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SEGURANÇA 2
Opinião é de especialistas de USP, Unesp e OEA em violência
"Armamento não garante índice menor de violência"
DA REDAÇÃO, EM RIBEIRÃO
O armamento de policiais ou de
guardas municipais não garante
que os índices de criminalidade
irão diminuir nas cidades.
Mais do que isso, o grande risco
de se armar as guardas municipais é fazer desses órgãos corporações pretorianas, aquelas que
servem apenas aos desejos de seus
comandantes, sempre homens de
confiança dos prefeitos.
A opinião é de especialistas ouvidos pela Folha. "Não conheço
nenhum exemplo de guarda municipal bem-sucedido", afirmou o
sociólogo do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP Luís
Antônio Francisco Souza.
O sociólogo alerta que, antes de
mais nada, a guarda não deve
nunca ter função policial, segundo a Constituição de 1988.
Para ele, o dinheiro aplicado nas
corporações locais poderia ser
aplicado em outros programas.
"Geralmente, as prefeituras dão
as fardas, compram as armas e as
funções não são especificadas",
completa.
Segundo ele, o armamento até
diminui, em um primeiro momento, a criminalidade. É o impacto inicial, diz o sociólogo; depois, volta tudo como era antes.
"O que falta no Brasil não é o armamento das polícias ou das
guardas, mas sim uma política
nacional de segurança pública."
A Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) aponta que a estrutura das
polícias no Brasil ainda é marcada
profundamente por raízes consolidadas durante o regime militar
(1964-85).
"O que precisa haver aqui é a
desmilitarização das polícias",
afirmou o membro da comissão
no Brasil Hélio Bicudo, o ex-promotor que denunciou o Esquadrão da Morte nos anos 70.
Radicalmente contra as guardas, Bicudo diz que elas podem,
em alguns casos, servir apenas à
megalomania dos prefeitos.
"Criar guardas é o mesmo que
criar um choque de competências, pois hoje nem as Polícias Civil e Militar se entendem."
Para especialistas, o foco para
combater a violência é outro. "As
guardas municipais não resolvem
o problema da segurança", disse o
psicólogo social da Unesp de Assis Luiz Carlos da Rocha.
Há, segundo a geógrafa urbana
Sueli Andruccioli Felix, da Unesp
de Marília, outras prioridades para combater a violência que passam longe do simples armamento
do policial ou do guarda.
"Em primeiro lugar, é preciso
haver a prevenção primária, garantindo moradia, saúde e lazer à
população. Depois, prioriza-se a
cidadania, a educação", diz.
Por último, vem as atitudes paliativas, entre elas o armamento
das polícias.
"Aliás, se o Executivo municipal
desempenhasse seu papel (garantindo saúde, habitação etc.), as
prefeituras nem precisariam se
preocupar com segurança", disse
Sueli.
(LEk)
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