Ribeirão Preto, Quinta, 18 de fevereiro de 1999

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CRISE
Pesquisa da Arquidiocese mostra que um terço da população economicamente ativa é atingida pelo desemprego
Ribeirão tem quase 90 mil sem emprego

ALESSANDRO SILVA
da Folha Ribeirão

Ribeirão Preto tem 89,3 mil pessoas desempregadas ou que se sustentam por meio de subempregos, sem direito a salário mínimo e registro em carteira profissional.
A parcela de "excluídos" equivale a 37,05% da população economicamente ativa da cidade, ou seja, daqueles que potencialmente deveriam estar trabalhando.
A estimativa é resultado de um estudo inédito divulgado ontem pela Arquidiocese de Ribeirão Preto no lançamento da Campanha da Fraternidade, que tem como tema "Sem trabalho...Por quê?".
O desempregado de Ribeirão é, majoritariamente, homem (51,70%), tem entre 18 e 25 anos (38,67%), mora com os pais (56%), é branco (62,67%) e não completou o primeiro grau (52%).
"Nossa juventude não encontra mais trabalho. O resultado disso é visível pelo aumento da criminalidade e da superlotação das cadeias", afirmou o arcebispo metropolitano d. Arnaldo Ribeiro.
A pesquisa será enviada a autoridades do município, incluindo o prefeito Luiz Roberto Jábali (PSDB), que ameaça dispensar 1.500 servidores municipais para equilibrar as contas públicas.
O arcebispo criticou a política econômica do governo, a mecanização do corte de cana-de-açúcar na região e o computador. "São inimigos do emprego", disse.
O tema escolhido este ano pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) será debatido pela comunidade católica até o domingo de Páscoa.
"Eu não tenho uma solução para o desemprego, mas posso ajudar os outros a refletirem sobre o assunto", disse o arcebispo.
Os católicos preparam uma marcha de solidariedade ao desempregado para o dia 21 de março, que deverá terminar em um abraço ao Palácio Rio Branco -sede da prefeitura. O local, segundo a Igreja, foi escolhido porque simboliza a política em Ribeirão Preto.
"Essas atividades vão conscientizar as pessoas de que a política econômica é uma das principais causas desse quadro em que vivemos", disse o padre Fransciscus Vanneron, um dos coordenadores da campanha da fraternidade.
O documento da Arquidiocese cita a necessidade de se ampliar as linhas de crédito para pequenas empresas, mais a realização de cursos de requalificação profissional e controle de capitais especulativos por parte do governo como meios para criar empregos.
Dos chefes de família, de acordo com o levantamento, 23,48% ganham no máximo dois salários mínimos por mês (R$ 260). Essa é a expectativa de renda para 56,6 mil pessoas que moram em Ribeirão.
A estimativa da população economicamente ativa da cidade, de 241 mil habitantes, foi feita em 96 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Alunos e professores da USP (Universidade de São Paulo) fizeram a pesquisa com apoio de sindicatos.
Pelo menos 600 famílias foram visitadas em 60 bairros, incluindo três favelas, nos últimos 40 dias. Responderam o questionário 2.360 pessoas.
Segundo André Chagas, um dos coordenadores do estudo, o critério adotado em Ribeirão é o mesmo aplicado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).



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