Ribeirão Preto, Terça-feira, 04 de Maio de 2010

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Nº de homicídios é o mais alto desde 2005

De janeiro a março, foram registradas 73 mortes violentas na região; só o último trimestre de 2005 teve mais casos: 88

Crimes contra o patrimônio, em especial os roubos de veículos, caíram na região; especialista em segurança diz que "cobertor é curto"


JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO

Som alto, discussão entre vizinhos e dois tiros. Esse foi o roteiro da morte de Gildemar Rodrigues, 27, em 22 de fevereiro em Ribeirão Preto. Ele foi uma das vítimas de homicídio do primeiro trimestre deste ano, que foi o mais violento desde 2005 na região.
Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública mostram que à morte de Rodrigues se somaram 72 casos semelhantes na área do Deinter-3 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior), que abrange Ribeirão e mais 92 cidades da região.
Há 16 trimestres não havia, na região, tantas homicídios dolosos, ou seja, em que há a intenção de matar.
Segundo estatísticas da secretaria, nesse tipo de crime, o trimestre passado só perde para os últimos três meses de 2005, que tiveram 88 mortes.
Se a ameaça à vida registrou alta, os crimes contra o patrimônio, que vinham subindo, seguiram na direção contrária.
Furtos e roubos caíram. O destaque foi o roubo de veículos: passou de 205 no primeiro trimestre de 2009 para 171 no mesmo período deste ano, uma queda de 17%. Os outros tipos de roubos também diminuíram, de 2.181 para 1.837.
Para Guaracy Mingardi, cientista social e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a contradição entre os números pode ser explicada pelo fator "cobertor curto", ou seja, a prioridade ao combate de um determinado tipo de crime deixa descoberta a ação contra outros -no caso da região, os homicídios.
Outras razões, no entanto, podem ser encontradas ao longo da investigação das mortes violentas, diz Mingardi.
"Homicídio é o tipo de crime que depende de investigação e não de prevenção. É preciso verificar quem são as vítimas, o que fazem, onde moram para saber se há uma tendência de aumento generalizado."
Representantes das polícias Civil e Militar dizem ter identificado em fatores isolados as causas desse aumento e, por isso, os dados não apontam para um aumento da criminalidade.
"Um dos pontos que colaboraram com esse aumento são os homicídios ocorridos dentro de casa. Você percebe envolvimento grande de trabalhadores rurais, está ligado a um problema social", diz Valmir Granucci, diretor do Deinter 3.
De fato, boa parte da alta dos homicídios foi registrada em municípios canavieiros da região, como Guariba (de zero no 1º trimestre de 2009 para quatro de janeiro a março deste ano), Serrana (de zero para três), Viradouro (de um para três) e Pontal (de um para três).
Para Granucci, no entanto, a imprevisibilidade dos crimes não exime o Estado da responsabilidade de combatê-los.
"Muitas vezes você registra um boletim de ocorrência por ameaça que, se não vier a dar atenção amanhã, vai gerar um homicídio", disse o delegado.
A tenente Lilian Caporal Nery, porta-voz da PM em Ribeirão, disse que a análise da corporação mostra que boa parte dos crimes ocorreu dentro de casa e o agressor conhecia a vítima. "Tem mais natureza social que de segurança."
Um dos meios para combater esses crimes é retirar retirar armas das ruas, diz a tenente. No primeiro trimestre, a PM apreendeu 357 armas.


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