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154 ANOS ESTRANGEIROS
Argentino troca Buenos Aires pelo aconchego local
No futebol, Juan não abre mão de duas paixões, River Plate e Argentina, mas aposta em um azarão africano
Tango uniu o argentino a uma ribeirão-pretana; casal mantém escola de dança e se apresenta
em shows pela região
DE RIBEIRÃO PRETO
Mesmo sem estar sob o jugo da ditadura, a Argentina
do final dos anos 80 ainda
tratava o tango como uma
dança marginal, proibida.
Juan José Risau, hoje com
45 anos, era monitor de aulas
de tango, mas apenas no
tempo livre. Para sobreviver,
trabalhava como operador
de câmara em um canal de
televisão em Buenos Aires.
O encontro de Juan com o
Brasil se daria pela dança.
Em 1986, a professora de
dança em Ribeirão Adriana
Cyrino de Mello Risau, 45, decidiu mudar-se para Buenos
Aires. Ela queria aprender a
dançar tango, como tanto lhe
pediam os alunos.
Adriana passou um ano na
capital argentina. Entre aulas de dança, fez amigos. A irmã de Juan foi quem lhe
apresentou a professora ribeirão-pretana. O namoro
começou, ao ritmo de tango.
Dois meses depois, em dezembro, Adriana decidiu que
era a hora de voltar para Ribeirão. Por ser mulher e brasileira, ela conta ter sido discriminada pelos argentinos.
"Mas eu o convidei para dançar comigo, para fazermos a
vida no Brasil", disse.
Juan aceitou de imediato.
"Ela veio em dezembro. Eu só
esperei passar o aniversário
da minha mãe e, em 2 de janeiro, vim para o Brasil."
Ao chegar ao Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo,
Juan se lembrou das muitas
discussões que teve com a
namorada quando o assunto
era a comparação entre a capital paulista e a argentina.
"Nós, argentinos, somos
orgulhosos, isso é até uma
qualidade. Mas gostamos de
discutir. Eu sempre teimava
que Buenos Aires tinha tanta
gente quanto São Paulo.
Quando vi aquela multidão
no Tietê, me assustei. Nunca
mais discuti nada com ela."
Em Ribeirão, o casal construiu a vida no passo do tango e da dança de salão. Hoje,
com dois filhos criados, eles
dão aulas em diversos clubes
e se apresentam em shows.
Poucos anos após Juan
deixar Buenos Aires, a Argentina resgatou o orgulho
pelo tango. A dança tornou-se patrimônio nacional. Seria
o momento ideal para quem
sabe dar aulas da dança.
Mesmo ciente da nova
Buenos Aires, Juan decidiu
ficar em Ribeirão. "Gostei daqui, é uma cidade muito
aconchegante. Vamos sempre para Buenos Aires, mas
aqui é bom para morar."
No futebol, como um típico argentino, a paixão é pela
terra natal. "Sou River", diz
Juan, cruzando as mãos no
peito, para lembrar o uniforme com listra vermelha do
River Plate. Na Copa, vai torcer para a Argentina, mas
sua aposta é em um azarão: a
Costa do Marfim.
(JULIANA COISSI)
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