Ribeirão Preto, Domingo, 08 de Março de 2009

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Agrishow é do país, não de Ribeirão, diz novo presidente

Fala de Cesário Ramalho da Silva vai na contramão do apregoado pela prefeita Dárcy

Segundo ele, feira de 2010 será pensada após o evento deste ano; "Se você faz uma megafeira, fica difícil tirar a feira daí", afirma

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

O novo presidente da Agrishow, o pecuarista e produtor de grãos Cesário Ramalho da Silva, 64, afirmou à Folha que a feira não é de Ribeirão Preto, mas do Brasil. Ele segue discurso contrário ao da prefeita de Ribeirão, Dárcy Vera (DEM), líder do movimento "Fica, Agrishow". A partir do ano que vem, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) será realizada em São Carlos, de acordo com a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), principal organizadora do evento. O pecuarista irá acumular a coordenação da feira com o cargo de presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), assumido em março do ano passado. Para Silva, o país "vive a maior crise dos tempos contemporâneos", que na agricultura teve o setor sucroalcooleiro como maior vítima. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - A Agrishow promete reunir neste ano 770 expositores, 70 a mais que 2008. É possível crescer em meio à crise?
CESÁRIO RAMALHO DA SILVA
- Acho que isso pode ser até o resultado da crise. Acho que as pessoas têm interesse de mostrar seu produto, em interagir com seu cliente, tem várias leituras. Teremos também pequenos expositores. Mas não vamos nos ater a números exatos. O importante é que tenham 700 expositores, que seja 650, 750, não tem problema.

FOLHA - Ainda sobre crise, é possível alcançar a projeção feita pela Abimaq de R$ 870 mi de faturamento, 8,7% a mais que ano passado?
SILVA
- Tenho projeções mais modestas, até porque não estou correndo o campeonato da Fórmula 1. Se for esse número vai ser ótimo, agora, pode cair. Estamos vivendo a maior crise dos tempos contemporâneos. Mas, ao mesmo tempo, a crise não atingiu o setor rural como um todo. Atingiu fortemente o setor sucroalcooleiro, mas ainda não atingiu enormemente as áreas de pecuária, de grãos. O que é terrível na crise é no setor sucroalcooleiro.

FOLHA - Onde sofre o setor?
SILVA
- O setor sucroalcooleiro sofre pela falta de crédito, porque o setor recebia altos investimentos. Era muito raro, ou quase impossível, que nós tivéssemos aí alguma usina que estivesse estabilizada. A maioria está no processo de ampliação, porque tinha uma expectativa de venda e exportação de álcool. E, para nós exportarmos o etanol, precisávamos de volume, de massa crítica. Então, o Brasil estava todo alavancado.

FOLHA - E o que mudou?
SILVA
- O setor sucroalcooleiro era devedor e perdeu o crédito de um dia para outro, então tem dificuldades imensas. A safra de cana será uma safra com dificuldades de recebimento da cana pelos produtores, porque as usinas estão sem capital de giro e não têm garantias para entregar aos bancos para receber esse capital de giro. Portanto, o setor sucroalcooleiro está muito atingido, tem uma série de indústrias que tiveram o início postergado, indústrias que estavam ampliando seus canaviais falam em reduzir. Infelizmente, é um setor que vai atravessar uma crise muito grande.

FOLHA - O senhor falou em crise do etanol e é pecuarista e produtor de grãos. A Agrishow neste ano pode se voltar mais a outros setores?
SILVA
- Acho que não. Pode reduzir um pouco nossos expositores de etanol, provavelmente o setor sucroalcooleiro vai vender um pouco menos. Grão, por enquanto, está indo bem, com resultado positivo na lavoura. Agora, eu percebo que, financeiramente, a feira pode se manter no nível do ano passado. No meu entendimento, a Agrishow é uma feira brasileira que promove a tecnologia. O que eu me preocupo com a Agrishow é que a gente tenha este ano visitantes nos mesmos níveis que tivemos. Isso não é um balcão de negócios, é um balcão de tecnologia. Foi fundada há 15 anos dentro do maior espírito de apresentação das tecnologias.

FOLHA - A Anfavea, representante das fábricas de tratores, disse que as maiores empresas não irão participar neste ano. Como contornará?
SILVA
- A primeira coisa que estou fazendo é agendando conversa com os tratores. Não vou obrigar ninguém, mas vou procurar sinergia de todos. As fábricas de tratores estão na Agrishow há 15 anos, pode ter havido algum mal entendido.

FOLHA - O senhor disse que a feira é brasileira. Ela não é ribeirão-pretana, como diz a prefeita de Ribeirão?
SILVA
- De jeito nenhum. Temos que ter entendimento do país. O bife é brasileiro, não é do Sul ou do Mato Grosso. E, se conseguirmos vender o Brazilian Beef lá fora, é uma conquista de todos. Então, a feira está sendo feita em Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, mas ela é uma feira brasileira e temos que levar essa feira a ser a maior mostra da América Latina. Acho que a prefeita tem todo o direito de defender que a Agrishow seja feita em Ribeirão, ela tem que lutar muito por isso. No meu entendimento, é justificável, mas a feira não é de Ribeirão. Ribeirão não tem capacidade de consumir as coisas da feira. É um ponto de encontro do Brasil em Ribeirão.

FOLHA - Em 2010, a Agrishow vai mesmo para São Carlos?
SILVA
- Estou chegando agora, as primeiras informações que tenho é de que a feira iria para São Carlos. Antes de ser presidente na Agrishow, eu disse: Se a sociedade de Ribeirão tem interesse na Agrishow, ela deve lutar. Vamos fazer a Agrishow 2009 aí em Ribeirão. E, depois, vamos pensar em 2010. Ribeirão tem que dar mostras da sua competência. Se você faz uma megafeira, fica difícil tirar de lá.

FOLHA - E Ribeirão não fez?
SILVA
- Acho que teve falhas para trás, mas não é de uma pessoa só. Costumamos dizer que falhas são produtos do extraordinário crescimento da agricultura brasileira, nós crescemos tanto que tudo da agricultura ficou pequeno. A feira ficou pequena, assim como o Porto de Santos, de Paranaguá, para escoar a produção. O erro não foi de uma pessoa só.

FOLHA - Quando o senhor diz uma pessoa só, se refere ao ex-prefeito Welson Gasparini (PSDB), como chegou a ser dito pelo presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto?
SILVA
- Não, de forma alguma. Se você pegar no início da gestão, quando o deputado federal Antônio Duarte Nogueira [PSDB] era secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, ele atendeu o apelo de aumentar o arrendamento da área, que pertence ao Estado, de um para cinco anos. Quem pediu foi a Abimaq, mas isso cinco anos atrás. Todos esses problemas são também das pessoas, das associações comercial, rural, dos políticos.

FOLHA - Onde houve falhas?
SILVA
- Não é falha, é ansiedade de fazer uma feira melhor. O que ocorreu é que no ano passado resolveu-se fazer investimentos maiores na feira. E, quando foram buscar os investimentos, as pessoas quiseram fazer arrendamentos por um prazo muito longo. E lá [Ribeirão] é área pública, de pesquisa, e o Estado tem legislação que dificulta a cessão da área por mais de cinco anos. Mas isso é um ponto que pode conversado e ser vencido.


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