Ribeirão Preto, Segunda-feira, 03 de Agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-recrutadores de decasséguis trocam de ofício após a crise

Ex-empresários contam que a cadeia ficou praticamente desmontada

Edson Silva/Folha Imagem
Giancarlo Shigueru, que constrói casa para vender no
Jardim Ouro Branco, zona leste de Ribeirão


VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Mamoru Yanagiya, 42, morador do tradicional bairro Liberdade, em São Paulo, está prestes a abrir uma loja de doces. Giancarlo Shigueru, 32, decidiu investir na construção e venda de casas em Ribeirão Preto. Em comum, além da ascendência oriental, os dois têm a experiência de terem sido proprietários de agências que recrutavam trabalhadores para o Japão antes da crise econômica, iniciada em setembro.
A agência de Shigueru fechou em fevereiro. A de Yanagiya, em março. "Vendi um carro, demiti meu irmão que trabalhava comigo, desliguei duas linhas de telefone para cortar gastos. Por enquanto, estou só plantando para colher depois. Ainda não estou ganhando dinheiro", afirmou Shigueru.
Segundo o Consulado do Japão no Brasil e o Ciate (Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior) não há um órgão que controle a quantidade de agências de recrutamento que fecharam as portas ou que ainda existem em São Paulo. Mas ex-empresários do ramo e antigos funcionários contam que a cadeia de empregos sustentada pelo fenômeno decasségui ficou praticamente desmontada após a crise.
Yanagiya, filho de imigrantes, tinha cinco funcionários e enviava, em média, 30 pessoas por mês para trabalhar na indústria japonesa. A partir de outubro, por não ter mais como garantir segurança de emprego, deixou de recrutar. Ainda assim, a agência funcionou por mais cinco meses, com a esperança de que a economia de uma das maiores potências do mundo se recuperasse.
"Em mais de 20 anos de contato com o Japão, eu nunca vi isso. Uma situação onde não há emprego nem para os próprios japoneses", disse Yanagiya, que entre 1987 e 97 trabalhou em indústrias japonesas automobilísticas e de eletrônicos.
Uma nissei [filha de japoneses], que pediu para não ser identificada, está trabalhando por contra própria em São Paulo desde setembro, depois de ter sido demitida da vaga de despachante de uma agência.
Divorciada, mãe de duas filhas, ela trabalha hoje fazendo pedidos de documentação no Consulado do Japão para japoneses e descendentes. O trabalho, porém, não impediu que a renda da família caísse pela metade. "Minhas duas filhas [de 11 e 17 anos] sempre estudaram em escola particular. Mas, do jeito que está, vou ter que colocá-las em escola pública."


Texto Anterior: Banco lança fundo para evitar migração
Próximo Texto: Três pessoas morrem em acidentes nas rodovias da região
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.