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10 cidades da região sentem efeitos da crise
Para especialistas, empresários e sindicatos, ainda é impossível contabilizar a totalidade de "estragos" da crise na região
Setor de máquinas para usinas espera março para ter noção real de pedidos cancelados devido à
crise dos mercados
LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
A venda de veículos cai no último bimestre de 2008 em Ribeirão Preto, enquanto o calote
sobe e tem resultado recorde.
Em Franca, a exportação de
calçados cai vertiginosamente.
Gigante da metalurgia anuncia
corte de 350 funcionários em
São Carlos. Bebedouro vê queda no consumo do suco de laranja e 208 são demitidos.
As notícias, ruins para a economia regional, podem não parar por aí. Passados quatro meses de crise, a conclusão de setores da economia da região é
que o furacão ainda está passando, mas por enquanto é impossível contabilizar a totalidade de seus estragos.
Desde que mostrou seus primeiros sinais na região, em
meados de outubro, a expressão "crise mundial" já foi cunhada inúmeras vezes por economistas, empresários, trabalhadores e todos aqueles que
usam essa turbulência financeira para justificar qualquer
notícia ruim.
"Que a crise chegou, chegou.
Mas precisamos esperar como
serão as contratações em janeiro e fevereiro para saber o
quanto ela nos prejudicou ou
prejudicará", disse José Carlos
Brigagão do Couto, presidente
do Sindifranca (Sindicato da
Indústria de Calçados de Franca). Ele representa um dos setores que mais sofrem com a situação: o número de demissões
em dezembro passou dos 11 mil
(veja quadro nesta página).
Parece confuso e, de fato, é.
Sertãozinho, por exemplo: nove em cada dez economistas e
especialistas dizem que o setor
sucroalcooleiro, locomotiva da
cidade, é o que mais sofre com a
crise. No entanto as demissões
não extrapolaram a faixa sazonal, motivada pelo período de
entressafra. Nenhuma indústria anunciou fechamento ou
cortes em massa. Mas a atmosfera na cidade é muito tensa.
"A maior parte das demissões foram provocadas pela entressafra da cana-de-açúcar.
Nossa preocupação começa em
março, quando terminam as
manutenções das usinas e as
indústrias vão sentir, de fato, os
cancelamentos e postergações
de pedidos. Aí a indústria vai
reduzir seu quadro de funcionários", disse Mário Garrefa,
presidente do Ceise-BR (Centro Nacional das Indústrias do
Setor Sucroalcooleiro e Energético).
A preocupação com a consolidação da crise iniciou uma
verdadeira batalha entre empresários, sindicalistas e trabalhadores no setor. O Ceise-BR e
as indústrias falam que a redução de jornada e salarial é a saída para evitar as demissões. O
sindicato diz que a situação ainda não é tão grave.
"O saldo não é tão negativo.
Não sei o que nos reserva fevereiro e março, mas por enquanto os efeitos foram pequenos",
disse Élio Cândido, presidente
do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ribeirão
Preto e Região. "Mas há um risco. Temos uma crise financeira
no país. O balanço de demissões e contratações ainda está
equilibrado, mas o pior ainda
pode acontecer", disse.
A situação é parecida em Matão, cuja indústria também move a economia local. Assim como em Sertãozinho, várias empresas adotaram as férias coletivas a seus funcionários no final de 2008 e início deste ano.
"A demanda de produtos caiu
demais. As indústrias já não fazem mais hora extra e aproveitaram para fazer adequação de
férias no fim do ano passado. A
indústria está se mantendo,
mas não sabemos como será
nos próximos meses", afirmou
Roberto Luiz Cadioli, diretor
do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de
Matão.
A microrregião de Bebedouro, por sua vez, sentiu a crise
chegar com mais intensidade. A
Citrosuco, segunda maior produtora de suco de laranja do
país, anunciou o corte de 208
funcionários. Em Taquaritinga,
250 vagas da Guari Fruits estão
congeladas -a empresa tenta
parceria para se manter.
"A situação é bem grave e isso
está bem claro. No caso da citricultura, é gravíssima", disse José Antônio Janotta, presidente
do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentos
em Bebedouro. "Vamos aguardar mais um pouco para saber
quando vamos retomar o crescimento. Mas, por enquanto, a
situação é complicada", disse.
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