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A noite é das crianças
Meninos prodígios já são profissionais e atuam como DJ , tenor e dupla
sertaneja ; especialista afirma que acompanhamento dos pais é muito importante
para o desenvolvimento saudável dos pequenos artistas
HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO
Muitas crianças já sabem o
significado daquilo que os
adultos chamam de ossos do
ofício. O pequeno Leonardo
Benny, 11, já se acostumou a
dormir às 5h aos finais de semana depois de trabalhar
animando os baladeiros.
Seguindo os passos do pai,
há seis anos o menino começou a se apresentar em festas
e boates da região e ficou conhecido como DJ Bennyn.
Por sua estatura pequena,
normalmente ele precisa
usar um banco ou caixote para alcançar a mesa de som,
mas nada parece atrapalhar
a diversão do garoto.
"Fico a semana inteira esperando as festas onde vou
me apresentar. É a melhor
parte da semana. Muito melhor do que ir para a escola."
O garoto já se apresentou
duas vezes na Festa do Peão
de Barretos, a maior do gênero no país, e em grandes festas da música eletrônica.
Além disso, o menino abriu
shows famosos, como da dupla sertaneja Vitor & Léo.
Para dar conta de tantas
responsabilidades, mais que
talento, é necessário muita
força de vontade. A mãe, a
dona de casa Andreia Benny,
37, diz que precisa ficar em cima quando a questão são os
estudos. Mas conta se admirar com a responsabilidade e
o comprometimento do filho
quando se trata de trabalho.
"Ele é hiperativo e um pouco sapeca. Dá trabalho para
acordar e ir à escola, mas
quando tem que trabalhar é
pontual e profissional."
DE OLHO NAS NOTAS
Por determinação do Ministério Público Estadual, a
dona de casa acompanha o
filho em todas as apresentações e fica de olho nas notas
na escola, onde cursa a quinta série. "A Promotoria exigiu
que, para ele continuar trabalhando, sempre estivesse
comigo ou com o pai. Além
disso, precisa ir bem nas aulas. Achamos ótimo, porque
é um jeito de incentivá-lo."
Leonardo ganha cerca de
R$ 600 por apresentações de
duas horas. Todo o dinheiro
vai para uma poupança em
nome dele e só sai de lá para
a compra de equipamentos.
"O restante está guardado
para meus estudos."
TALENTO EM DOBRO
Mesmo após sete anos de
carreira, os irmãos Luís Gustavo, 13, e Luís Augusto, 12,
ainda se mostram tímidos
para falar em público.
"Gostamos mesmo é de
cantar. Quando estamos em
cima do palco o mundo para
e só pensamos em divertir o
público", conta Gustavo.
Conhecidos como "Os Meninos de Bonfim", o talento
foi descoberto pelo próprio
pai, que ao dar dois pequenos violões aos filhos, na
época com três e quatro
anos, percebeu que tinham
vocação para música.
"Aprendemos a tocar e a
cantar sozinhos. Gostamos
de sertanejo de raiz, como
Tonico & Tinoco, Pena Branca & Xavantinho, Inezita Barroso e Rolando Boldrin. Nossa família sempre gostou
desse tipo de música."
Nos sete anos de carreira, a
dupla gravou três CDs, participou de programas de TV e
fez shows em seis Estados.
"Queremos fazer faculdade de música e seguir nossa
carreira como dupla sertaneja mesmo. Nascemos para isso", disse Augusto.
Um pouco mais velho, Vinícius Eduardo Simião da Silva, 13, é um dos principais
cantores do Coral Minaz, em
Ribeirão. Ele diz se sentir um
pouco diferente dos amigos
da escola, já que a maioria
gosta de músicas pop e ele
prefere música clássica.
"Ainda assim gosto de todos os tipos de música. Minha família é muito musical e
cresci sendo eclético."
A mãe, Renata Simião, 38,
diz que aos três anos o menino já cantava músicas como
"Trem das Onze" e "Leãozinho". "Quando estava grávida, eu já colocava músicas
clássicas para ele ouvir."
A família mora no Jardim
Paiva e, para que ele possa
ensaiar ou se apresentar, todos se mobilizam. "Ele pega
dois ônibus e eu ou meu marido vamos buscá-lo."
ESTÍMULO
O papel dos pais é de extrema importância no desenvolvimento saudável da criança
artista, segundo a psicóloga
Quézia Bombonatto, presidente da ABPp (Associação
Brasileira de Psicopedagogia). "Se os pais observarem
atentamente a carreira de
seus filhos e perceberem que
o trabalho está se tornando
algo desagradável, está na
hora de parar."
Segundo ela, a arte é importante para o desenvolvimento do indivíduo, mas
também acaba promovendo
muito a criança. "O importante é que os pais saibam estimular, sem pressionar."
Ainda segundo ela, os pais
devem entender que a criança "cheia de graça" de hoje
pode se tornar ou não um
adulto talentoso. Por isso, é
importante estimular outros
interesses e, sobretudo, fazê-la estudar sempre.
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