Ribeirão Preto, Domingo, 14 de Março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morte em acidente com mototáxi liga alerta

Garçonete foi atirada contra poste; mototaxistas se multiplicam e oferecem transporte rápido e barato, mas pouco seguro

Rapaz que dirigia a moto iria trabalhar 12 horas; jornadas de até 14 horas e falta de regulamentação são alguns dos problemas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Após trabalhar durante toda a madrugada, no último domingo, a garçonete Roseli Aparecida de Souza Del Grande, 38, decidiu ir para a sua casa, no Heitor Rigon, em Ribeirão Preto, de mototáxi. Ela pegou o transporte na rodoviária, mas, quando passava pela Via Norte, sofreu um acidente.
A moto que levava Roseli, pilotada por mototaxista Marco Antônio Rosa Júnior, 22, bateu contra a guia da avenida -a passageira foi lançada contra um poste e o mototaxista não se feriu. Roseli foi atendida na Santa Casa e liberada. Horas depois, morreu em sua casa. O hospital abriu sindicância para apurar se a paciente recebeu o atendimento correto.
A morte de Roseli na garupa de um mototáxi serve de alerta para uma atividade que, praticamente, não tem fiscalização. Sem padronização, identificação correta nem normas de segurança, os mototaxistas se multiplicam pelas ruas, oferecendo transporte rápido e barato, mas, nem sempre seguro.
Rosa Júnior, que dirigia a moto em que Roseli se acidentou, foi indiciado por lesão corporal culposa, quando não há intenção de matar. À Folha, ele disse que estava dentro da velocidade limite de 60 km/h. "O dia estava nascendo e havia neblina", afirmou.
Há três anos na profissão, Rosa Júnior afirma que consegue tirar de R$ 70 a R$ 80 por dia. Diz que o serviço é temporário, mas que voltará para as ruas assim que consertar a moto. "O prejuízo foi de R$ 400."
No dia do acidente, ele começou a trabalhar à meia-noite e iria até o meio-dia. Mas, segundo diz, a jornada de 12 horas era exceção. "Eu estava precisando pagar umas contas."
A jornada ampliada não é incomum na cidade. Agências de mototáxis visitadas pela Folha disseram que alguns profissionais chegam a trabalhar até 14 horas por dia.
Segundo a Transerp, há pelo menos 2.000 mototaxistas na cidade, sendo que 1.200 vivem só desse trabalho. Os demais fazem bicos para aumentar a renda mensal.
Desempregado, o ex-vigia Aldo Rosalino Filho, 27, trabalha há três meses como mototaxista, mas diz que vai procurar outro trabalho assim que acabar o seguro-desemprego.
Marcos Adolfo Oliveira, que é mototaxista e sócio de uma agência do setor, diz que é favorável à regulamentação. "Tem de regularizar o veículo, deixar identificado para facilitar a fiscalização, como é com os táxis." Ele disse que em 2008 um dos motoqueiros da agência foi atropelado por um caminhão e morreu na Anhanguera.
Paulo Cesar da Silva, 54, é mototaxista há 15 anos. Ele afirma que fez o registro como microempreendedor individual e paga R$ 61,10 por mês para ter direto à licença por acidentes e afastamento.
Mesmo com a regulamentação da profissão, porém, há quem prefira não utilizar o serviço por questão de segurança. "Eu não uso e não recomendo", disse o encanador Márcio Antônio Del Grande, 48, ex-marido da garçonete Roseli.
De acordo com Del Grande, a ex-mulher usava mototáxi com frequência.


Texto Anterior: Reforço é positivo, mas Enade também pesa, diz especialista
Próximo Texto: Categoria procura regularização
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.