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Negros usam mais serviço público, diz mapeamento
Pesquisa da Prefeitura de Araraquara mapeou usuários entre 2007 e 2008
Objetivo do município é embasar a aplicação de políticas públicas; Edinho Silva (PT) diz que houve aumento de consciência
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Pessoas que utilizam a rede
de saúde ou que adquirem o
passe gratuito de ônibus. A Prefeitura de Araraquara sabe,
agora, quantas pessoas da população atendida são brancas
ou negras. E a maioria é negra.
Essa é uma das principais
conclusões do mapeamento
inédito feito pela prefeitura das
pessoas atendidas na rede municipal. Os dados são referentes
a 2007 e a 2008 em seis setores:
habitação, saúde, inclusão social, Guarda Civil Municipal,
transporte coletivo e Orçamento Participativo.
Elas foram identificadas em
sua etnia a partir da ficha de
atendimento preenchida, que
pede como a pessoa se define
racialmente. A inclusão do chamado "quesito cor" é uma exigência prevista em lei municipal de 2007. Na maior parte dos
órgãos, a maioria atendida se
definiu como negro.
É o caso do atendimento de
DST/Aids na rede de saúde: de
1.493 atendidos, 702 são negros. Na CTA (Companhia Tróleibus Araraquara), dos 1.492
usuários que têm passe gratuito (estudantes, idosos, deficientes e pobres), 850 são negros. Eles são maioria também
entre os que integraram o Orçamento Participativo: de
2.040, 1.500 são negros.
Segundo o coordenador da
Aepir (Assessoria Especial de
Promoção da Igualdade Racial)
da prefeitura, Washington Andrade, o objetivo é nortear políticas direcionadas à população
negra. É o caso da saúde. Doenças como anemia falciforme e
hipertensão incidem mais sobre a população negra; já talassemia predomina entre brancos. "Sem saber qual a quantidade de negros e onde se concentram, não é possível traçar
políticas públicas específicas."
Para o prefeito Edinho Silva
(PT), os dados também refletiram um processo de conscientização das pessoas sobre sua
cor. "O fato de se identificarem
como negras é de certa forma
uma quebra de preconceito."
Na sua opinião, a prefeitura
buscou contribuir para esse
processo criando espaços para
valorização da cultura negra,
como o Centro de Referência
Afro, criado em 2006 em parceria com a Unesp (Universidade
Estadual Paulista).
Há mais pessoas que se identificaram como preto ou pardo
nos últimos anos no Brasil, na
comparação dos censos de 1991
e 2000 do IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística). Em Araraquara, não foi diferente: passou de 17,67% da
população para 18,66% quem
se identifica como negro. Por
outro lado, caiu o número dos
que se declararam brancos -de
81,44% para 79,94%.
Na opinião do antropólogo
Dagoberto José Fonseca, da
Unesp de Araraquara, os números levam à conclusão de
que os negros são justamente
os mais pobres e que mais dependem dos serviços públicos.
"A população negra está na
periferia da cidade. O dado cor
nos revela onde estão as prioridades para criar políticas públicas para combater a pobreza,
que atinge mais o negro."
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