Ribeirão Preto, Segunda-feira, 04 de Abril de 2011

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Cresce nº de investigações na construção

Falta de segurança e terceirização fizeram o total de inquéritos aumentar 41,67% no ano passado em Ribeirão

No ano passado, quatro operários morreram em acidentes; sindicato afirma que alternativa é coibir informalidade

Silva Junior/Folhapress
Trabalhadores da construção civil em moradia coletiva sem condições estruturais no bairro Santa Cruz, em Ribeirão

LIGIA SOTRATTI
DE RIBEIRÃO PRETO

A falta de segurança dos trabalhadores e o crescimento da terceirização na construção civil fizeram o total de inquéritos abertos contra empresas do setor ter alta de 41,67% no ano passado em Ribeirão Preto, em comparação com 2009.
De acordo com dados do Ministério Público do Trabalho, foram instaurados 34 inquéritos em 2010 relacionados à construção civil, ante os 24 do ano anterior.
Os inquéritos incluem, também, problemas relacionados à falta de infraestrutura nos alojamentos de trabalhadores do setor, segundo a assessoria do órgão.
O principal entrave, no entanto, é a deficiência na segurança dos operários nas obras. No ano passado, pelo menos quatro trabalhadores do setor morreram em acidentes no trabalho.
Além disso, o "boom" imobiliário dos últimos anos fez as grandes construtoras contratarem empreiteiras para fornecer mão de obra.
O fenômeno gerou problemas para o setor, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Ribeirão e Região, porque no término da construção os empreiteiros "desaparecem" e não cumprem as obrigações trabalhistas.
"É uma dor de cabeça. Não pagam fundo de garantia, férias e 13º. É comum também nem liberar a carteira de trabalho dos profissionais", afirmou o presidente do sindicato, Carlos Miranda.
O SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) informou que o crescimento da terceirização é debatido com frequência pela entidade.
O órgão informou ainda que uma das ações a serem tomadas para reduzir o problema seria coibir a informalidade nas contratações (leia texto nesta página).

SEM CONDIÇÕES
Dispensado do trabalho há aproximadamente um mês, o carpinteiro Francisco Sales de Souza, 43, afirmou que ainda não recebeu o dinheiro referente a FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), férias e 13º.
"Preciso do dinheiro e, até agora, não tenho nada. Até o meu documento [carteira de trabalho] está preso e não posso ir embora", afirmou o trabalhador, que deixou o Ceará para se aventurar nas construções de Ribeirão.
A mesma situação vive Marcelo de Souza, 34, que era encarregado de uma obra no Jardim Botânico, bairro da zona sul da cidade.
"A empreiteira não dava holerite nem contrato. Agora vão suspender o alojamento. Vou acabar na rua", afirmou.
Souza e outros dez trabalhadores que moram no mesmo alojamento, no bairro Santa Cruz, em Ribeirão, também estão preocupados com o possível despejo.
"Cortaram nossa comida e fomos avisados que teremos que sair. Sem dinheiro, ir pra onde?", questionou Souza.
O local foi vistoriado pelo sindicato e, segundo a entidade, a situação é precária.
"O pessoal dorme no chão, em colchões ruins. O local tem dois banheiros para atender mais de dez pessoas, o que é pouco", disse o presidente do sindicato.


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