Ribeirão Preto, Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011

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Com queimadura, homem morre à espera de vaga

Mecânico aguardava na UTI havia 2 dias transferência para unidade do HC

Secretaria de Estado diz que ele não foi removido porque seu estado de saúde era gravíssimo e instável

ANA SOUSA
DE RIBEIRÃO PRETO

Morreu ontem o mecânico Marcelo Rodrigo Giora, 28, após esperar 48 horas por uma vaga no HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto.
Com queimaduras em 80% do corpo, o mecânico estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Neto Campello, em Sertãozinho, desde a última segunda-feira.
A assessoria do HC disse que o paciente não foi removido na segunda-feira por não haver vagas. No dia seguinte, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, que administra o HC, ele não pôde ser transferido porque não tinha condições clínicas para o deslocamento.
O HC é o único hospital da região que possui unidade especializada em queimados. São dez vagas para pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) e duas no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) para atender mais de um milhão de pessoas. Considerada essa população, seriam necessárias ao HC pelo menos 20 novas vagas, segundo estimativa do presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Carlos Alberto Komatsu.
"Um hospital geral é capaz de fazer um atendimento de urgência, mas pode não fazer um atendimento adequado para o queimado, que é um paciente ultraespecial. O índice de óbitos é altíssimo independentemente do atendimento", diz. Após a perda da pele, os pacientes com queimaduras sofrem de desidratação.
A falta de líquido pode resultar em uma cadeia de problemas, como insuficiência renal e desequilíbrio de minerais -situações que podem levar à morte.
Para o especialista em saúde pública Fábio Tartuce Filho, a prioridade do atendimento para o paciente em estado gravíssimo é uma questão ética. "A priorização do atendimento é um fato primordial na saúde. O paciente deveria ter sido encaminhado para o centro de referência", afirma.
O pai do mecânico, o motorista Roberto Giora, 58, disse que o filho não teve o atendimento adequado logo após sofrer as queimaduras. Na segunda-feira, Marcelo entrou em sua casa que estava em chamas para checar se o enteado de três anos ainda estava no local. Quando saiu, já ferido, não esperou pela chegada dos bombeiros e dirigiu sozinho até a Santa Casa de Sertãozinho.
Como não havia vaga na unidade de queimados do HC, o mecânico foi transferido para o Neto Campello. "Viram que o estado dele era grave. Deveriam tê-lo levado para o HC assim que ele chegou à Santa Casa", afirmou o motorista. O corpo de Marcelo foi enterrado ontem em Sertãozinho. O pai diz que a família não decidiu se processará o HC e o Corpo de Bombeiros por falta de atendimento.
A Polícia Civil vai investigar se houve omissão de socorro no caso.


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