falta de maturidade", segundo Kehdy Neto.
Casos de alcoolismo ou infidelidade e até interesse financeiro podem servir como argumento para mostrar que o casamento teve outro fator motivador, que não o amor. Antes e até durante o casamento o argumento pode ser aceito pelo tribunal.
Para o advogado João Batista de Araújo Júnior, especialista em área da família, a Igreja está "mais maleável. "Antes, só se levava em conta se houve ou não a consumação do casamento. Hoje, se aceita até falta de entrosamento como argumento para dar a anulação."


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