Sala da cervejaria, desativada em 2003, "escondia" projetos do "Novo Politeama", do Cassino Antarctica e do Palace Hotel

O achado vai ajudar pesquisadores a desvendar como era o cotidiano de Ribeirão nas primeiras décadas do século passado

Fotos Silva Junior/Folha Imagem

Cláudio Bauso, arquiteto, observa planta com as alunas Lesliene de Oliveira e Ligia Hernandes

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um teatro em estilo eclético poderia ter ocupado, nos primeiros anos do século 20, uma das quatro esquinas do cruzamento das ruas Álvares Cabral e Américo Brasiliense, no centro histórico de Ribeirão Preto. É o que revelam plantas arquitetônicas descobertas em salas fechadas da antiga cervejaria Antarctica, na Vila Tibério, desativada em 2003.
As plantas do "Novo Politeama" são apenas parte de um achado ainda inexplorado, que inclui cerca de mil desenhos, entre plantas arquitetônicas, de engenharia, elétrica e hidráulica, além de desenhos técnicos de equipamentos da antiga fábrica. Os prédios da indústria passam por reforma e serão transformados em centro comercial até 2011.
Parte dos documentos, como as plantas do "Novo Politeama", desenhadas há cem anos, estão em excelente estado de conservação. Outra parte, encontrada em poças d'água, pode ter sido danificada irreversivelmente. Nada foi quantificado com exatidão.
Segundo o arquiteto Cláudio Bauso, a quem foi confiada a guarda dos documentos, o material pode trazer informações inéditas sobre o passado de Ribeirão. A planta do teatro, por exemplo, tem um carimbo da Companhia Antarctica Paulista. Nele, foi escrita a lápis a data de 20 de agosto de 1904, ou 1909. A dúvida ocorre por causa da caligrafia rebuscada de quem datou o documento.
O surpreendente, no caso, é o fato de só haver no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão registro da compra de terrenos para a instalação da fábrica em Ribeirão a partir de 1909. A fábrica foi inaugurada em 1911.
Se a Antarctica tinha planos de erguer um teatro na cidade dois ou sete anos antes de concretizar sua principal empreitada, ainda é mistério. "Esse material está fazendo a gente questionar um monte de informações que tínhamos. E aí está a riqueza dele. Seja [o ano de] 1904 ou 1909, são cem anos de história da cidade que precisamos desvendar", disse Bauso.
Outras plantas encontradas comprovam, por exemplo, que o projeto original do Palace Hotel, no Quarteirão Paulista, sofreu reformas, o que até a descoberta dos documentos os pesquisadores só sabiam por depoimentos, segundo Bauso. Outra revelação é o fato de o edifício Meira Júnior, também no Quarteirão, onde funciona a unidade 2 da choperia Pinguim, ter sofrido reformas.
Alguns desenhos descobertos trazem informações detalhadas, como a planta do Cassino Antarctica -desativado em 1948-, que aponta a exata quantidade de lugares em cada um dos seus setores -eram 1.218 no total. A sala principal do Theatro Pedro 2º tem atualmente 1.588 cadeiras.
"A hora em que a gente consegue identificar quantas pessoas comportava determinado teatro vemos como a cidade tinha uma vida cultural agitada", afirmou a historiadora Tânia Registro, do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão.


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