Ribeirão Preto, Domingo, 08 de Agosto de 2010

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Idosos em asilos recebem mais visitas

Perfil atual dos moradores de lares em Ribeirão inclui quem escolheu deixar a família para viver em instituição

Apesar dos avanços do Estatuto do Idoso, 52% das denúncias apontam negligência e abandono a pessoas mais velhas

ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

O perfil dos idosos que vivem em abrigos em Ribeirão Preto não é mais majoritariamente de homens e mulheres esquecidos pelas famílias. Hoje, eles têm mais contatos com parentes e em alguns casos até escolhem morar em um lar do gênero.
Isso graças ao Estatuto do Idoso, que desde 2003 responsabiliza prioritariamente a família em casos maus-tratos, segundo profissionais ouvidos pela Folha que atendem a esse público.
Essa pode ser uma boa notícia para o Dia dos Pais, mas ela chega acompanhada de um alerta. Dados da Coordenadoria do Idoso mostram que, fora de instituições, o abandono e a negligência ainda são as principais formas de violência.
De acordo com a assistente social do Lar Padre Euclides, Paula Campos, antes era comum filhos deixarem os pais "jogados" em asilos, sem nunca visitar ou dar qualquer atenção.
Ela lembra que, em 1996, um idoso foi internado na Santa Casa por familiares que logo depois saíram para "comprar cigarro ou coisa do tipo" e nunca mais apareceram. Dias depois, o homem foi levado por policiais militares até o abrigo.
"Esse idoso viveu aqui [no lar] durante alguns anos, morreu e a família nem foi responsabilizada", conta Campos. "Agora é diferente. A maioria recebe visitas. Até porque abandonar é crime, pelo estatuto", diz.
O Padre Euclides abriga hoje 62 idosos -26 são homens. Entre eles está o aposentado João Casoli, 79, que mantém contato com a mulher e os filhos, mas se mudou para o lar por conta própria (leia texto acima).
No Lar Vicentino, com 24 idosos, o atendimento é prioritariamente para as pessoas carentes e sem filhos. O Estatuto do Idoso também trouxe avanços para instituições com esse perfil.
"Agora temos argumento legal para não acolher aqueles que os filhos querem deixar. Quem tem de cuidar primeiro é a família", afirma o presidente do lar, Orestes Antonio Iani.
A Sociedade Espírita 5 de Setembro mantém idosos em dois locais. Na Casa do Vovô, assistencial, estão 80 abrigados, que ganham até um salário mínimo -o lar fica com 70% do valor. Na Casa da Amizade, particular, 50 idosos pagam até R$ 1.900 para a permanência no espaço.
A assistente social da entidade, Regina Nomura, diz que em muitos casos a opção por instituições ocorre por conta do ritmo da vida moderna, não necessariamente por desprezo.
Há 48 lares em Ribeirão -seis filantrópicos-, e boa parte com necessidade de regularização. A Coordenadoria do Idoso estima que as entidades atendam entre 500 e 650 pessoas.
Mesmo com os avanços, a coordenadora do órgão, Dulce Sakamoto, diz que, "infelizmente, a lei não obriga ninguém a dar carinho." Neste ano, 52% das denúncias foram de abandono ou negligência (veja quadro ao lado).


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