Ribeirão Preto, Sábado, 14 de Março de 2009

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Inclusão "patina" nas escolas de Ribeirão

Rede atende 667 alunos com deficiência, mas sobram críticas de pais e alunos; faltam, por exemplo, intérpretes para surdos

"Preciso da ajuda dos amigos. Quase já perdi prova, porque o professor só falou alto o dia do teste e nem me avisou", diz surda

Silva Junior/Folha Imagem
Anna Flávia Lima, alunda da Dom Luiz do Amaral Mousinho, escreve seu nome para reportegem

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

A aluna Anna Flávia de Almeida Lima, 17, da escola municipal Dom Luiz do Amaral Mousinho, em Ribeirão Preto, não entende o sentido da palavra inclusão. Surda, ela sabe a Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), mas quase não tem aulas traduzidas pela falta de intérprete em tempo integral na rede. "Preciso da ajuda dos amigos. Quase já perdi prova, porque o professor só falou alto o dia do teste e nem me avisou."
Anna Flávia está entre os estudantes com algum tipo de deficiência inclusos nas escolas regulares que enfrentam barreiras no aprendizado. O número de alunos voltou a crescer -hoje são 667 na rede, contra 363 em 2005, mas o atendimento ainda é precário.
Uma das maiores carências está no atendimento a surdos, pelo baixo número de intérpretes (traduz o português para a linguagem de sinais). São 14 na rede, sendo que seis ficam circulando pelas escolas. Diante do déficit, pais de alunos surdos vão encaminhar uma reivindicação à Secretaria da Educação pedindo mais suporte ou a criação de uma só unidade capacitada com intérpretes.
"Os alunos contam que o intérprete consegue ficar só 20 minutos na classe, porque já tem que correr para outra sala", conta a intérprete da Associação dos Surdos de Ribeirão, Bianca Pacher.
A secretaria reconhece que o número de intérpretes é insuficiente e diz que vai contratar outros (leia texto abaixo).
Os professores dizem que é difícil dar atenção aos deficientes diante de uma sala numerosa. Há vinte anos na rede, uma docente, que não quis se identificar, dá aulas, em diferentes salas a duas garotas com síndrome de Down, 20 alunos surdos, uma deficiente física e um aluno cego.
"As salas têm 40 alunos. Você tem que se desdobrar para dar atenção a todos, voltar-se para o surdo para que ele faça a leitura labial, ditar ao deficiente visual... É quase impossível."

Deficientes
Segundo a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), a primeira turma de alunos com deficiência mental migrou para a rede regular em 2004. Eram seis alunos. Hoje, são 15, todos em séries iniciais.
Para a diretora da Apae Elaine Cristina Zeoti Gomes, entre as dificuldades, está a de o professor não saber exatamente a dimensão do problema do aluno. Também há a falta de cadeiras e mesas adaptadas a alunos com dificuldade de postura.
Os alunos cegos são mais aceitos pelos outros colegas atualmente, segundo a professora Marlene Taveira Cinta, presidente da Adevirp (Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão e região).
"Sinto que o deficiente visual está sendo amado e entendido como aluno", disse. Um dos desafios a superar, na sua opinião, é a dificuldade da família de aceitar a deficiência e se envolver na educação.


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