Ribeirão Preto, Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Com supersafra, usina quer queimar cana em janeiro

Pela 1ª vez, companhias do setor sucroalcooleiro vão adotar esse tipo de medida

Só nos canaviais da região, deve haver sobra de 11,16 milhões de toneladas de cana para a próxima safra; no Estado, são 30 milhões

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

A supersafra de cana-de-açúcar verificada este ano na região de Ribeirão Preto e em todo o Estado está fazendo com que, pela primeira vez, usinas de açúcar e álcool peçam autorização à Secretaria de Estado do Meio Ambiente para queimar canaviais em janeiro.
O mês, que tradicionalmente é marcado pela ocorrência de chuvas e, portanto, tido como inviável para a colheita mecanizada, é visto por algumas usinas como a possibilidade de reduzir a sobra de cana para a próxima safra e de fazer caixa num momento em que a economia sente a falta de crédito.
Das 33 usinas ligadas à Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) na região de Ribeirão Preto, 17 -ou 51,51% do total- vão avançar com as suas safras em dezembro e, dessas, nove vão moer cana às vésperas do Natal, entre os dias 15 e 22.
No ano passado, como comparação, apenas duas usinas moeram depois do dia 15 de dezembro -ente oito que iniciaram o mês em atividade.
A última usina a terminar a safra este ano deve ser a Bonfim, do grupo Cosan, que fica no município de Guariba. "Há muitas usinas pedindo autorização para queimar em janeiro. São muitas, o que é sinal de que estão precisando trabalhar para fazer frente aos seus compromissos", afirmou o secretário de Estado da Agricultura, João Sampaio.
Um outro indicativo do prolongamento inédito dos trabalhos é que menos usinas terminaram a safra até agora. Em 15 de novembro do ano passado, 47 usinas já tinham terminado a safra no país, sendo 14 no Estado de São Paulo. Neste ano, até a mesma data, somente 14 companhias tinham concluído a moagem, sendo duas delas no Estado -ambas da região: a São Francisco e a Jardest.
"É a primeira vez que ocorre isso. Há mais oferta de matéria-prima e um mercado aquecido. As usinas avaliaram se vale a pena ou não [prolongar a safra], dentro da oferta que têm", afirmou Sérgio Prado, diretor da Unica em Ribeirão Preto. Além disso, problemas climáticos atrapalharam o início da safra, na avaliação do setor (leia texto nesta página).
Só nos canaviais da macrorregião de Ribeirão, deve haver sobra de 11,16 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para a próxima safra -37,21% dos 30 milhões previstos para sobrar no Estado, de acordo com a Secretaria da Agricultura. No país, a previsão é que a supersafra gere uma sobra de 40 milhões de toneladas, segundo a consultoria Datagro.
"É sinal de que há muita cana plantada. Com os projetos de novas usinas sendo adiados e essa escassez de crédito, algumas usinas vão continuar trabalhando justamente para fazer caixa. O problema é crédito, que não está sendo reposto", disse Sampaio, que afirmou que uma propriedade de sua família, no norte do Estado do Paraná, ficará com cana aguardando a próxima safra.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.