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Apreensão de tênis falsos "assusta" Franca
Polícia encontrou 3.000 pares em casas e fabriquetas da periferia da cidade, conhecida nacionalmente como polo calçadista
Fabricados a quase 450 quilômetros de distância, os produtos são vendidos nas lojas e nos boxes da rua 25 de Março, em São Paulo
PAULO GODOY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO
A fama que acompanha a indústria calçadista de Franca, no
interior paulista, como um dos
maiores e principais polos produtores do país, também a
acompanha quando o assunto é
falsificação de calçados.
Depois da apreensão de um
ônibus, em setembro do ano
passado na avenida do Estado,
em São Paulo, carregado com
tênis da marca americana Oakley, o Departamento de Investigações Criminais da Polícia
Civil (Deic) conseguiu depoimentos que permitiram a policiais de Franca elaborar um
plano de ação contra as falsificações na cidade.
Resultado: na última quinta-feira, mais de 10 mil itens, sendo quase 3.000 pares de tênis
de pelo menos quatro marcas
diferentes, foram encontrados
em casas, galpões e fábricas na
periferia da cidade. O restante
eram peças como fivelas, formas, matrizes de logomarcas e
muitos acessórios para calçados e roupas. A polícia não calculou o valor de mercado dos
produtos.
Produtos contrafeitos, jargão
policial para falsificação, ocupam, geralmente, o expediente
de pequenos fabricantes, instalados na periferia de Franca.
Como no negócio oficial, elas
formam uma cadeia produtiva
grande e diversificada que envolve fabricantes de solas, de
componentes, produtores de
caixas, sacolas e etiquetas. As
marcas são as da moda: Adidas,
Nike, Puma, Ecko, Carmin,
Louis Vuitton, Dolce & Gabbana, Victor Hugo, entre outras.
Boa parte dos 2.659 pares
apreendidos não foi feita com
material sintético nem possui
acabamento de gosto duvidoso.
"Foram confeccionados em
couro, a ponto de ser difícil dizer, em um primeiro momento,
se são falsos ou não", disse o delegado Márcio Murari, de Franca, que participou da operação.
Fabricados a 450 quilômetros de distância, têm nas lojas
e boxes da rua 25 de Março o
principal endereço para distribuição. O negócio é lucrativo.
Quem fabrica e quem comercializa geralmente têm margens de lucros superiores a
100%. Com custo de produção
de, em média, R$ 18, são negociados por até R$ 40 o par e encontrados no comércio do Brás
por entre R$ 80 e R$ 100.
Estima-se que o carregamento apreendido apenas em calçados possa valer mais de R$ 250
mil. Talvez tenha sido esse o
motivo que levou as multinacionais esportivas Nike e Oakley a movimentar advogados
do escritório Garé e Ortiz do
Amaral, em São Paulo.
Eles representaram contra
os falsificadores de Franca,
quatro deles com apenas o primeiro grau completo, exigindo
a continuidade das investigações e a destruição dos produtos. Era comum, afirmou uma
fonte da polícia, que grandes
marcas menosprezassem
apreensões menores.
"Dessa vez, a representação
veio acompanhando o inquérito. Eles viram que de mil em
mil, o prejuízo vai longe", disse
o delegado Murari. A Folha
tentou, sem sucesso, ouvir as
empresas, via assessoria.
Ninguém foi preso na operação em Franca. Para a polícia, o
pedido de prisão só pode ser
feito após ser oficializado que o
produto é falsificado, o que,
apesar de evidente, depende de
laudo pericial e confrontação
com o produto original.
O sindicato das empresas de
calçados repudia associações
com as fábricas que representa
e diz que pirataria é assunto de
polícia.
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