Ribeirão Preto, Quarta-feira, 16 de Dezembro de 2009

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98 mil têm renda abaixo de R$ 100 na região

Dados sobre a pobreza fazem parte de estudo sobre a presença do Estado no Brasil, que foi divulgado ontem pelo Ipea

Na região de Ribeirão, Dobrada é a cidade que, proporcionalmente, tem maior número de pessoas em situação de pobreza


JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A região de Ribeirão, conhecida pela pujança econômica, abrigava 98.228 pessoas com renda inferior a R$ 100 mensais até 2007. Esse era o valor, à época, que separava os pobres do restante dos brasileiros, segundo definição do Ministério do Desenvolvimento Social. Hoje, o montante é de R$ 137.
Os dados sobre a pobreza fazem parte de estudo sobre a presença do Estado no Brasil, divulgado ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).
Na região, Dobrada é a cidade que, proporcionalmente, abriga o maior número de pobres. São pelo menos seis pessoas pobres para cem habitantes.
Situação semelhante é enfrentada por cidades como Jeriquara, Guatapará, Pontal e Guaíra, onde os índices de pobreza estavam na faixa dos 6%.
Esses municípios têm em comum o fato de abrigarem grandes canaviais e seus trabalhadores - a maioria, imigrantes.
Segundo Claudia Passador, coordenadora do GPublic (Centro de Estudos de Gestão e Políticas Públicas Contemporâneas) da USP (Universidade de São Paulo), os números da pobreza mostram uma desigualdade regional que reproduz, em menor escala, a realidade do observada no país.
"O que a gente percebe no Brasil se reproduz em uma desigualdade regional. Você tem Ribeirão com uma renda per capita alta e, ao lado, cidades com IDH igual ao Nordeste", afirmou a pesquisadora.
Segundo ela, os municípios canavieiros costumam servir como cidades-dormitório e atraem trabalhadores com baixa escolaridade, que diferem do perfil geral da população. O nível de pobreza, diante dessa situação, tende a se amplificar.
Na região, o índice de pobreza demonstrado pelo estudo é de 3,1%. "Se você olhar esse número sob uma ótica internacional, é algo degradante", disse o professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da USP) de Ribeirão, Alberto Borges Matias.
Para ele, a persistência da pobreza, apesar dos programas de assistência social de todas as esferas de governo, é efeito da falta de ação da sociedade, em geral, para tentar resolver o problema.
"Nós deveríamos estar cobrando governos para efetivar políticas de inclusão há muito tempo", afirmou Matias.
A primeira etapa dessa inclusão, de acordo com Passador, já está sendo feita por programas como o Bolsa Família, que tiraram as famílias de uma situação de miserabilidade.
"Não dá para dizer que alguém, hoje, morra de fome", afirmou a pesquisadora.
A crítica da pesquisadora é dirigida à falta de políticas que possibilitassem aos pobres ultrapassar essa condição. Segundo Passador, os programas de geração de emprego e renda, no Estado de São Paulo, estão direcionados para pessoas que já têm algum nível de estudo.
"O que eu percebo é que na região se tem uma ilusão sobre o desenvolvimento econômico e social", disse. Os mais pobres, sob essa ótica, formam uma população de invisíveis, afirmou Passador.


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