Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Junho de 2010

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154 ANOS ESTRANGEIROS

Argentino troca Buenos Aires pelo aconchego local

No futebol, Juan não abre mão de duas paixões, River Plate e Argentina, mas aposta em um azarão africano

Tango uniu o argentino a uma ribeirão-pretana; casal mantém escola de dança e se apresenta em shows pela região

DE RIBEIRÃO PRETO

Mesmo sem estar sob o jugo da ditadura, a Argentina do final dos anos 80 ainda tratava o tango como uma dança marginal, proibida.
Juan José Risau, hoje com 45 anos, era monitor de aulas de tango, mas apenas no tempo livre. Para sobreviver, trabalhava como operador de câmara em um canal de televisão em Buenos Aires.
O encontro de Juan com o Brasil se daria pela dança. Em 1986, a professora de dança em Ribeirão Adriana Cyrino de Mello Risau, 45, decidiu mudar-se para Buenos Aires. Ela queria aprender a dançar tango, como tanto lhe pediam os alunos.
Adriana passou um ano na capital argentina. Entre aulas de dança, fez amigos. A irmã de Juan foi quem lhe apresentou a professora ribeirão-pretana. O namoro começou, ao ritmo de tango.
Dois meses depois, em dezembro, Adriana decidiu que era a hora de voltar para Ribeirão. Por ser mulher e brasileira, ela conta ter sido discriminada pelos argentinos. "Mas eu o convidei para dançar comigo, para fazermos a vida no Brasil", disse.
Juan aceitou de imediato. "Ela veio em dezembro. Eu só esperei passar o aniversário da minha mãe e, em 2 de janeiro, vim para o Brasil."
Ao chegar ao Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo, Juan se lembrou das muitas discussões que teve com a namorada quando o assunto era a comparação entre a capital paulista e a argentina.
"Nós, argentinos, somos orgulhosos, isso é até uma qualidade. Mas gostamos de discutir. Eu sempre teimava que Buenos Aires tinha tanta gente quanto São Paulo. Quando vi aquela multidão no Tietê, me assustei. Nunca mais discuti nada com ela."
Em Ribeirão, o casal construiu a vida no passo do tango e da dança de salão. Hoje, com dois filhos criados, eles dão aulas em diversos clubes e se apresentam em shows.
Poucos anos após Juan deixar Buenos Aires, a Argentina resgatou o orgulho pelo tango. A dança tornou-se patrimônio nacional. Seria o momento ideal para quem sabe dar aulas da dança.
Mesmo ciente da nova Buenos Aires, Juan decidiu ficar em Ribeirão. "Gostei daqui, é uma cidade muito aconchegante. Vamos sempre para Buenos Aires, mas aqui é bom para morar."
No futebol, como um típico argentino, a paixão é pela terra natal. "Sou River", diz Juan, cruzando as mãos no peito, para lembrar o uniforme com listra vermelha do River Plate. Na Copa, vai torcer para a Argentina, mas sua aposta é em um azarão: a Costa do Marfim.
(JULIANA COISSI)

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