Ribeirão Preto, Sábado, 02 de Abril de 2011

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Propagandista de remédios circula livremente na rede pública

Segundo o Cremesp, representantes da indústria farmacêutica atuam em AMEs e hospitais

Prefeitura de Ribeirão vetou a presença de profissionais nas unidades municipais; laboratórios criticam

Silva Junior/Folhapress
Corredor no Hospital das Clínicas de Ribeirão com armários reservados a propagandistas que abordam médicos no local

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Os propagandistas -representantes de laboratórios de remédios- atuam livremente não só nas unidades municipais de saúde, mas também em AMEs (ambulatórios do Estado) e até em hospitais universitários no país, diz o Cremesp, o conselho estadual de medicina.
Decreto da prefeita de Ribeirão, Dárcy Vera (DEM), de 18 de março, vetou a presença desses profissionais na rede municipal -medida inédita, dizem os conselhos estadual e federal de medicina.
No HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão, propagandistas contam até com armários próprios, com o nome de cada laboratório. Lá, no entanto, eles podem ficar apenas em um corredor, onde abordam os médicos.
O Cremesp quer restringir o acesso dos propagandistas, já que a publicidade parece ter efeito: 48% dos médicos paulistas que recebem essas visitas prescrevem remédios sugeridos por fabricantes, segundo pesquisa do conselho, divulgada em 2010.
Segundo Bráulio Luna Filho, coordenador da comissão que estuda a relação entre médico e indústria do Cremesp, nos EUA, as universidades de Harvard e Stanford proibiram a entrada de propagandistas.
A relação é chamada por ele de "promíscua" (leia texto nesta página).
O veto em Ribeirão ocorreu após denúncia de que pacientes da cidade ficavam na fila enquanto representantes conversavam com os médicos nas unidades municipais de saúde.
"Em um só dia, contamos 38 representantes na mesma unidade. A prioridade é o paciente", diz Dárcy. Segundo ela, oito prefeituras do interior pediram cópia do veto.
Apesar da intenção da prefeita, a Câmara protestou, alegando que a medida tiraria empregos. Os vereadores argumentam ainda que não é a atuação deles que gera filas no atendimento (leia texto nesta página).

"DESSERVIÇO"
Edson Ribeiro Pinto, presidente da Fenavenpro, federação dos propagandistas do país, critica o veto. "Esses profissionais vendem vida, saúde, e não vende armas, coisas destrutivas."
Ribeiro Pinto afirma ainda que muitos dos médicos não têm tempo de participar de congressos e se reciclar sobre novos fármacos. No país, existem cerca de 200 mil propagandistas.
Em nota, o Sindusfarma, que representa os laboratórios, diz que não conhecia o veto e que ele é "um desserviço à população e à classe médica." Diz ainda que a troca de informação "é normal, legítima e útil para os profissionais e seus pacientes."


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