Ribeirão Preto, Domingo, 10 de Janeiro de 2010

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Violência escolar não tem registro oficial

Estado, prefeitura e Polícia Militar afirmam que não possuem um balanço sobre os casos ocorridos dentro das escolas

As instituições que representam professores e diretores apontam a falta de estrutura familiar como causa da violência

DA FOLHA RIBEIRÃO

Um diagnóstico completo da violência que acontece nas escolas de Ribeirão Preto é uma peça de ficção justamente para quem precisa traçar estratégias e solucionar o problema. O Estado, a prefeitura e a Polícia Militar afirmam não possuir um balanço oficial dos casos.
Segundo a Secretaria de Estado da Educação, pesquisas anteriores traziam dados incompletos. Em junho, a pasta implantou um banco de dados em que o diretor da escola registra conflitos na unidade.
Professores, alunos e funcionários não podem acessar o sistema -há um canal separado para eles -e a interpretação e o registro do que é violência ficam a cargo do diretor.
Por esse banco, segundo a secretaria, acontecem em média 80 casos de violência por dia nas escolas estaduais, entre as 5.400 unidades. Mas a própria pasta admite que o banco de dados ainda não é completo, porque nem todos os diretores do Estado alimentam o sistema.
Na opinião da supervisora de proteção escolar da secretaria, Bia Graeff, os casos revelam um fenômeno da sociedade. "Não acho que o que a gente vê refletido em atos de violência na escola seja diferente dos da sociedade", disse.
A secretária da Educação de Ribeirão, Débora Vendramini, afirma que são poucos os casos de violência na rede municipal. Ela mesma, porém, admite não ter feito uma estatística. Segundo a secretária, só casos mais graves geram boletins de ocorrência. A orientação da pasta é que diretores e professores tentem resolver os problemas com diálogo.
A reportagem questionou a Polícia Militar sobre boletins de ocorrência registrados em unidades escolares, mas a porta-voz tenente Lilian Caporal Nery disse que só a Secretaria de Estado da Educação é que poderia fornecer dados.
Segundo a tenente, abordagens policiais, mesmo a adolescentes em escolas, estão amparadas por lei. Nery afirmou que o efetivo tem orientação de detectar casos suspeitos que necessitam de busca pessoal.

Família
A Apeoesp e a Udemo, entidades que representam professores do Estado e diretores, respectivamente, apontam a desestruturação da família como uma das principais razões para atos de violência.
"Essas famílias mal estruturadas só correm atrás da educação do filho quando acontece algo grave", disse a presidente regional da Udemo, Suzana Ferro.
Na opinião do diretor estadual da Apeoesp, Mauro Inácio, o professor não tem preparo suficiente para lidar com crianças que trazem tantas deficiências de casa. "Mas as escolas precisariam dar respaldo a essas famílias, com psicólogos e assistentes sociais", disse.
Para a especialista em violência escolar Miriam Abramovay, além de rankings, prefeituras e Estados devem contratar instituições para fazer diagnósticos detalhados das razões de violência e, então, combatê-las.
Outra necessidade, segundo a especialista, é formar o professor nas universidades para essa nova realidade. "A escola ainda é feita para dois séculos atrás", disse.
Abramovay afirma ainda que o fenômeno da violência escolar já não tem distinção entre meninos e meninas (leia texto nesta página).
(JULIANA COISSI)


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