|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Curvas com falhas causam acidentes, aponta estudo
Problema está nos manuais que servem de base para a elaboração de projetos
Conclusão é referendada
pelo governo federal, autor
dos manuais, que deverão
passar por uma revisão para
elevar segurança nas vias
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O tombamento de um ônibus
que circulava a 27 km/h numa
curva, sete anos atrás, intrigou
Sergio Ejzenberg, mestre em
engenharia de transportes pela
USP e especialista em perícia
de acidentes viários. Não havia
excesso de velocidade.
"Será que a culpa vai recair,
de novo, sobre o motorista?,
pensou Ejzenberg, que descobriu que a curva não oferecia
segurança mesmo a veículos
pesados trafegando devagar.
E, depois de seis anos, concluiu que esse é um problema
espalhado por rodovias e grandes avenidas do Brasil, conforme estudo apresentado no ano
passado na Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo.
As falhas, segundo Ejzenberg, estão nos próprios manuais de projetos para a construção de curvas e determinação das velocidades, que ignoram, dentre outros fatores, a
possibilidade de tombamento
lateral de caminhões e ônibus.
Somente em estradas federais ocorrem mais de dez acidentes desse tipo a cada dia.
O especialista concluiu que
os cálculos são baseados num
ponto de massa similar a de um
carro. Por isso, admitem a hipótese de derrapagem, mas não
a de um giro de 90 graus em torno do eixo -como ocorre com
veículos altos. "É como uma
rasteira. Os caminhões e ônibus podem tombar antes de escorregar. E, se a carga for alta,
qualquer desvio de buraco já
vai provocar um acidente."
O problema, defende ele, está
concentrado principalmente
em curvas fechadas, de velocidade de até 60 km/h, que precisariam dobrar de raio -só não
atinge todas porque os engenheiros podem adotar critérios
mais conservadores que os dos
manuais técnicos do governo
federal -habitualmente seguidos por Estados e municípios.
Mas Ejzenberg cita vários
exemplos de curvas "mortais",
inclusive na capital paulista
-na avenida dos Bandeirantes,
na avenida do Estado e nas alças de acesso às pontes das
marginais Pinheiros e Tietê.
Nas estradas, ele considera
alta a probabilidade de falha inclusive na curva do km 69 da
Fernão Dias, em Mairiporã
(Grande SP), onde um ônibus
perdeu a direção na semana
passada, deixando oito mortos.
Mudança em projetos
As conclusões de Ejzenberg
têm sido respeitadas no meio
acadêmico e no governo federal, responsável pelos dois manuais contestados, de 1999 e
2005. O engenheiro Gabriel de
Lucena Stuckert, do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes),
informou à Folha que "as questões levantadas na tese" de Ejzenberg já estão sob avaliação.
Segundo ele, um estudo do
próprio órgão sobre os veículos
de carga foi aprovado em dezembro de 2009 e será utilizado para a revisão dos manuais.
Esse trabalho também constatou a necessidade de mudar
os projetos de curvas de estradas com movimento de caminhões de grande porte, citando
que eles "exigem valores de superlargura [alargamento de faixas de rolamento] nas curvas
bem superiores aos determinados pelas normas em vigor".
O Dnit não comentou a possibilidade de adotar medidas
emergenciais nas rodovias já
existentes. Ejzenberg propõe
mudar urgente a sinalização
para reduzir os limites de velocidade para ônibus e caminhões em curvas. "O motorista
dirige com a sensação de segurança. Mas ele está sendo mal
informado pela sinalização, e
isso é gravíssimo. Aquela velocidade não é segura", afirma.
Texto Anterior: Painel Regional Próximo Texto: Problema também afeta outros países Índice
|