Ribeirão Preto, Domingo, 18 de Julho de 2010

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PERFIL ALEXANDRA VALENÇA

Arte no posteArte no poste

Dançarina passou pelo balé e ginástica olímpica e conheceu pole dance na praia por meio de uma stripper tcheca; após treinar em poste de rua , deu aula para atriz e encantou premiê italiano

Márcia Ribeiro/Folhapress
Alexandra Valença, 28, em poste de sinalização de rua

ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

Que graça pode ter uma barra de ferro fincada na vertical? Quando a jornalista de formação e dançarina de profissão Alexandra Valença, 28, se aproxima do pedaço de metal, a resposta à pergunta fica bem mais fácil.
Com movimentos de deixar muito marmanjo impressionado, ela distribui uma mistura de força e graça ao redor do poste.
Por sua "competência" nessa atividade, ela foi uma das convidadas para fazer uma apresentação para o premiê italiano, Silvio Berlusconi, quando ele esteve no Brasil no fim de junho.
A pole dance, também conhecida como "dança do poste", tem um certo apelo erótico -e Berlusconi é famoso por envolvimento em escândalos sexuais. O resultado da combinação foi a repercussão que o fato teve dentro e fora do país.
Mas Alexandra já havia ganhado notoriedade quando contratada pela Rede Globo para ensinar a manha à atriz Flávia Alessandra, que interpretou uma dançarina de pole dance na novela das oito "Duas Caras".
Uma das pioneiras da dança no Brasil, Alexandra começou a carreira de professora em Ribeirão Preto entre 2000 e 2001 e rejeita a pecha de que a pole é uma prática somente de strippers e de garotas de programa.
"A minha pole é diferente. Diante do que se faz por aí, a diferença existe justamente porque eu danço enquanto uma parte da galera só executa movimentos. Eu faço algo artístico, coloco arte na barra", afirma.

 


REFERÊNCIAS
A arte que Alexandra diz colocar no poste tem raízes no balé clássico, na ginástica olímpica e também em suas passagens por aulas de teatro e de circo. Ela também conta que é especializada em dança de salão.
Apesar de ter começado a carreira de professora na cidade, a dançarina nasceu em Recife (PE), onde começou a praticar balé com apenas sete anos de idade.
Aos 19, viajou para Ribeirão com o ex-parceiro de dança e primeiro marido. A intenção era apenas participar de um evento, mas logo o casal foi contratado para dar aulas por três meses no Sesc.
O contrato foi renovado e, quando viram, os parceiros já tinham quase 200 alunos de dança de salão na cidade. "Foi quando resolvemos abrir uma escola aqui."
Há cerca de sete anos, Alexandra teve o primeiro contato com a prática que a tornou conhecida nacionalmente. De férias no Guarujá, ela conheceu uma stripper tcheca que fazia pole dance.
"Fiz algumas aulas com ela, mas naquela época não se falava dessa dança no Brasil. Eu comecei a me interessar muito, fui atrás, pesquisei. Tinha até uma tia minha que morava nos Estados Unidos e me mandava vídeos", conta a dançarina.
Como não tinha onde treinar, Alexandra usava um poste de sinalização em frente de casa, na rua Florêncio de Abreu. Hoje, no entanto, as alunas não passariam pela mesma situação. A professora vende barras apropriadas e outros produtos que levam sua marca: AV-Pole.

MUDANÇA
A artista tentou buscar apoio do poder público para começar a difundir a nova dança em Ribeirão Preto. Encontrou resistência.
Depois de ter ouvido na cidade que tentava defender "coisa de prostituta", Alexandra decidiu se mudar para São Paulo. Faz cinco anos e, segundo ela, foi quando sua luta começou a virar.
Logo as clientes foram se tornando mais numerosas, mas foi a novela da Rede Globo que tirou a professora do anonimato e arrancou a pole dance da penumbra das boates. Era justamente o que Alexandra esperava.
"Até a novela, eu trabalhava, dava aulas e tudo mais, mas eu não tinha como mostrar a dança. Na época que fui procurada, inclusive, eu não quis, fiquei negociando valores. Mas deu tudo tão certo que, se fosse hoje, eu iria até de graça", conta.
A projeção trouxe também algumas situações incômodas. A professora conta que muitas dançarinas fazem apresentações pelo país como se fossem a coreógrafa que treinou a atriz global.
"Há um tempo fizeram uma feira e anunciaram que era a professora da Flávia que ia dançar. Eu nem estava sabendo e colocaram uma menina que até fazia os movimentos direitinho, mas estava com roupa muito vulgar."
"É chato porque você trabalha para mudar uma imagem e aí o pessoal vê uma coisa dessas e nunca mais vai querer contratar uma apresentação de pole dance", reclama.
Para ela, a divisão entre o erótico e o artístico no pole dance é ditada pela ocasião.
"Não é legal fazer uma apresentação sensual na TV, num casamento. Tem famílias assistindo, crianças. Não dá para dar nem uma reboladinha. Agora, nas aulas, não dá para tirar o sensual, porque é isso o que a mulherada busca."
Por mudar a autoestima das alunas que Alexandra se diz até mais realizada como professora do que como dançarina. Hoje, mesmo morando na capital, ela mantém com uma sócia em Ribeirão o Backstage Studio.
"É minha menina dos olhos, algo meu que não conseguiria ter em São Paulo."


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