Ribeirão Preto, Sábado, 12 de dezembro de 1998

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SAÚDE
Estudo da prefeitura revela que os problemas no coração já superaram a Aids como a principal causa de mortes
Doença cardíaca mata mais em Ribeirão

Lucio Piton/Folha Imagem
A empregada doméstica Rosana Marcia Silva, que é portadora de HIV e toma coquetel contra a doença


ALESSANDRO SILVA
da Folha Ribeirão

As doenças do coração, principalmente o infarto agudo, lideram o ranking das causas de mortes em Ribeirão Preto em 97, segundo pesquisa divulgada ontem pela Secretaria Municipal da Saúde.
A Aids, que entre 94 e 95 ocupou o primeiro lugar nas causas das mortes, com 8,4%, foi a quinta causa de óbitos no município no ano passado.
No ano passado, 382 pessoas morreram em razão de doenças isquêmicas do coração (infarto do miocárdio) -11,7% do total de óbitos, segundo a secretaria.
A inversão entre as duas principais causas de morte foi identificada em 96, quando os pacientes portadores do HIV (vírus da Aids) começaram a receber gratuitamente o coquetel de drogas.
O número de vítimas dos problemas cardíacos aumentou 67,14% em 97 se comparado aos dados de mortalidade de 94 em Ribeirão.
No caso da Aids, de 96 para 97, o número de mortos caiu de 233 para 163 -30% menos.
"O infarto tem relação com o aumento de colesterol no sangue, além do tabagismo, pressão alta e vida sedentária", afirma o cardiologista Nélio Rezende Cardoso.
O estudo da mortalidade serve como subsídio para análise da qualidade de vida da população.
O dado que mais chamou a atenção dos pesquisadores, além da inversão de posição entre Aids e infarto, foi o avanço dos assassinatos entre as principais causas de mortes (causa externa).
Os homicídios saltaram da 11ª colocação, em 94, para a 3ª posição no ano passado. A quantidade de vítimas (196) superou à da Aids em 97, segundo o estudo.
Esta semana, Ribeirão passou de 210 mortes em razão da violência e bateu seu recorde histórico.

Situação
O chefe da unidade de virologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Luiz Tadeu Figueiredo, afirmou que a queda da Aids no ranking de mortalidade indica que as formas de tratamento foram aperfeiçoadas.
"Os médicos aprenderam a conhecer melhor as complicações provocadas pela doença e passaram a agir mais rápido", disse.
O infectologista também destaca a utilização das drogas que compõem o coquetel -distribuído de graça na rede pública de saúde.
Os médicos já utilizam três combinações diferentes de remédios, que agem basicamente em duas frentes: no momento em que o vírus se infiltra nas células humanas e na hora de ele se multiplicar.
A chefe da Vigilância Epidemiológica da prefeitura, Brasilina Cerqueira, afirmou que a liderança das doenças degenerativas -do coração, por exemplo- é comum mesmo em países desenvolvidos.
"Ao contrário da doença infecciosa, que pode ser revertida com remédios, as doenças degenerativas só podem ser evitadas fazendo prevenção antecipada", disse.
De acordo com especialistas, as doenças cardíacas são evitadas com dietas alimentares adequadas, atividades físicas e exames de saúde regulares, principalmente a partir dos 30 anos.
"Os programas educativos nessa linha apresentam resultados a longo prazo, diferentemente do que o coquetel provocou em relação à Aids", afirma a médica.
As doenças cerebrovasculares apareceram, no ano passado, como segunda principal causa da mortalidade em Ribeirão Preto.
O ranking divulgado pela prefeitura é feito com base em uma classificação internacional.



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