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Agrishow é do país, não de Ribeirão, diz novo presidente
Fala de Cesário Ramalho da Silva vai na contramão do apregoado pela prefeita Dárcy
Segundo ele, feira de 2010 será pensada após o evento deste ano; "Se você faz uma megafeira, fica difícil tirar a feira daí", afirma
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
O novo presidente da Agrishow, o pecuarista e produtor de
grãos Cesário Ramalho da Silva, 64, afirmou à Folha que a
feira não é de Ribeirão Preto,
mas do Brasil. Ele segue discurso contrário ao da prefeita de
Ribeirão, Dárcy Vera (DEM),
líder do movimento "Fica,
Agrishow".
A partir do ano que vem, a
Agrishow (Feira Internacional
de Tecnologia Agrícola em
Ação) será realizada em São
Carlos, de acordo com a Abimaq (Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos), principal organizadora do evento.
O pecuarista irá acumular a
coordenação da feira com o
cargo de presidente da SRB
(Sociedade Rural Brasileira),
assumido em março do ano
passado. Para Silva, o país "vive
a maior crise dos tempos contemporâneos", que na agricultura teve o setor sucroalcooleiro como maior vítima. Leia, a
seguir, trechos da entrevista.
FOLHA - A Agrishow promete reunir neste ano 770 expositores, 70 a
mais que 2008. É possível crescer em
meio à crise?
CESÁRIO RAMALHO DA SILVA - Acho
que isso pode ser até o resultado da crise. Acho que as pessoas
têm interesse de mostrar seu
produto, em interagir com seu
cliente, tem várias leituras. Teremos também pequenos expositores. Mas não vamos nos
ater a números exatos. O importante é que tenham 700 expositores, que seja 650, 750,
não tem problema.
FOLHA - Ainda sobre crise, é possível alcançar a projeção feita pela
Abimaq de R$ 870 mi de faturamento, 8,7% a mais que ano passado?
SILVA - Tenho projeções mais
modestas, até porque não estou
correndo o campeonato da
Fórmula 1. Se for esse número
vai ser ótimo, agora, pode cair.
Estamos vivendo a maior crise
dos tempos contemporâneos.
Mas, ao mesmo tempo, a crise
não atingiu o setor rural como
um todo. Atingiu fortemente o
setor sucroalcooleiro, mas ainda não atingiu enormemente as
áreas de pecuária, de grãos. O
que é terrível na crise é no setor
sucroalcooleiro.
FOLHA - Onde sofre o setor?
SILVA - O setor sucroalcooleiro
sofre pela falta de crédito, porque o setor recebia altos investimentos. Era muito raro, ou
quase impossível, que nós tivéssemos aí alguma usina que
estivesse estabilizada. A maioria está no processo de ampliação, porque tinha uma expectativa de venda e exportação de
álcool. E, para nós exportarmos
o etanol, precisávamos de volume, de massa crítica. Então, o
Brasil estava todo alavancado.
FOLHA - E o que mudou?
SILVA - O setor sucroalcooleiro
era devedor e perdeu o crédito
de um dia para outro, então
tem dificuldades imensas. A safra de cana será uma safra com
dificuldades de recebimento da
cana pelos produtores, porque
as usinas estão sem capital de
giro e não têm garantias para
entregar aos bancos para receber esse capital de giro. Portanto, o setor sucroalcooleiro está
muito atingido, tem uma série
de indústrias que tiveram o início postergado, indústrias que
estavam ampliando seus canaviais falam em reduzir. Infelizmente, é um setor que vai atravessar uma crise muito grande.
FOLHA - O senhor falou em crise do
etanol e é pecuarista e produtor de
grãos. A Agrishow neste ano pode se
voltar mais a outros setores?
SILVA - Acho que não. Pode reduzir um pouco nossos expositores de etanol, provavelmente
o setor sucroalcooleiro vai vender um pouco menos. Grão, por
enquanto, está indo bem, com
resultado positivo na lavoura.
Agora, eu percebo que, financeiramente, a feira pode se
manter no nível do ano passado. No meu entendimento, a
Agrishow é uma feira brasileira
que promove a tecnologia. O
que eu me preocupo com a
Agrishow é que a gente tenha
este ano visitantes nos mesmos
níveis que tivemos. Isso não é
um balcão de negócios, é um
balcão de tecnologia. Foi fundada há 15 anos dentro do
maior espírito de apresentação
das tecnologias.
FOLHA - A Anfavea, representante
das fábricas de tratores, disse que as
maiores empresas não irão participar neste ano. Como contornará?
SILVA - A primeira coisa que estou fazendo é agendando conversa com os tratores. Não vou
obrigar ninguém, mas vou procurar sinergia de todos. As fábricas de tratores estão na
Agrishow há 15 anos, pode ter
havido algum mal entendido.
FOLHA - O senhor disse que a feira é
brasileira. Ela não é ribeirão-pretana, como diz a prefeita de Ribeirão?
SILVA - De jeito nenhum. Temos que ter entendimento do
país. O bife é brasileiro, não é
do Sul ou do Mato Grosso. E, se
conseguirmos vender o Brazilian Beef lá fora, é uma conquista de todos. Então, a feira está
sendo feita em Ribeirão Preto,
no Estado de São Paulo, mas ela
é uma feira brasileira e temos
que levar essa feira a ser a
maior mostra da América Latina. Acho que a prefeita tem todo o direito de defender que a
Agrishow seja feita em Ribeirão, ela tem que lutar muito por
isso. No meu entendimento, é
justificável, mas a feira não é de
Ribeirão. Ribeirão não tem capacidade de consumir as coisas
da feira. É um ponto de encontro do Brasil em Ribeirão.
FOLHA - Em 2010, a Agrishow vai
mesmo para São Carlos?
SILVA - Estou chegando agora,
as primeiras informações que
tenho é de que a feira iria para
São Carlos. Antes de ser presidente na Agrishow, eu disse: Se
a sociedade de Ribeirão tem interesse na Agrishow, ela deve
lutar. Vamos fazer a Agrishow
2009 aí em Ribeirão. E, depois,
vamos pensar em 2010. Ribeirão tem que dar mostras da sua
competência. Se você faz uma
megafeira, fica difícil tirar de lá.
FOLHA - E Ribeirão não fez?
SILVA - Acho que teve falhas
para trás, mas não é de uma
pessoa só. Costumamos dizer
que falhas são produtos do extraordinário crescimento da
agricultura brasileira, nós crescemos tanto que tudo da agricultura ficou pequeno. A feira
ficou pequena, assim como o
Porto de Santos, de Paranaguá,
para escoar a produção. O erro
não foi de uma pessoa só.
FOLHA - Quando o senhor diz uma
pessoa só, se refere ao ex-prefeito
Welson Gasparini (PSDB), como chegou a ser dito pelo presidente da
Abimaq, Luiz Aubert Neto?
SILVA - Não, de forma alguma.
Se você pegar no início da gestão, quando o deputado federal
Antônio Duarte Nogueira
[PSDB] era secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, ele atendeu o apelo de
aumentar o arrendamento da
área, que pertence ao Estado,
de um para cinco anos. Quem
pediu foi a Abimaq, mas isso
cinco anos atrás. Todos esses
problemas são também das
pessoas, das associações comercial, rural, dos políticos.
FOLHA - Onde houve falhas?
SILVA - Não é falha, é ansiedade
de fazer uma feira melhor. O
que ocorreu é que no ano passado resolveu-se fazer investimentos maiores na feira. E,
quando foram buscar os investimentos, as pessoas quiseram
fazer arrendamentos por um
prazo muito longo. E lá [Ribeirão] é área pública, de pesquisa,
e o Estado tem legislação que
dificulta a cessão da área por
mais de cinco anos. Mas isso é
um ponto que pode conversado
e ser vencido.
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