Ribeirão Preto, Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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Em mais um dia de tumulto, motim deixa 3 feridos na cadeia de Ribeirão

 Preso é esfaqueado no pescoço e mais dois detentos são baleados

 Tropa de choque da PM ameaça invadir o local pela segunda vez

 Destruição de presídio obriga polícia a "reativar" Vila Branca

Edson Silva
Ambulâncias usadas para retirar presos feridos a bala de dentro da nova cadeia pública; um detento foi ferido na cabeça e outro levou um tiro na perna


VÂNIA CARVALHO
da Folha Ribeirão

RODRIGO GARAVINI
free-lance para a Folha Ribeirão

A cadeia pública de Ribeirão Preto viveu ontem mais um dia de tumulto, com três presos feridos -um esfaqueado e dois baleados- e uma nova rebelião.
É o segundo dia consecutivo que a cadeia, inaugurada em novembro de 99, registra rebelião e tiroteio. Anteontem, um detento também levou um tiro na cabeça enquanto tentava fugir do local.
Também pela segunda vez consecutiva a tropa de choque da Polícia Militar se preparou para invadir a cadeia. Armados, os policiais aguardavam só uma ordem judicial, que acabou não saindo.
Assim como ocorreu anteontem, ao final da rebelião de ontem, a polícia fez uma revista e achou uma arma entre os presos.
Segundo a PM, o revólver calibre 38 achado ontem estava com três cápsulas deflagradas. Foram abertos inquéritos para apurar a entrada das armas no presídio (leia texto nesta página).
Por causa da destruição de dois pavilhões nas rebeliões -o A e o B-, a Delegacia Seccional anunciou que, a partir deste final de semana, a cadeia de Vila Branca vai passar a receber detentos não-condenados novamente.
Segundo o delegado-seccional José Manoel de Oliveira, quem for preso hoje em Ribeirão Preto será levado para Vila Branca.
Após a inauguração do novo presídio, a antiga cadeia pública se tornou exclusiva para condenados. Ontem, Vila Branca abrigava 271 presos. O local tem capacidade para 198 detentos.

Os tumultos
Logo pela manhã, às 8h30, o preso Alceu Dantas Pinto, 43, foi esfaqueado no pescoço. Ele está internado no HC (Hospital das Clínicas).
A direção informou que está investigando se o detento tentou se matar ou se foi atingido pelos próprios colegas de cela.
Às 14h, os presos iniciaram um tumulto na ala A. Os detentos João Carlos Hipólito e Jean Carlos dos Santos Ribeiro foram baleados, o primeiro na cabeça e o segundo na perna. A rebelião foi contida somente às 19h.
Os presos afirmaram à Folha que os guardas que ficam de plantão na guarita da cadeia começaram a disparar depois que alguns detentos reclamaram da qualidade da comida.
Eles dizem ter encontrado um "bicho" nos alimentos servidos pela polícia. A mesma reclamação foi feita anteontem ao delegado-seccional e à direção da cadeia pública.
Depois que Hipólito foi atingido por um disparo, os detentos teriam começado um motim, revidando com pedras e pedaços de concreto retirados das paredes.
Em seguida, um outro tiro atingiu Ribeiro na perna. Os presos dizem que ainda há outros dois detentos feridos na cadeia, informação que a Polícia Civil e a direção do presídio não confirmam.
A Delegacia Seccional confirmou, no entanto, que os policiais são suspeitos de atirar contra os presos. O delegado Oliveira disse que vai apurar, mas não descarta a hipótese de a arma encontrada com os detentos ter sido usada na tentativa de homicídio.
A direção da cadeia já solicitou ao Instituto de Criminalística uma perícia técnica para avaliar a estrutura do prédio.
Nos dois motins, as grades foram arrancadas pelos presos, o que sinaliza a fragilidade da obra.



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