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Ex-recrutadores de decasséguis trocam de ofício após a crise
Ex-empresários contam que a cadeia ficou praticamente desmontada
Edson Silva/Folha Imagem
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Giancarlo Shigueru, que constrói casa para vender no
Jardim Ouro Branco, zona leste de Ribeirão
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Mamoru Yanagiya, 42, morador do tradicional bairro Liberdade, em São Paulo, está prestes a abrir uma loja de doces.
Giancarlo Shigueru, 32, decidiu
investir na construção e venda
de casas em Ribeirão Preto. Em
comum, além da ascendência
oriental, os dois têm a experiência de terem sido proprietários de agências que recrutavam trabalhadores para o Japão antes da crise econômica,
iniciada em setembro.
A agência de Shigueru fechou
em fevereiro. A de Yanagiya,
em março. "Vendi um carro,
demiti meu irmão que trabalhava comigo, desliguei duas linhas de telefone para cortar
gastos. Por enquanto, estou só
plantando para colher depois.
Ainda não estou ganhando dinheiro", afirmou Shigueru.
Segundo o Consulado do Japão no Brasil e o Ciate (Centro
de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior) não há
um órgão que controle a quantidade de agências de recrutamento que fecharam as portas
ou que ainda existem em São
Paulo. Mas ex-empresários do
ramo e antigos funcionários
contam que a cadeia de empregos sustentada pelo fenômeno
decasségui ficou praticamente
desmontada após a crise.
Yanagiya, filho de imigrantes, tinha cinco funcionários e
enviava, em média, 30 pessoas
por mês para trabalhar na indústria japonesa. A partir de
outubro, por não ter mais como
garantir segurança de emprego,
deixou de recrutar. Ainda assim, a agência funcionou por
mais cinco meses, com a esperança de que a economia de
uma das maiores potências do
mundo se recuperasse.
"Em mais de 20 anos de contato com o Japão, eu nunca vi
isso. Uma situação onde não há
emprego nem para os próprios
japoneses", disse Yanagiya, que
entre 1987 e 97 trabalhou em
indústrias japonesas automobilísticas e de eletrônicos.
Uma nissei [filha de japoneses], que pediu para não ser
identificada, está trabalhando
por contra própria em São Paulo desde setembro, depois de
ter sido demitida da vaga de
despachante de uma agência.
Divorciada, mãe de duas filhas, ela trabalha hoje fazendo
pedidos de documentação no
Consulado do Japão para japoneses e descendentes. O trabalho, porém, não impediu que a
renda da família caísse pela metade. "Minhas duas filhas [de 11
e 17 anos] sempre estudaram
em escola particular. Mas, do
jeito que está, vou ter que colocá-las em escola pública."
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