Ribeirão Preto, Domingo, 09 de Novembro de 2008

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Negros usam mais serviço público, diz mapeamento

Pesquisa da Prefeitura de Araraquara mapeou usuários entre 2007 e 2008

Objetivo do município é embasar a aplicação de políticas públicas; Edinho Silva (PT) diz que houve aumento de consciência

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Pessoas que utilizam a rede de saúde ou que adquirem o passe gratuito de ônibus. A Prefeitura de Araraquara sabe, agora, quantas pessoas da população atendida são brancas ou negras. E a maioria é negra.
Essa é uma das principais conclusões do mapeamento inédito feito pela prefeitura das pessoas atendidas na rede municipal. Os dados são referentes a 2007 e a 2008 em seis setores: habitação, saúde, inclusão social, Guarda Civil Municipal, transporte coletivo e Orçamento Participativo.
Elas foram identificadas em sua etnia a partir da ficha de atendimento preenchida, que pede como a pessoa se define racialmente. A inclusão do chamado "quesito cor" é uma exigência prevista em lei municipal de 2007. Na maior parte dos órgãos, a maioria atendida se definiu como negro.
É o caso do atendimento de DST/Aids na rede de saúde: de 1.493 atendidos, 702 são negros. Na CTA (Companhia Tróleibus Araraquara), dos 1.492 usuários que têm passe gratuito (estudantes, idosos, deficientes e pobres), 850 são negros. Eles são maioria também entre os que integraram o Orçamento Participativo: de 2.040, 1.500 são negros.
Segundo o coordenador da Aepir (Assessoria Especial de Promoção da Igualdade Racial) da prefeitura, Washington Andrade, o objetivo é nortear políticas direcionadas à população negra. É o caso da saúde. Doenças como anemia falciforme e hipertensão incidem mais sobre a população negra; já talassemia predomina entre brancos. "Sem saber qual a quantidade de negros e onde se concentram, não é possível traçar políticas públicas específicas."
Para o prefeito Edinho Silva (PT), os dados também refletiram um processo de conscientização das pessoas sobre sua cor. "O fato de se identificarem como negras é de certa forma uma quebra de preconceito." Na sua opinião, a prefeitura buscou contribuir para esse processo criando espaços para valorização da cultura negra, como o Centro de Referência Afro, criado em 2006 em parceria com a Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Há mais pessoas que se identificaram como preto ou pardo nos últimos anos no Brasil, na comparação dos censos de 1991 e 2000 do IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística). Em Araraquara, não foi diferente: passou de 17,67% da população para 18,66% quem se identifica como negro. Por outro lado, caiu o número dos que se declararam brancos -de 81,44% para 79,94%.
Na opinião do antropólogo Dagoberto José Fonseca, da Unesp de Araraquara, os números levam à conclusão de que os negros são justamente os mais pobres e que mais dependem dos serviços públicos.
"A população negra está na periferia da cidade. O dado cor nos revela onde estão as prioridades para criar políticas públicas para combater a pobreza, que atinge mais o negro."


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