|
Próximo Texto | Índice
São Luiz deve perder 80% de área histórica
Segundo a prefeitura, dos 90 imóveis tombados pelo patrimônio histórico, 70 foram destruídos; Carnaval é cancelado
Serra visita a cidade e diz que vai tentar reverter destruição; cerca de 600 imóveis estão sob a água, e há 5.000 desabrigados
Joel Silva/Folha Imagem
|
|
Escombros da igreja matriz de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, onde a chuva alagou o centro histórico
ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUIZ DO PARAITINGA
O centro histórico de São
Luiz do Paraitinga, cidade turística a 182 km de São Paulo,
começou a emergir ontem.
Paus, pedras, tijolos e fios retorcidos davam os contornos
do esqueleto de um dos maiores conjuntos de arquitetura
histórica do país. Dos 90 prédios tombados pelo patrimônio
histórico do Estado, a prefeitura estima que 80% deles não
vão escapar da destruição.
O centro histórico de São
Luiz, preservado oficialmente
desde 1982, é o maior conjunto
arquitetônico tombado pelo
Condephaat em São Paulo. "É
um patrimônio colonial bastante significativo. Inclusive,
estava sendo tombado também
pelo Iphan, na esfera federal",
afirma Maria Tereza Luchiari,
pesquisadora da Unicamp.
A maior parte das construções nos arredores da praça Oswaldo Cruz -o médico sanitarista é um dos filhos ilustres da
cidade, como o geógrafo Aziz
Ab'Saber-, tinha fundações
feitas de barro, característica
dos imóveis construídos durante o século 19 e início do 20.
Por isso, as estruturas não
aguentaram a força da enxurrada. A igreja matriz, que ruiu no
último sábado, era uma das
construções feitas no início do
século 20. "Acho que acabou
tudo. Vamos ter que começar
do zero", disse a prefeita Ana
Lúcia Bilard Sicherle (PSDB).
Segundo a Defesa Civil, não
havia ontem uma contagem de
quantas casas foram interditadas. Esse levantamento deverá
ser concluído quando as águas
voltarem ao nível normal, o que
deve ocorrer até amanhã (se
não voltar a chover).
Estão cobertas pela água, segundo os órgãos municipais,
pelo menos 600 imóveis. A estimativa do prejuízo na cidade
supera os R$ 100 milhões.
São Luís do Paraitinga, cidade com 10.908 habitantes, foi
atingida por forte chuva entre o
final de 2009 e o início deste
ano. Na madrugada de sábado,
o volume da enxurrada elevou
em nove metros o nível do rio
Paraitinga.
Cerca de 5.000 moradores ficaram desalojados. Nem toda família optou por deixar suas casas, pois desde a noite de sábado
começaram os saques em residências vazias. Na região, falta
água, e alimentos e remédios são
escassos. Não há luz ou telefone.
Carnaval
O tradicional Carnaval de Paraitinga não será realizado este
ano por causa das chuvas. O governador José Serra (PSDB),
ontem em visita à cidade, ofereceu ajuda para tentar realizar o
evento que reúne 240 mil pessoas nos quatro dias da festa.
A estimativa é que o Carnaval
movimente nos quatro dias de
folia cerca de R$ 30 milhões, R$
10 milhões a mais que o orçamento anual da cidade. A prefeita, em resposta ao governador, disse que não há clima para
festa. Segundo ela, durante o
Carnaval, a ideia é realizar um
ato de solidariedade aos desabrigados pela cheia.
Serra disse que vai pedir à Secretaria de Estado da Cultura
uma análise de como pode ajudar na recuperação do patrimônio histórico do município.
"Impossível não é", afirmou.
Ontem, cerca de 300 pessoas,
entre homens e mulheres, participavam da equipe de apoio
aos moradores de São Luiz. Na
sexta-feira, quando houve a
inundação, era apenas um barco com três bombeiros.
Uma das estradas que liga o
município a Ubatuba, a rodovia
Oswaldo Cruz, deve ter a liberação parcial amanhã, segundo
o governo estadual.
Ontem, nos arredores de Paraitinga, houve ainda deslizamentos de terra. Uma pessoa
está desaparecida. Outras duas
ficaram feridas.
Colaborou EDUARDO GERAQUE
da Reportagem Local
Próximo Texto: Painel Regional Índice
|