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Com supersafra, usina quer queimar cana em janeiro
Pela 1ª vez, companhias do setor sucroalcooleiro vão adotar esse tipo de medida
Só nos canaviais da região, deve haver sobra de 11,16 milhões de toneladas de cana para a próxima safra; no Estado, são 30 milhões
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
A supersafra de cana-de-açúcar verificada este ano na região de Ribeirão Preto e em todo o Estado está fazendo com
que, pela primeira vez, usinas
de açúcar e álcool peçam autorização à Secretaria de Estado
do Meio Ambiente para queimar canaviais em janeiro.
O mês, que tradicionalmente
é marcado pela ocorrência de
chuvas e, portanto, tido como
inviável para a colheita mecanizada, é visto por algumas usinas
como a possibilidade de reduzir
a sobra de cana para a próxima
safra e de fazer caixa num momento em que a economia sente a falta de crédito.
Das 33 usinas ligadas à Unica
(União da Indústria da Cana-de-Açúcar) na região de Ribeirão Preto, 17 -ou 51,51% do total- vão avançar com as suas
safras em dezembro e, dessas,
nove vão moer cana às vésperas
do Natal, entre os dias 15 e 22.
No ano passado, como comparação, apenas duas usinas
moeram depois do dia 15 de dezembro -ente oito que iniciaram o mês em atividade.
A última usina a terminar a
safra este ano deve ser a Bonfim, do grupo Cosan, que fica
no município de Guariba. "Há
muitas usinas pedindo autorização para queimar em janeiro.
São muitas, o que é sinal de que
estão precisando trabalhar para fazer frente aos seus compromissos", afirmou o secretário de Estado da Agricultura,
João Sampaio.
Um outro indicativo do prolongamento inédito dos trabalhos é que menos usinas terminaram a safra até agora. Em 15
de novembro do ano passado,
47 usinas já tinham terminado
a safra no país, sendo 14 no Estado de São Paulo. Neste ano,
até a mesma data, somente 14
companhias tinham concluído
a moagem, sendo duas delas no
Estado -ambas da região: a São
Francisco e a Jardest.
"É a primeira vez que ocorre
isso. Há mais oferta de matéria-prima e um mercado aquecido.
As usinas avaliaram se vale a
pena ou não [prolongar a safra],
dentro da oferta que têm", afirmou Sérgio Prado, diretor da
Unica em Ribeirão Preto. Além
disso, problemas climáticos
atrapalharam o início da safra,
na avaliação do setor (leia texto
nesta página).
Só nos canaviais da macrorregião de Ribeirão, deve haver
sobra de 11,16 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para a
próxima safra -37,21% dos 30
milhões previstos para sobrar
no Estado, de acordo com a Secretaria da Agricultura. No
país, a previsão é que a supersafra gere uma sobra de 40 milhões de toneladas, segundo a
consultoria Datagro.
"É sinal de que há muita cana
plantada. Com os projetos de
novas usinas sendo adiados e
essa escassez de crédito, algumas usinas vão continuar trabalhando justamente para fazer caixa. O problema é crédito,
que não está sendo reposto",
disse Sampaio, que afirmou
que uma propriedade de sua família, no norte do Estado do
Paraná, ficará com cana aguardando a próxima safra.
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