Ribeirão Preto, Domingo, 11 de Abril de 2010

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Apreensão de tênis falsos "assusta" Franca

Polícia encontrou 3.000 pares em casas e fabriquetas da periferia da cidade, conhecida nacionalmente como polo calçadista

Fabricados a quase 450 quilômetros de distância, os produtos são vendidos nas lojas e nos boxes da rua 25 de Março, em São Paulo


PAULO GODOY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

A fama que acompanha a indústria calçadista de Franca, no interior paulista, como um dos maiores e principais polos produtores do país, também a acompanha quando o assunto é falsificação de calçados.
Depois da apreensão de um ônibus, em setembro do ano passado na avenida do Estado, em São Paulo, carregado com tênis da marca americana Oakley, o Departamento de Investigações Criminais da Polícia Civil (Deic) conseguiu depoimentos que permitiram a policiais de Franca elaborar um plano de ação contra as falsificações na cidade.
Resultado: na última quinta-feira, mais de 10 mil itens, sendo quase 3.000 pares de tênis de pelo menos quatro marcas diferentes, foram encontrados em casas, galpões e fábricas na periferia da cidade. O restante eram peças como fivelas, formas, matrizes de logomarcas e muitos acessórios para calçados e roupas. A polícia não calculou o valor de mercado dos produtos.
Produtos contrafeitos, jargão policial para falsificação, ocupam, geralmente, o expediente de pequenos fabricantes, instalados na periferia de Franca. Como no negócio oficial, elas formam uma cadeia produtiva grande e diversificada que envolve fabricantes de solas, de componentes, produtores de caixas, sacolas e etiquetas. As marcas são as da moda: Adidas, Nike, Puma, Ecko, Carmin, Louis Vuitton, Dolce & Gabbana, Victor Hugo, entre outras.
Boa parte dos 2.659 pares apreendidos não foi feita com material sintético nem possui acabamento de gosto duvidoso. "Foram confeccionados em couro, a ponto de ser difícil dizer, em um primeiro momento, se são falsos ou não", disse o delegado Márcio Murari, de Franca, que participou da operação.
Fabricados a 450 quilômetros de distância, têm nas lojas e boxes da rua 25 de Março o principal endereço para distribuição. O negócio é lucrativo. Quem fabrica e quem comercializa geralmente têm margens de lucros superiores a 100%. Com custo de produção de, em média, R$ 18, são negociados por até R$ 40 o par e encontrados no comércio do Brás por entre R$ 80 e R$ 100.
Estima-se que o carregamento apreendido apenas em calçados possa valer mais de R$ 250 mil. Talvez tenha sido esse o motivo que levou as multinacionais esportivas Nike e Oakley a movimentar advogados do escritório Garé e Ortiz do Amaral, em São Paulo.
Eles representaram contra os falsificadores de Franca, quatro deles com apenas o primeiro grau completo, exigindo a continuidade das investigações e a destruição dos produtos. Era comum, afirmou uma fonte da polícia, que grandes marcas menosprezassem apreensões menores.
"Dessa vez, a representação veio acompanhando o inquérito. Eles viram que de mil em mil, o prejuízo vai longe", disse o delegado Murari. A Folha tentou, sem sucesso, ouvir as empresas, via assessoria.
Ninguém foi preso na operação em Franca. Para a polícia, o pedido de prisão só pode ser feito após ser oficializado que o produto é falsificado, o que, apesar de evidente, depende de laudo pericial e confrontação com o produto original.
O sindicato das empresas de calçados repudia associações com as fábricas que representa e diz que pirataria é assunto de polícia.


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