Ribeirão Preto, Domingo, 13 de setembro de 1998

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ELO PERDIDO
Pesquisador vê região como um dos maiores sítios arqueológicos
Canaviais e café escondem 'cemitérios pré-históricos'

ALESSANDRO SILVA
enviado especial a Cajuru, Monte Alto e São Paulo

Café e cana-de-açúcar cobrem, na região de Ribeirão Preto, um dos maiores cemitérios de dinossauros do Estado de São Paulo, onde também foram encontrados vestígios do homem pré-histórico.
Pesquisadores chegaram a essa conclusão após as últimas descobertas em duas cidades da região.
Há duas semanas, três urnas de barro pré-históricas foram desenterradas na cidade de Cajuru (55 km de Ribeirão Preto).
No mês passado, paleontólogos terminaram a retirada da primeira ossada completa de titanossauro -o maior réptil que viveu no Brasil na época dos dinossauros- em Monte Alto (72 km de Ribeirão). O animal tinha 15 metros de comprimento por 4 metros de altura e pesava 18 toneladas.
Os répteis vieram primeiro, 90 milhões de anos atrás, no período cretáceo, e desapareceram antes do surgimento do homem.
Partes de crocodilos e tartarugas também foram encontrados, às vezes por acaso, em Monte Alto.
As descobertas criaram uma verdadeira "febre" de arqueologia na região. O museu de Monte Alto, por exemplo, recebe cerca de 3.000 visitantes todos os meses.
Os vestígios do homem pré-histórico estão mais ao norte da região, em Cajuru e São Simão (51 km). As tribos viveram pelo menos 500 anos antes do descobrimento português, em 1500.
Os paleontólogos procuram vestígios de animais e vegetais fossilizados, enquanto os arqueólogos pesquisam os vestígios humanos na pré-história.
As primeiras evidências dos antigos moradores da região apareceram na década de 50, por acaso.
"Na época, os antigos mandavam jogar no rio as Pedras de Raio (machadinhas), com medo", afirmou Luiz Alberto da Silva, 58, fazendeiro em Cajuru.
Aproximadamente 2.000 peças arqueológicas, entre cerâmicas e armas feitas em pedras, foram encontradas em um raio de 100 km da cidade de Ribeirão Preto, de acordo com pesquisadores.
As marcas deixadas pelas tribos estão guardadas em dois museus: em Monte Alto e em São Simão. Cajuru, até dezembro, também deve ter um local para expor as urnas de barro encontradas na semana passada em uma fazenda.
"Na pré-história, a região de Ribeirão deve ter sido super-habitada, porque fornecia alimento e possibilidade de sobrevivência farta", afirma Silvia Maranca, vice-diretora do MAE (Museu de Antropologia e Etnologia) da USP (Universidade de São Paulo).
A partir das informações recolhidas nas escavações, os pesquisadores reconstituem a vida dos primeiros brasileiros.
"Ainda é difícil precisar a tribo que morou na região, principalmente porque os registros indígenas no Brasil começaram a ser feitos a partir do descobrimento. Antes disso, não há nada", disse.

Répteis
O primeiro fragmento de osso de dinossauro apareceu em 84, na zona urbana de Monte Alto. "A partir disso, encontramos mais de mil partes, incluindo uma ossada completa, inédita no país, de um titanossauro", afirma Antonio Celso de Arruda Campos, coordenador do Museu de Paleontologia de Monte Alto.
Hoje, o museu mantém um convênio com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) e serve como laboratório para pesquisas.
"Os trabalhos em Monte Alto estão mais adiantados em relação a outros lugares porque há um núcleo de pesquisa formado também por moradores da cidade", disse Sergio Mezzalira, 78, paleontólogo e um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Paleontologia.
Para geólogos, a região de Ribeirão Preto é privilegiada por estar sobre uma placa de rocha sedimentar, conhecida como Grupo Bauru, que preservou os tesouros.



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