Ribeirão Preto, Domingo, 04 de Março de 2001

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O PODER DO CRIME
Ex-mulher do Sombra, que começou com pequenos furtos, está casada hoje com um policial da região
Líder do PCC ganha neta em São Carlos

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Quem for a São Carlos e perguntar por Idemir Carlos Ambrósio -o Sombra, apontado como o principal líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) e que cumpre pena em Taubaté-, pode se surpreender com a resposta.
Ao contrário do que muitos possam imaginar, Ambrósio era conhecido como uma pessoa educada, inteligente, prestativa e trabalhava honestamente como garçom, segundo sua ex-mulher, que não quer ser identificada.
"Eu não conheço aquela pessoa que falam na televisão", disse Fátima (nome fictício).
Quando começou na vida do crime, sua fama era de um ladrão "pé-de-chinelo", que praticava pequenos furtos no bairro Jardim Bandeirantes, periferia da cidade.
O apelido surgiu naquela época, quando era praticamente desconhecido em São Carlos, segundo alguns moradores que conviveram com ele no período -até o início da década de 1980.
Fátima e Ambrósio se conheceram em 1979 e o relacionamento durou pouco mais de um ano -tempo suficiente para o nascimento de uma criança.
Por ironia do destino, a ex-mulher de Sombra -depois de viver ao lado de criminoso- está casada hoje com um policial de São Carlos, com quem teve outros dois filhos. "Estou casada há 19 anos e ele é policial há 12 (anos). Quando eu o conheci, ele era funcionário público."
Ambrósio viu a filha poucas vezes -uma ou duas vezes, segundo a mãe-, quando já estava preso. "Eles se correspondiam muito por meio de cartas e ela chegou a visitá-lo", afirmou.
Hoje com 21 anos, a filha de Ambrósio tornou-se mãe há dez dias. "Ela sofreu muito com a ausência do pai. Hoje não toca mais no assunto", disse.
Mesmo com o destaque que seu ex-marido ganhou nos jornais, Fátima disse que nunca chegou a conversar com a filha sobre o assunto. "Não é que ele morreu para nós, pois é, afinal, o pai dela. Como eu disse, eu não conheço aquela pessoa", disse.
A ex-mulher do Sombra afirma que o motivo da separação do casal não foi o ingresso do líder do PCC ao mundo do crime. "Não deu certo por outros motivos. Éramos muito crianças -eu, 17 (anos), e ele, 18 (anos)- e chegou um ponto que não deu mais."
Fátima disse que não tem o menor desejo de falar com o Sombra, mas o aconselharia a refletir melhor sua posição . "Sei lá. Acho que falaria para que criasse juízo."



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