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98 mil têm renda abaixo de R$ 100 na região
Dados sobre a pobreza fazem parte de estudo sobre a presença do Estado no Brasil, que foi divulgado ontem pelo Ipea
Na região de Ribeirão, Dobrada é a cidade que, proporcionalmente, tem maior número de pessoas em situação de pobreza
JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO
A região de Ribeirão, conhecida pela pujança econômica,
abrigava 98.228 pessoas com
renda inferior a R$ 100 mensais até 2007. Esse era o valor, à
época, que separava os pobres
do restante dos brasileiros, segundo definição do Ministério
do Desenvolvimento Social.
Hoje, o montante é de R$ 137.
Os dados sobre a pobreza fazem parte de estudo sobre a
presença do Estado no Brasil,
divulgado ontem pelo Ipea
(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).
Na região, Dobrada é a cidade
que, proporcionalmente, abriga o maior número de pobres.
São pelo menos seis pessoas
pobres para cem habitantes.
Situação semelhante é enfrentada por cidades como Jeriquara, Guatapará, Pontal e
Guaíra, onde os índices de pobreza estavam na faixa dos 6%.
Esses municípios têm em comum o fato de abrigarem grandes canaviais e seus trabalhadores - a maioria, imigrantes.
Segundo Claudia Passador,
coordenadora do GPublic
(Centro de Estudos de Gestão e
Políticas Públicas Contemporâneas) da USP (Universidade
de São Paulo), os números da
pobreza mostram uma desigualdade regional que reproduz, em menor escala, a realidade do observada no país.
"O que a gente percebe no
Brasil se reproduz em uma desigualdade regional. Você tem
Ribeirão com uma renda per
capita alta e, ao lado, cidades
com IDH igual ao Nordeste",
afirmou a pesquisadora.
Segundo ela, os municípios
canavieiros costumam servir
como cidades-dormitório e
atraem trabalhadores com baixa escolaridade, que diferem do
perfil geral da população. O nível de pobreza, diante dessa situação, tende a se amplificar.
Na região, o índice de pobreza demonstrado pelo estudo é
de 3,1%. "Se você olhar esse número sob uma ótica internacional, é algo degradante", disse o
professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da USP) de Ribeirão, Alberto Borges Matias.
Para ele, a persistência da pobreza, apesar dos programas de
assistência social de todas as
esferas de governo, é efeito da
falta de ação da sociedade, em
geral, para tentar resolver o
problema.
"Nós deveríamos estar cobrando governos para efetivar
políticas de inclusão há muito
tempo", afirmou Matias.
A primeira etapa dessa inclusão, de acordo com Passador, já
está sendo feita por programas
como o Bolsa Família, que tiraram as famílias de uma situação
de miserabilidade.
"Não dá para dizer que alguém, hoje, morra de fome",
afirmou a pesquisadora.
A crítica da pesquisadora é
dirigida à falta de políticas que
possibilitassem aos pobres ultrapassar essa condição. Segundo Passador, os programas
de geração de emprego e renda,
no Estado de São Paulo, estão
direcionados para pessoas que
já têm algum nível de estudo.
"O que eu percebo é que na
região se tem uma ilusão sobre
o desenvolvimento econômico
e social", disse. Os mais pobres,
sob essa ótica, formam uma população de invisíveis, afirmou
Passador.
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