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Idosos em asilos recebem mais visitas
Perfil atual dos moradores de lares em Ribeirão inclui quem escolheu deixar a família para viver em instituição
Apesar dos avanços do Estatuto do Idoso, 52% das denúncias apontam negligência e abandono a pessoas mais velhas
ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO
O perfil dos idosos que vivem em abrigos em Ribeirão
Preto não é mais majoritariamente de homens e mulheres
esquecidos pelas famílias.
Hoje, eles têm mais contatos
com parentes e em alguns casos até escolhem morar em
um lar do gênero.
Isso graças ao Estatuto do
Idoso, que desde 2003 responsabiliza prioritariamente
a família em casos maus-tratos, segundo profissionais
ouvidos pela Folha que atendem a esse público.
Essa pode ser uma boa notícia para o Dia dos Pais, mas
ela chega acompanhada de
um alerta. Dados da Coordenadoria do Idoso mostram
que, fora de instituições, o
abandono e a negligência
ainda são as principais formas de violência.
De acordo com a assistente
social do Lar Padre Euclides,
Paula Campos, antes era comum filhos deixarem os pais
"jogados" em asilos, sem
nunca visitar ou dar qualquer atenção.
Ela lembra que, em 1996,
um idoso foi internado na
Santa Casa por familiares
que logo depois saíram para
"comprar cigarro ou coisa do
tipo" e nunca mais apareceram. Dias depois, o homem
foi levado por policiais militares até o abrigo.
"Esse idoso viveu aqui [no
lar] durante alguns anos,
morreu e a família nem foi
responsabilizada", conta
Campos. "Agora é diferente.
A maioria recebe visitas. Até
porque abandonar é crime,
pelo estatuto", diz.
O Padre Euclides abriga
hoje 62 idosos -26 são homens. Entre eles está o aposentado João Casoli, 79, que
mantém contato com a mulher e os filhos, mas se mudou para o lar por conta própria (leia texto acima).
No Lar Vicentino, com 24
idosos, o atendimento é prioritariamente para as pessoas
carentes e sem filhos. O Estatuto do Idoso também trouxe
avanços para instituições
com esse perfil.
"Agora temos argumento
legal para não acolher aqueles que os filhos querem deixar. Quem tem de cuidar primeiro é a família", afirma o
presidente do lar, Orestes
Antonio Iani.
A Sociedade Espírita 5 de
Setembro mantém idosos em
dois locais. Na Casa do Vovô,
assistencial, estão 80 abrigados, que ganham até um salário mínimo -o lar fica com
70% do valor. Na Casa da
Amizade, particular, 50 idosos pagam até R$ 1.900 para
a permanência no espaço.
A assistente social da entidade, Regina Nomura, diz
que em muitos casos a opção
por instituições ocorre por
conta do ritmo da vida moderna, não necessariamente
por desprezo.
Há 48 lares em Ribeirão
-seis filantrópicos-, e boa
parte com necessidade de regularização. A Coordenadoria do Idoso estima que as entidades atendam entre 500 e
650 pessoas.
Mesmo com os avanços, a
coordenadora do órgão, Dulce Sakamoto, diz que, "infelizmente, a lei não obriga
ninguém a dar carinho." Neste ano, 52% das denúncias
foram de abandono ou negligência (veja quadro ao lado).
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