Ribeirão Preto, Domingo, 06 de Junho de 2010

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Sou tricampeão do mundo

Baldochi, ex-zagueiro da seleção brasileira de 70 que mora em Batatais, diz se sentir mais campeão do que muitos porque "ralou" e teve que marcar, nos treinos, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino

MARCELO TOLEDO
EDITOR-ASSISTENTE DE RIBEIRÃO

Ele não entrou em campo em nenhuma das seis partidas na epopeia mexicana. Tampouco chegou a vestir o uniforme do escrete canarinho e sentar no banco de reservas. Mas faz parte da história do futebol e está no rol dos 94 jogadores que já se sagraram campeões mundiais nas cinco vezes em que a Jules Rimet ou a Taça Fifa pousaram em solo brasileiro.
O ex-zagueiro José Guilherme Baldochi, 64, de Batatais, hoje empresário e produtor rural, é um dos jogadores que integraram o elenco do time campeão em 1970, no México, que confirmou a supremacia brasileira no futebol ao bater a Itália na final, por 4 a 1. Jogo que ele viu da arquibancada, como os 107.412 torcedores que estiveram no estádio Azteca.
"Apesar de não ter jogado, me sinto campeão do mundo e sou campeão como os outros. Aliás, sou mais campeão do que muitos, porque, para fazer parte do grupo, ralei muito e marquei Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino nos treinos. Não era fácil", disse ele, que fez três amistosos pela seleção e no México foi inscrito com o número 14.
O ex-jogador, que iniciou a carreira em 1964, aos 17 anos, no Batatais, passou por Botafogo, Palmeiras -clube pelo qual foi convocado- e Corinthians, antes de encerrar a carreira no Fortaleza, em 1976, após fraturar o pé em três lugares. Foi quando pegou os filhos, Emerson e Daniela, e a mulher, Dinah, com quem é casado há 40 anos, e retornou a Batatais.
Embora tenha obtido títulos como o Paulista de 1966 e o extinto Roberto Gomes Pedrosa (67 e 69) pelo Palmeiras -além do vice na Libertadores em 68-, foi no México que Baldochi atingiu o ápice na carreira e onde conviveu com jogadores com os quais mantém amizade até hoje, por meio da associação dos campeões mundiais.
O caminho até o tri não foi tranquilo, principalmente porque ele foi convocado pela primeira vez por João Saldanha, que caiu pouco antes da Copa para Zagallo assumir, o que fez o ex-zagueiro temer pela chance de ir ao México.
Sua convocação, aliás, fechou o "tripé" de atletas de Batatais que defenderam a seleção num Mundial. Os outros foram o goleiro Batatais e o atacante Lopes, que jogaram na França, em 1938, e obtiveram o terceiro lugar.
"Pensei que estava cortado quando o Zagallo assumiu, porque ele não me conhecia direito, mas "cheguei o cacete" nos caras nos treinos e garanti o meu lugar."
Mesmo sem ter jogado, Baldochi guarda muitas lembranças daquele time e dos tempos de Palmeiras e Corinthians. Leia a seguir.

 


ASTRONAUTA
"O [Carlos Alberto] Parreira inventava umas coisas diferentes na preparação, uns testes de cooper, umas corridas de astronauta que a gente nunca tinha ouvido falar. Ele dava 12 minutos para fazer uma série de exercícios, mas eu fazia em 15. Ele cobrava, dizia que tinha de melhorar e, para piorar, vinha um cara como o Dario [Dadá Maravilha] e fazia em 8 ou 9 minutos. Queria matar o cara."

MARKETING E DINHEIRO
"O dinheiro era muito pouco, mas já existia marketing no futebol. Metade da equipe fechou patrocínio de material esportivo com a Puma e a outra metade acertou com a Adidas. O valor daria para comprar um carro."
O prêmio da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) pelo título seria equivalente hoje a cerca de R$ 200 mil, abaixo do valor acertado em caso de conquista do campeonato da África do Sul (R$ 350 mil).

O POLÊMICO FUSCA
O título valeu não só o prêmio da CBD, mas também um Fusca zero-quilômetro ofertado por Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo.
Alvo de processo que se arrastou por mais de três décadas, Maluf acabou inocentado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O Fusca de Baldochi nem chegou a ficar gasto. Três anos depois ele passou o carro adiante. "Pouco depois de vender, o pessoal [da seleção] me ligava dizendo que corríamos o risco de ter de pagar pelo Fusca."

A FÓRMULA
O ex-jogador disse ter marcado gols em todos os clubes que defendeu, mas de uma forma só: em cobranças de escanteio. "Era o único jeito. Se eu fosse para o ataque e a gente tomasse um gol, eu estaria ferrado", disse ele, para quem Thiago Silva, da atual seleção, é quem joga no seu estilo.

MENINOS DA VILA
Para Baldochi, o técnico Dunga foi coerente ao não levar Paulo Henrique Ganso e Neymar, jogadores do Santos, para a Copa. "Ele não iria ter tempo para testá-los. Jogar o Paulista é uma coisa, mas uma Copa é muito diferente. Ele pensou muito como nós em 70. O que vejo nesse time atual é que há uma vontade muito grande de ganhar, como tínhamos no México, após o fracasso de 1966 [Inglaterra]."

GRATIFICAÇÃO
Baldochi é contrário à proposta de gratificação dos campeões mundiais com verba pública. "Não deveria sair do governo. Poderia ter um jogo no Maracanã, por exemplo, com renda para os campeões.


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