Ribeirão Preto, Domingo, 15 de Fevereiro de 2009

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10 cidades da região sentem efeitos da crise

Para especialistas, empresários e sindicatos, ainda é impossível contabilizar a totalidade de "estragos" da crise na região

Setor de máquinas para usinas espera março para ter noção real de pedidos cancelados devido à crise dos mercados

LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

A venda de veículos cai no último bimestre de 2008 em Ribeirão Preto, enquanto o calote sobe e tem resultado recorde. Em Franca, a exportação de calçados cai vertiginosamente.
Gigante da metalurgia anuncia corte de 350 funcionários em São Carlos. Bebedouro vê queda no consumo do suco de laranja e 208 são demitidos.
As notícias, ruins para a economia regional, podem não parar por aí. Passados quatro meses de crise, a conclusão de setores da economia da região é que o furacão ainda está passando, mas por enquanto é impossível contabilizar a totalidade de seus estragos.
Desde que mostrou seus primeiros sinais na região, em meados de outubro, a expressão "crise mundial" já foi cunhada inúmeras vezes por economistas, empresários, trabalhadores e todos aqueles que usam essa turbulência financeira para justificar qualquer notícia ruim.
"Que a crise chegou, chegou. Mas precisamos esperar como serão as contratações em janeiro e fevereiro para saber o quanto ela nos prejudicou ou prejudicará", disse José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca). Ele representa um dos setores que mais sofrem com a situação: o número de demissões em dezembro passou dos 11 mil (veja quadro nesta página).
Parece confuso e, de fato, é. Sertãozinho, por exemplo: nove em cada dez economistas e especialistas dizem que o setor sucroalcooleiro, locomotiva da cidade, é o que mais sofre com a crise. No entanto as demissões não extrapolaram a faixa sazonal, motivada pelo período de entressafra. Nenhuma indústria anunciou fechamento ou cortes em massa. Mas a atmosfera na cidade é muito tensa.
"A maior parte das demissões foram provocadas pela entressafra da cana-de-açúcar. Nossa preocupação começa em março, quando terminam as manutenções das usinas e as indústrias vão sentir, de fato, os cancelamentos e postergações de pedidos. Aí a indústria vai reduzir seu quadro de funcionários", disse Mário Garrefa, presidente do Ceise-BR (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético).
A preocupação com a consolidação da crise iniciou uma verdadeira batalha entre empresários, sindicalistas e trabalhadores no setor. O Ceise-BR e as indústrias falam que a redução de jornada e salarial é a saída para evitar as demissões. O sindicato diz que a situação ainda não é tão grave.
"O saldo não é tão negativo. Não sei o que nos reserva fevereiro e março, mas por enquanto os efeitos foram pequenos", disse Élio Cândido, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ribeirão Preto e Região. "Mas há um risco. Temos uma crise financeira no país. O balanço de demissões e contratações ainda está equilibrado, mas o pior ainda pode acontecer", disse.
A situação é parecida em Matão, cuja indústria também move a economia local. Assim como em Sertãozinho, várias empresas adotaram as férias coletivas a seus funcionários no final de 2008 e início deste ano. "A demanda de produtos caiu demais. As indústrias já não fazem mais hora extra e aproveitaram para fazer adequação de férias no fim do ano passado. A indústria está se mantendo, mas não sabemos como será nos próximos meses", afirmou Roberto Luiz Cadioli, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Matão.
A microrregião de Bebedouro, por sua vez, sentiu a crise chegar com mais intensidade. A Citrosuco, segunda maior produtora de suco de laranja do país, anunciou o corte de 208 funcionários. Em Taquaritinga, 250 vagas da Guari Fruits estão congeladas -a empresa tenta parceria para se manter.
"A situação é bem grave e isso está bem claro. No caso da citricultura, é gravíssima", disse José Antônio Janotta, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentos em Bebedouro. "Vamos aguardar mais um pouco para saber quando vamos retomar o crescimento. Mas, por enquanto, a situação é complicada", disse.


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