Ribeirão Preto, Domingo, 10 de Janeiro de 2010

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Banalidade desencadeia violência entre estudantes

Mapeamento feito pela Folha revela 58 brigas entre alunos, professores e diretores

No levantamento realizado, a maioria dos casos registrados está ligada a agressões entre os próprios estudantes

Edson Silva/Folha Imagem
Vitor (nome fictício) mostra ferimento causado em agressão

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Foram necessárias três semanas para sumir os hematomas no braço da professora Patrícia (nomes fictícios), 41, agredida com uma cadeira por uma aluna. O cabelo crescido de Pedro, 17, já escondeu a cicatriz da pedrada levada na porta da escola. O vice-diretor Hugo, 44, não traz mais as marcas do soco na boca e do chute nas costas que levou de um estudante.
As marcas físicas já desapareceram, mas permanece na memória e nos registros policiais um número cada vez mais comum de casos de violência escolar em Ribeirão Preto.
Ao longo do último mês de novembro, a Folha conseguiu levantar um total de 58 registros policiais de diferentes formas de violência, sendo que a maior parte ocorreu em escolas municipais e estaduais desde março do ano passado.
São xingamentos, ameaças de morte e agressões físicas.
Além de atos de violência envolvendo os alunos, os registros também mostram casos que tratam de dano ao patrimônio, como carros de professores, depredação da escola, roubos e alguns furtos.
Os casos analisados pela Folha, porém, apontam para parte do problema. Foram situações que extrapolaram os muros da escola e se tornaram uma denúncia pública. Segundo especialistas, as ameaças e agressões são mais numerosas, mas a maior parte dos casos não chega a se transformar em um boletim de ocorrência.
No mapeamento feito pela Folha, a maioria dos registros (32 casos) refere-se a agressões entre os próprios alunos dentro da sala de aula, no recreio e mesmo na saída da escola. Em alguns casos, os autores da violência usaram pedaços de pau, facas e pedras.
Vitor, 15, ainda traz no cérebro parte da lâmina da faca com que foi agredido dentro da classe, em uma escola estadual. Passou dois dias em recuperação na Santa Casa e o médico orientou que era melhor não retirar o pedaço da faca. "A escola hoje deixa muito a desejar. Quando eu estudava, tinha prazer em ir para a escola. Hoje, quando os acordo de manhã, eles não querem levantar", disse a mãe do menino.
Em comum nos casos, estão motivos fúteis que desencadearam a violência entre os jovens: uma discussão por jogo de futebol, desavenças trazidas da rua e ciúmes.
Os dados revelam ser banais também as razões de agressão a professores e diretores -foram 17 boletins de ocorrência analisados. Em geral, elas ocorrem porque o professor chamou a atenção do aluno e o mandou para a diretoria.
Patrícia é uma dessas vítimas. Ela ficou com o braço machucado depois que tentou impedir que uma aluna jogasse uma cadeira no colega. "Na hora não doeu, mas no outro dia não conseguia levantar o braço, de tanta dor", disse.
Um outro tipo de violência também se mostra de forma sutil: a institucional. Os registros mostram frases agressivas, que reforçam estigmas, proferidas por docentes e diretores.
Também estão inseridas nesse grupo abordagens policiais, com revista pessoal de garotos na porta da escola.
"Está em prática uma educação ainda muito violenta, que deprecia o aluno e o coloca como problema, o que acaba por gerar mais violência", disse a socióloga Caren Ruotti, pesquisadora do NEV (Núcleo de Estudos de Violência) da USP (Universidade de São Paulo).


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