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Banalidade desencadeia violência entre estudantes
Mapeamento feito pela Folha revela 58 brigas entre alunos, professores e diretores
No levantamento realizado, a maioria dos casos registrados está ligada a agressões entre os próprios estudantes
Edson Silva/Folha Imagem
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Vitor (nome fictício) mostra ferimento causado em agressão
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Foram necessárias três semanas para sumir os hematomas no braço da professora Patrícia (nomes fictícios), 41,
agredida com uma cadeira por
uma aluna. O cabelo crescido
de Pedro, 17, já escondeu a cicatriz da pedrada levada na porta
da escola. O vice-diretor Hugo,
44, não traz mais as marcas do
soco na boca e do chute nas costas que levou de um estudante.
As marcas físicas já desapareceram, mas permanece na
memória e nos registros policiais um número cada vez mais
comum de casos de violência
escolar em Ribeirão Preto.
Ao longo do último mês de
novembro, a Folha conseguiu
levantar um total de 58 registros policiais de diferentes formas de violência, sendo que a
maior parte ocorreu em escolas
municipais e estaduais desde
março do ano passado.
São xingamentos, ameaças
de morte e agressões físicas.
Além de atos de violência envolvendo os alunos, os registros também mostram casos
que tratam de dano ao patrimônio, como carros de professores, depredação da escola,
roubos e alguns furtos.
Os casos analisados pela Folha, porém, apontam para parte do problema. Foram situações que extrapolaram os muros da escola e se tornaram
uma denúncia pública. Segundo especialistas, as ameaças e
agressões são mais numerosas,
mas a maior parte dos casos
não chega a se transformar em
um boletim de ocorrência.
No mapeamento feito pela
Folha, a maioria dos registros
(32 casos) refere-se a agressões
entre os próprios alunos dentro
da sala de aula, no recreio e
mesmo na saída da escola. Em
alguns casos, os autores da violência usaram pedaços de pau,
facas e pedras.
Vitor, 15, ainda traz no cérebro parte da lâmina da faca com
que foi agredido dentro da classe, em uma escola estadual.
Passou dois dias em recuperação na Santa Casa e o médico
orientou que era melhor não
retirar o pedaço da faca. "A escola hoje deixa muito a desejar.
Quando eu estudava, tinha prazer em ir para a escola. Hoje,
quando os acordo de manhã,
eles não querem levantar", disse a mãe do menino.
Em comum nos casos, estão
motivos fúteis que desencadearam a violência entre os jovens:
uma discussão por jogo de futebol, desavenças trazidas da rua
e ciúmes.
Os dados revelam ser banais
também as razões de agressão a
professores e diretores -foram
17 boletins de ocorrência analisados. Em geral, elas ocorrem
porque o professor chamou a
atenção do aluno e o mandou
para a diretoria.
Patrícia é uma dessas vítimas. Ela ficou com o braço machucado depois que tentou impedir que uma aluna jogasse
uma cadeira no colega. "Na hora não doeu, mas no outro dia
não conseguia levantar o braço,
de tanta dor", disse.
Um outro tipo de violência
também se mostra de forma sutil: a institucional. Os registros
mostram frases agressivas, que
reforçam estigmas, proferidas
por docentes e diretores.
Também estão inseridas nesse grupo abordagens policiais,
com revista pessoal de garotos
na porta da escola.
"Está em prática uma educação ainda muito violenta, que
deprecia o aluno e o coloca como problema, o que acaba por
gerar mais violência", disse a
socióloga Caren Ruotti, pesquisadora do NEV (Núcleo de Estudos de Violência) da USP
(Universidade de São Paulo).
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