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Esquema na Transerp libera veículo apreendido sem taxa
Documentos obtidos pela Folha mostram que moto foi retirada do pátio sem ônus
Transerp admite que
moto saiu sem pagar; dono devia R$ 448, mas um funcionário do pátio lhe daria R$ 500 por veículo
LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Testemunhos e documentos
obtidos pela Folha revelam a
existência de um esquema que
permite a retirada de veículos
apreendidos no pátio da Transerp (Empresa de Trânsito e
Transporte Urbano de Ribeirão Preto S.A.) sem pagamento
de diárias e guincho, o que pode caracterizar prática de renúncia de receita pública.
Os papéis mostram que uma
moto foi retirada do pátio da
empresa no dia 18 de fevereiro,
63 dias depois de ser apreendida por estar em mau estado de
conservação. Apesar da dívida
de R$ 448 (diárias e o guincho),
o controle financeiro da Transerp aponta que o veículo foi liberado "sem ônus".
Um funcionário da Transerp,
que trabalha no pátio da empresa desde janeiro, retirou o
veículo -o que caracteriza a
primeira irregularidade, já que
apenas o dono do veículo, em
pessoa, pode fazer a retirada.
O dono do veículo disse à reportagem que foi procurado
por este funcionário, que lhe
disse estar interessado na compra do veículo e que conseguiria tirá-lo do pátio. A moto saiu,
mas o proprietário afirma que
não recebeu os R$ 500
combinados.
O superintendente da Transerp, William Latuf, que ontem
foi anunciado como o novo secretário de Governo pela prefeita Dárcy Vera (DEM), admitiu, na segunda ligação, que o
veículo saiu da empresa sem
pagar as taxas. Ele disse que vai
abrir sindicância na empresa
para apurar a irregularidade.
O funcionário da Transerp
que foi apontado como o autor
da retirada do veículo negou,
com veemência, que tenha participado da ação. Por telefone,
confirmou que trabalha no pátio da Transerp, mas disse desconhecer qualquer esquema de
retirada de veículos. Ele contou
que foi contratado em janeiro e
que não sabe da existência da
referida moto. A Folha apurou,
no entanto, que ele tem uma
Honda CB 450.
Outro funcionário da empresa, que não quis se identificar,
afirmou que o caso é um sinal
claro de que há irregularidades
na empresa, já que apenas a
Justiça pode ordenar a liberação do veículo sem o pagamento das taxas.
Conservação
A moto foi apreendida no dia
18 de fevereiro após blitz na
avenida Paschoal Innecchi. O
dono levou duas multas: nem
ele nem o passageiro usavam
viseira no capacete.
A Folha teve acesso às multas, ao comprovante de recolhimento do veículo e ao documento que atesta sua liberação
-este, assinado pelo delegado-adjunto, Ricardo Turra. Segundo a polícia, é a própria Transerp quem atesta se as taxas para liberação do veículo foram
pagas.
"A polícia apenas verifica se
o veículo tem alguma pendência em forma de multa ou imposto [IPVA ou licenciamento]. O pagamento da estadia do
pátio fica a cargo da Transerp",
disse Cláudio José Ottoboni,
delegado da Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito).
O documento de liberação
detalha os custos: R$ 504 pelos
63 dias de estadia e R$ 70 pelo
guincho. Com desconto, o valor
da diária cai para R$ 378, somando R$ 448.
Este é o segundo caso de irregularidade envolvendo funcionários de autarquias do governo Dárcy Vera. Em abril, uma
empresária denunciou que um
funcionário do Daerp (Departamento de Água e Esgotos de
Ribeirão Preto) cobrou propina para abater o valor de uma
dívida de R$ 9,3 mil. A negociação foi filmada. O superintendente, Tanielson Campos,
abriu sindicância para apurar.
Colaborou ROBERTO MADUREIRA, da Folha Ribeirão
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