Ribeirão Preto, Domingo, 18 de Outubro de 2009

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Sem fiscalização, flanelinhas "loteiam" as ruas de Ribeirão

Até oito guardadores agem em conjunto em novo bar badalado da zona nobre

Para a polícia, cobrança por vaga nas ruas é ilegal e pode ser configurada como extorsão se há qualquer ameaça aos motoristas

Silva Junior/Folha Imagem
"Gula' aguarda automóvel estacionar para cobrar taxa de R$ 10 na av. Antônio Diederichsen

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Quase livres de fiscalização da polícia, guardadores de carro informais "loteiam" ruas badaladas de Ribeirão Preto e cobram até R$ 20 por vagas de estacionamento públicas.
Os "gulas", como se autodenominam os flanelinhas que impõem seu preço aos frequentadores da noite, cobram antecipadamente e, de modo geral, intimidam seus "clientes".
Embora a cobrança por vaga -inclusive em locais irregulares- já exista no cotidiano do ribeirão-pretano, os atuais flanelinhas estão atuando de forma agressiva e sem chance de negociação. Um foi preso este ano, acusado de extorsão.
A Folha visitou na última quinta uma casa noturna e bares nos jardins América, São Luiz e Boulevard e viu, numa boate recém-inaugurada, a Cinema D, um grupo de "gulas" agindo. "Na maioria das vezes, a gente pega o dinheiro e vai embora", disse um "gula", que não quis se identificar.
O "gula" estava à espera de "clientes" com outros sete homens a alguns metros da Cinema D. O preço combinado entre eles naquela noite era de R$ 10 por carro, R$ 5 a menos que o preço praticado por serviços de vallet (estacionamento com manobrista) em bares da região do Boulevard, conhecida pelas lojas e bares de grife.
"É uma verdadeira extorsão. A gente paga pelo medo de quando formos pegar o carro na volta [da balada]. Medo de eles terem riscado o carro, de que furem o pneu ou até de que tentem assaltar a gente", afirmou a advogada Valéria (nome fictício), de Monte Azul Paulista. Por mês, Valéria chega a gastar R$ 160 pagando "gulas".
A gerente de butique Paula (nome fictício) foi vítima da não-atuação dos guardadores. Ela encontrou o carro sem nenhum olheiro depois de sair de uma balada. Além da surpresa, viu que a lateral e o capô do veículo estavam riscados.
Paula atribui o prejuízo ao guardador com quem discutiu antes de entrar no bar. Ele pediu R$ 10 pela vaga pública. Ela pediu para pagar em duas vezes de R$ 5, uma "parcela" de "entrada" e a segunda quando fosse buscar o carro.
"Quem riscou meu carro fez intencionalmente, com maldade, porque ele estava inteiramente riscado, não foi alguém que bateu. Gastei R$ 1.200 com o conserto", disse.
Segundo um "gula" ouvido pela Folha, a maioria das pessoas olha para guardadores de carro como alguém pronto para fazer maldade. "Eu nunca fiz, só ouço histórias", disse.
Titular da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), José Gonçalves Neto disse que cobrar por vagas na rua é ilegal e pode configurar extorsão se o motorista for ameaçado.


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