Ribeirão Preto, Domingo, 05 de Março de 2000


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CARNAVAL 2000
Festa, que tem 32 anos e é tradicional na região, neste ano terá só 20 casas
Violência e crise acabam com as "repúblicas" em Sertãozinho

Lucio Piton/ Folha Imagem
Montagem das "repúblicas" em uma das quadras onde ficou confinada a festa neste ano, na rua Aprígio de Araújo, em Sertãozinho



ANGELO SASTRE
enviado especial a Sertãozinho

A crise econômica e o aumento da violência expulsaram os foliões das ruas de Sertãozinho neste ano, anunciando um fim melancólico ao tradicional Carnaval das "repúblicas", que havia 32 anos embalava a folia na região.
A festa, que já contou com 150 "repúblicas" (grupos de jovens que alugam casas no Carnaval), chega ao ano 2000 com a marca inexpressiva de pouco mais de 20 imóveis concentrados em duas quadras.
O valor dos aluguéis, que variam entre R$ 1.000 e R$ 1.500 por cinco dias, é apontado como principal responsável pela queda no número de repúblicas.
Além disso, os "arrastões" que grupos promoveram nas "repúblicas" no ano passado também expulsaram os foliões da cidade. Muitos estão procurando outros redutos, como Brodósqui e Pontal (leia texto na página 6-2).
Segundo a organização, diversas casas foram assaltadas em 99. Os casos não chegaram a ser relatados à polícia, que só tomou conhecimento do fato neste ano.
De acordo com proprietários e corretores de imóveis de Sertãozinho, em anos anteriores as casas e salões eram alugados com até 30 dias de antecedência.
Neste ano, a maioria dos imóveis está vazio e até anteontem ainda era possível conseguir um local para montar "república".
O corretor de imóveis Francisco dos Santos, 40, diz que a maioria das pessoas que frequentavam o Carnaval de Sertãozinho está preferindo viajar para outras cidades ou alugar chácaras.
Ele revela que, no ano passado, conseguiu alugar 30 salões em dez dias. Neste ano, até anteontem, ele havia alugado só três.
"Eu alugo casa e salões no Carnaval há 20 anos e nunca vi uma temporada tão fraca assim."
A dona-de-casa Cirlene Tuffi, que possui uma casa no centro de Sertãozinho, desistiu de alugar.
Cirlene afirma que os valores propostos nesta temporada não estão compensando os gastos.
"Neste ano, os aluguéis estão sendo na base da negociação, mas a melhor proposta que recebemos foi de R$ 300 pelos cinco dias", diz a dona-de-casa.
De acordo com ela, nos anos anteriores foi possível alugar o imóvel, que conta com piscina e garagem, por R$ 1.500.
O presidente da Livres (Liga Independente Vanguarda das Repúblicas de Sertãozinho), André Pitangueiras, 22, reconhece a queda no número de casas alugadas.
No entanto ele diz acreditar que essa redução não ameaça a tradição da festa em Sertãozinho.
"Essa queda é natural e já vem acontecendo nos últimos anos. No entanto não afeta a festa porque a maioria das pessoas fica concentrada na região das repúblicas", afirma Pitangueiras.
Mesmo assim, o reflexo da crise também afetou a organização, que cancelou a presença de um trio elétrico por falta de recursos.
O estudante Rodrigo Moscatelli, 22, que há seis anos forma a república Refugo, diz considerar os preços abusivos.
Ele afirma que é necessário manter a tradição das repúblicas na cidade, mas protesta contra a falta de incentivo da Prefeitura de Sertãozinho e das imobiliárias.
A prefeitura já anunciou que vai ampliar a segurança neste ano. A Guarda de Sertãozinho vai estar nas ruas para evitar os "arrastões" (leia texto nesta página).
Neste ano, o grupo de Moscatelli, formado por 15 pessoas, alugou uma casa por R$ 700 por cinco dias. "Conseguimos desconto com a proprietária", afirma ele.



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