Ribeirão Preto, Sábado, 16 de Maio de 2009

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Esquema na Transerp libera veículo apreendido sem taxa

Documentos obtidos pela Folha mostram que moto foi retirada do pátio sem ônus

Transerp admite que moto saiu sem pagar; dono devia R$ 448, mas um funcionário do pátio lhe daria R$ 500 por veículo

LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

Testemunhos e documentos obtidos pela Folha revelam a existência de um esquema que permite a retirada de veículos apreendidos no pátio da Transerp (Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto S.A.) sem pagamento de diárias e guincho, o que pode caracterizar prática de renúncia de receita pública.
Os papéis mostram que uma moto foi retirada do pátio da empresa no dia 18 de fevereiro, 63 dias depois de ser apreendida por estar em mau estado de conservação. Apesar da dívida de R$ 448 (diárias e o guincho), o controle financeiro da Transerp aponta que o veículo foi liberado "sem ônus".
Um funcionário da Transerp, que trabalha no pátio da empresa desde janeiro, retirou o veículo -o que caracteriza a primeira irregularidade, já que apenas o dono do veículo, em pessoa, pode fazer a retirada.
O dono do veículo disse à reportagem que foi procurado por este funcionário, que lhe disse estar interessado na compra do veículo e que conseguiria tirá-lo do pátio. A moto saiu, mas o proprietário afirma que não recebeu os R$ 500 combinados.
O superintendente da Transerp, William Latuf, que ontem foi anunciado como o novo secretário de Governo pela prefeita Dárcy Vera (DEM), admitiu, na segunda ligação, que o veículo saiu da empresa sem pagar as taxas. Ele disse que vai abrir sindicância na empresa para apurar a irregularidade.
O funcionário da Transerp que foi apontado como o autor da retirada do veículo negou, com veemência, que tenha participado da ação. Por telefone, confirmou que trabalha no pátio da Transerp, mas disse desconhecer qualquer esquema de retirada de veículos. Ele contou que foi contratado em janeiro e que não sabe da existência da referida moto. A Folha apurou, no entanto, que ele tem uma Honda CB 450.
Outro funcionário da empresa, que não quis se identificar, afirmou que o caso é um sinal claro de que há irregularidades na empresa, já que apenas a Justiça pode ordenar a liberação do veículo sem o pagamento das taxas.

Conservação
A moto foi apreendida no dia 18 de fevereiro após blitz na avenida Paschoal Innecchi. O dono levou duas multas: nem ele nem o passageiro usavam viseira no capacete.
A Folha teve acesso às multas, ao comprovante de recolhimento do veículo e ao documento que atesta sua liberação -este, assinado pelo delegado-adjunto, Ricardo Turra. Segundo a polícia, é a própria Transerp quem atesta se as taxas para liberação do veículo foram pagas.
"A polícia apenas verifica se o veículo tem alguma pendência em forma de multa ou imposto [IPVA ou licenciamento]. O pagamento da estadia do pátio fica a cargo da Transerp", disse Cláudio José Ottoboni, delegado da Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito).
O documento de liberação detalha os custos: R$ 504 pelos 63 dias de estadia e R$ 70 pelo guincho. Com desconto, o valor da diária cai para R$ 378, somando R$ 448.
Este é o segundo caso de irregularidade envolvendo funcionários de autarquias do governo Dárcy Vera. Em abril, uma empresária denunciou que um funcionário do Daerp (Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto) cobrou propina para abater o valor de uma dívida de R$ 9,3 mil. A negociação foi filmada. O superintendente, Tanielson Campos, abriu sindicância para apurar.

Colaborou ROBERTO MADUREIRA, da Folha Ribeirão


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