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Médico da rede pública
ganha até R$ 21 mil
Foi o que constatou sindicância em Araraquara em relação a 20 plantonistas do Pronto-Socorro; valor supera salário do prefeito
Planilhas apontam até 500 horas trabalhadas no mês em 2007 e 2008; promotor pode instaurar um inquérito criminal
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
Uma sindicância na Secretaria da Saúde de Araraquara
constatou que pelo menos 20
médicos plantonistas do Pronto-Socorro Municipal receberam salários entre R$ 14 mil e
R$ 21,5 mil por abuso em horas
trabalhadas em 2007 e 2008.
O valor é muito maior do que
o que recebe o prefeito Marcelo
Barbieri (PMDB) -R$ 9.800-,
que, de acordo com o artigo 37
da Constituição Federal deve
ter o maior salário de um servidor público no município. Com
13º e benefícios, alguns holerites ultrapassaram R$ 40 mil.
Segundo o relatório, cinco
desses médicos tiveram ainda
conflito de horários de trabalhos prestados à prefeitura e a
hospitais particulares. Os nomes não foram divulgados.
"Notamos que eles assinaram plantões de 12 horas no
pronto-socorro, mas neste
meio tempo estiveram de plantão também em hospitais particulares", disse Marcio Santos,
secretário da Administração de
Araraquara.
Algumas planilhas de horários dos médicos apontaram
até 500 horas trabalhadas em
um mês. Para isso, teriam que
trabalhar mais de 16 horas por
dia durante os 30 dias do mês.
Segundo a comissão de sindicância, o número por si só já é
indício de irregularidade.
"Segundo depoimentos, ficou constatado ainda que os
médicos tinham acordos informais. Quando algum deles faltava ao plantão, os que iam recebiam também pelo ausente,
mesmo trabalhando o mesmo
tempo. Isso tudo era permitido
pelo supervisor do Pronto-Socorro, que é um dos cinco", disse o vereador João Farias
(PRB), representante da Câmara na comissão.
Os gastos com os vencimentos desses profissionais chegaram a R$ 4 milhões nos dois
anos, segundo o relatório.
A Prefeitura de Araraquara
tem cerca de 40 médicos contratados como horistas, ou seja,
recebem por hora trabalhada,
sem salário base ou carga horária estabelecida. A prefeitura
paga R$ 35,58 por hora de plantão durante a semana e R$
56,93 nos fins de semana.
A investigação levou 60 dias e
concluiu que "já há confirmação de irregularidades".
Uma pesquisa da gerência regional do Ministério do Trabalho confirmou que todos os pagamentos, embora absurdos,
foram feitos dentro da lei e tiveram recolhimento do FGTS
(Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço).
O caso foi enviado ontem ao
Ministério Público, que vai investigar se os médicos realmente cumpriram as horas e
pode instaurar inquérito criminal por falsidade ideológica.
Até ontem, a denúncia ainda
não havia sido distribuída. O
promotor da Cidadania, Herivelto de Almeida, que deve investigar o caso, retorna de férias na próxima segunda-feira.
Dos investigados pelas irregularidades, dois já não fazem
parte do quadro municipal. Os
demais são alvo de processo administrativo, que pode culminar na obrigação de devolver
parte do dinheiro até a exoneração do cargo.
O ex-prefeito Edinho Silva
(PT) diz desconhecer os abusos
e ser favorável a uma apuração
rigorosa, mas "ponderada" .
HORA EXTRA
R$ 35,58
é o preço da hora extra paga aos
médicos em dias de semana.
Nos fins de semana, o valor
é R$ 56,93
MÉDICOS
40
é o número de médicos
horistas na Prefeitura
de Araraquara
SALÁRIO
R$ 9.800
é o salário do prefeito em Araraquara, maior valor permitido a
um servidor no município
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