Ribeirão Preto, Domingo, 02 de Novembro de 2008

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Especulação imobiliária avança na maior zona rural

Região sul de Ribeirão, onde crescem os condomínios, concentra 58% da área rural

941 pessoas moram em chácaras e fazendas do distrito de Bonfim, onde plantam frutas e verduras e criam porcos e bois

DA FOLHA RIBEIRÃO

Paradoxalmente, é na zona sul de Ribeirão Preto, o principal vetor de crescimento e especulação imobiliária da cidade dos últimos anos, que se concentra a maior parte da área rural do município: 188 quilômetros quadrados de um total de 330 quilômetros (58,5%). Os dados são da Secretaria de Planejamento e Gestão Pública.
A maioria dos moradores da zona rural do município mora no distrito de Bonfim Paulista. São 941 pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000, ou 30,3% do total.
São moradores como a família de Izilda Aparecida Simonetti, 37, que nunca soube o que é morar na cidade. Ela nasceu e cresceu em uma fazenda de Cravinhos e, há 9 anos, ajuda o marido a tomar conta de uma propriedade rural centenária em Bonfim Paulista.
Na mesma velocidade em que vê a cidade se aproximar da fazenda, a família tem medo de ter que deixar o local, alvo do interesse imobiliário. "Nem sei como é morar na cidade. Mas se a gente tiver que mudar daqui -porque dizem que já venderam para a construção de um condomínio- para outra fazenda e for muito mais longe, aí não vai compensar mais, vai ser melhor ir para a cidade", disse.
Junto do marido, Carlos Henrique Alexandre, 35, e os seis filhos, Izilda ainda leva uma vida tranqüila, embora o vizinho da fazenda ao lado já tenha tido máquinas agrícolas roubadas. No quintal da casa, os Simonetti plantam frutas, verduras, criam porcos para consumo próprio e galinhas para comercialização.
A vida deles é bem diferente da família Brancalhão, que também mora na zona rural. Antonio Brancalhão, 58, e a mulher, Sueli Aparecida da Silva Brancalhão, 50, moram em uma colônia de funcionários de outra fazenda em Bonfim.
Nos últimos dez anos, depois da morte do proprietário das terras, os herdeiros arrendaram a propriedade para o plantio de cana-de-açúcar. A mudança para a cana causou uma diminuição tão grande da área da colônia dos funcionários que não sobrou espaço sequer para a manutenção de uma horta ou pomar perto das casas.
"A vida aqui é quase igual à da cidade. A gente compra tudo no supermercado em Bonfim porque não tem nada em casa", disse Brancalhão, também nascido e criado em fazendas da região de Ribeirão.
Ele contou que sempre trabalhou com gado, frango e café, mas, a chegada da cana alterou completamente sua vida. "Agora, a gente faz de tudo um pouco. Roça um mato, limpa o que precisar", afirmou.
Segundo a administradora regional de Bonfim, Maria Lúcia Leipner Margatho, 300 crianças que vivem em fazendas do distrito ainda dependem de ônibus rurais e vans para irem à escola. Algumas chegam a viajar até 50 quilômetros antes de entrar na sala de aula.


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