|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Especulação imobiliária avança na maior zona rural
Região sul de Ribeirão, onde crescem os condomínios, concentra 58% da área rural
941 pessoas moram em chácaras e fazendas do distrito de Bonfim, onde plantam frutas e verduras
e criam porcos e bois
DA FOLHA RIBEIRÃO
Paradoxalmente, é na zona
sul de Ribeirão Preto, o principal vetor de crescimento e especulação imobiliária da cidade
dos últimos anos, que se concentra a maior parte da área rural do município: 188 quilômetros quadrados de um total de
330 quilômetros (58,5%). Os
dados são da Secretaria de Planejamento e Gestão Pública.
A maioria dos moradores da
zona rural do município mora
no distrito de Bonfim Paulista.
São 941 pessoas, segundo dados
do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) de
2000, ou 30,3% do total.
São moradores como a família de Izilda Aparecida Simonetti, 37, que nunca soube o
que é morar na cidade. Ela nasceu e cresceu em uma fazenda
de Cravinhos e, há 9 anos, ajuda
o marido a tomar conta de uma
propriedade rural centenária
em Bonfim Paulista.
Na mesma velocidade em
que vê a cidade se aproximar da
fazenda, a família tem medo de
ter que deixar o local, alvo do
interesse imobiliário. "Nem sei
como é morar na cidade. Mas se
a gente tiver que mudar daqui
-porque dizem que já venderam para a construção de um
condomínio- para outra fazenda e for muito mais longe, aí
não vai compensar mais, vai ser
melhor ir para a cidade", disse.
Junto do marido, Carlos
Henrique Alexandre, 35, e os
seis filhos, Izilda ainda leva
uma vida tranqüila, embora o
vizinho da fazenda ao lado já tenha tido máquinas agrícolas
roubadas. No quintal da casa,
os Simonetti plantam frutas,
verduras, criam porcos para
consumo próprio e galinhas para comercialização.
A vida deles é bem diferente
da família Brancalhão, que
também mora na zona rural.
Antonio Brancalhão, 58, e a
mulher, Sueli Aparecida da Silva Brancalhão, 50, moram em
uma colônia de funcionários de
outra fazenda em Bonfim.
Nos últimos dez anos, depois
da morte do proprietário das
terras, os herdeiros arrendaram a propriedade para o plantio de cana-de-açúcar. A mudança para a cana causou uma
diminuição tão grande da área
da colônia dos funcionários que
não sobrou espaço sequer para
a manutenção de uma horta ou
pomar perto das casas.
"A vida aqui é quase igual à da
cidade. A gente compra tudo no
supermercado em Bonfim porque não tem nada em casa", disse Brancalhão, também nascido e criado em fazendas da região de Ribeirão.
Ele contou que sempre trabalhou com gado, frango e café,
mas, a chegada da cana alterou
completamente sua vida. "Agora, a gente faz de tudo um pouco. Roça um mato, limpa o que
precisar", afirmou.
Segundo a administradora
regional de Bonfim, Maria Lúcia Leipner Margatho, 300
crianças que vivem em fazendas do distrito ainda dependem
de ônibus rurais e vans para
irem à escola. Algumas chegam
a viajar até 50 quilômetros antes de entrar na sala de aula.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Comur defende a ocupação dos vazios urbanos Índice
|