Instituições de Ribeirão passaram a oferecer cursos básicos de português e matemática para suprir defasagem de aprendizado

Para sindicato, ampliação de vagas derrubou o preço dos cursos e atraiu alunos de menor renda, que vêm de ensino público ruim

Edson Silva/Folha Imagem

Karolyna Mendes Moura, caloura de serviço social da Unaerp e bolsista do Prouni, reúne livros de reforço em sua casa, em Pontal

LIGIA SOTRATTI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Dificuldades em cálculos básicos, como multiplicar frações e achar porcentagens, ou dúvidas em grafia e concordância verbal e nominal. Devido à defasagem da maioria dos alunos que concluem o ensino médio, cinco instituições particulares de ensino superior de Ribeirão Preto passaram a oferecer cursos de português e matemática para todos os ingressantes.
Os cursos são gratuitos, optativos e não constam da grade curricular. O que os diferencia é o nome: algumas instituições chamam de curso de aprimoramento, outras de nivelamento.
A situação não é exclusiva de Ribeirão Preto. De acordo com o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), cerca de 70% das faculdades particulares do Estado têm programas de nivelamento.
"O modelo é bastante diversificado. Tem instituição que faz plantão de dúvidas, outras fazem o reforço à distância, e existe também a aula presencial", disse o diretor executivo da entidade, Rodrigo Capelato.
Segundo a entidade, a preocupação com a defasagem do aluno surgiu nos últimos cinco anos e foi impulsionada pela ampliação da oferta na rede particular. "Com mais vagas no ensino superior, caiu o preço médio e a população de menor renda, que vem do ensino público de má qualidade, passou a ter acesso aos cursos superiores", disse Capelato.
Além da expansão das universidades privadas, professores também atribuem o aumento do acesso à universidade a programas federais, como o Prouni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior).
"Há 30 anos era uma minoria que tinha acesso à faculdade. Hoje, cresceu muito, principalmente com os projetos sociais do governo", disse o professor Antônio Alvares da Costa, do Departamento de Exatas da Unaerp, coordenador do chamado Projeto de Aprimoramento em Matemática. A Unaerp também oferece curso de português.
No Moura Lacerda, o apoio é para área de exatas. "Como temos muitos cursos tecnológicos e de engenharia, temos como matéria optativa física e matemática, áreas em que os alunos têm mais problema", disse o reitor da instituição Glauco Eduardo Cortez.
Como a disciplina é complementar, ou seja, não tem avaliação nem consta na grade curricular do curso, a faculdade criou mecanismos para atrair o aluno.
"Vale como atividade para outras matérias. É uma forma de atrair o aluno que, muitas vezes, não reconhece sua deficiência na aprendizagem. Ele nunca foi reprovado, tirava notas acima da média exigida e, por isso, não vê utilidade na disciplina", disse.
Na Unip, há monitorias e revisão de conteúdos on-line. A vice-reitora da instituição e diretora do campus de Ribeirão, Melânia Dalla Torre, disse que o reforço visa "refrescar a memória" dos alunos.
No Centro Universitário Barão de Mauá, as aulas de nivelamento são dadas nas primeiras duas semanas do semestre a todos os ingressantes.
"Após desse período, formamos turmas à medida que surge o interesse. É uma adaptação que tivemos que fazer para o aluno acompanhar o ritmo do curso", disse a reitora da Barão, Maria Celia Pressinatto.
Em nota, o COC disse que também também oferece programa de nivelamento aos alunos do primeiro ano.


Próximo Texto: Foco: Caloura da Unaerp busca reforço de português e matemática básica
Índice