Ribeirão Preto, Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009

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1.500 professores "nota zero" vão dar aulas no Estado de SP

Após liminar, governo desiste de exame de seleção para docente temporário

FÁBIO TAKAHASHI
LAURA CAPRIGLIONE

DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 1.500 professores que tiraram zero em uma prova de seleção do próprio governo estadual de São Paulo poderão lecionar neste ano na rede.
A prova foi promovida pela Secretaria de Educação do governo José Serra (PSDB) com a intenção de selecionar 100 mil docentes temporários. 214 mil pessoas se candidataram.
Os 1.500 professores "nota zero" vão poder dar aulas porque uma decisão liminar (provisória) da 13ª Vara da Fazenda Pública suspendeu os resultados do exame, de 25 testes, realizado em dezembro do ano passado.
A liminar atendeu a pedido da Apeoesp (sindicato dos professores) que alegou que os docentes temporários que já trabalham na rede há muitos anos não podem ser descartados com base numa "provinha". Considera que o correto seria realizar um concurso público.
Com receio de atrasar ainda mais o início das aulas (que deveria começar amanhã, mas foi adiado para segunda-feira por conta do impasse judicial), a secretaria desistiu de tentar reverter a liminar e optou por usar o mesmo critério utilizado até o ano passado para selecionar os temporários -titulação e, principalmente, tempo de serviço.

Déficit de cargos
A rede pública utiliza 100 mil docentes temporários porque tem mais demanda por professores do que cargos públicos criados por lei. No total, as escolas necessitam de 230 mil professores, mas há apenas 130 mil concursados.
O Estado afirma que pretende aumentar este número -estuda-se a criação de 75 mil cargos, mas não há prazo definido.
Segundo a secretaria, se a prova não tivesse sido cancelada pela Justiça, cerca de 50 mil dos atuais professores temporários seriam substituídos por docentes de fora da rede, que tiveram desempenho melhor no exame de seleção.
Como o tempo de serviço voltou a ser o critério mais importante para a escolha, os 1.500 professores que não acertaram nenhum dos 25 testes da prova, mas que já eram da rede, passarão à frente dos candidatos que tiveram bom desempenho no exame.
Outros 2 mil candidatos que não eram do sistema também zeraram na prova.
"A confusão judicial armada pela Apeoesp foi lamentável. Ela é contra a melhoria da qualidade de ensino na rede", afirmou à Folha a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro.
"Eles defenderam professores que, por incapacidade, não conseguem passar em concursos. Há bons profissionais temporários, mas outros não sabem o conteúdo. Por isso, a prova é importante."
A secretária disse ainda que o número de professores que zeraram "é assustador, sem contar aqueles que acertaram um ou dois testes, em 25".
A pasta afirma que ainda está tabulando todos os resultados. Informações preliminares indicam que 50% dos candidatos não acertarem nem metade do exame.
"Não somos contrários à avaliação. Mas isso precisa ser feito por concurso público, não por uma provinha mal feita", afirmou a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha (leia ao lado).

Críticas
O cancelamento do exame causou protestos tanto de professores de fora da rede quanto dos que possuem pouco tempo de serviço no sistema, mas que poderiam melhorar suas posições com a prova.
Os candidatos mais bem colocados têm o direito de escolher as aulas que querem ministrar (horários, locais etc.).
Com apenas três anos na rede, Gabriel Minutti Bueno de Godoy, por exemplo, diz ter acertado 22 dos 25 testes.
Na lista que considerava o exame, ele estava na posição 29 na região de Jau (interior de São Paulo) para aulas de história. Com o formato anunciado ontem, ele caiu para 107º, e não vai pegar nenhuma aula (o limite deve ficar por volta da posição 50).
"É revoltante. Estudei para a prova e, desde o ano passado, já aplicava o currículo nas aulas, por isso fui bem. Não poderia ficar fora", disse Godoy, 22.
"Ficamos desamparados pela Apeoesp, que defendeu apenas aqueles que têm tempo de serviço, e pela secretaria, que desistiu de brigar pela prova."
Ele conseguiu entrar na rede pública apenas pegando aulas de outros professores que desistiram durante o ano letivo -situação que deve se repetir em 2009.


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