Ribeirão Preto, Quinta-feira, 20 de Outubro de 2011

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Lençol usado de hospital brasileiro também é vendido a quilo em lojas

Folha encontra no Piauí peças de 16 instituições, entre elas o HC e a Beneficência de Ribeirão

Após ser descartado, material é considerado lixo hospitalar e precisa de esterilização e destinação especial

MATHEUS MAGENTA
ENVIADO ESPECIAL A TERESINA

Lençóis e fronhas usados com logomarcas de 16 instituições de saúde do país são vendidos em lojas de tecidos de Teresina, no Piauí. "Você quer de hotel, motel ou hospital?", perguntou à Folha um vendedor da loja Capital dos Retalhos. A reportagem comprou anteontem 7 kg (por R$ 18 cada) de lençóis e fronhas. O material é vendido nas mesmas prateleiras de outros tecidos e malhas sem logomarcas.
Roupa de cama usada continuamente em instituições de saúde é considerada lixo hospitalar após o descarte e precisa ter destinação específica.
A reutilização do material para outros fins é proibida, diz a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e pode trazer riscos à saúde, de acordo com médicos.
Na sexta-feira passada, a Folha encontrou tecidos com marcas de hospitais dos EUA à venda em uma loja em Santa Cruz do Capiberibe, em Pernambuco. Dias antes, a Receita Federal havia aprendido peças semelhantes em carga de lixo hospitalar também de origem americana.

'NOVO'
Em Teresina, os produtos são comercializados como novos, mas alguns deles estavam sujos, como os lençóis do hospital São José e Maternidade Chiquinha Gallotti, de Tijucas, Santa Catarina, e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília, no interior paulista.
O restante do material tem aparência de pouco ou nenhum uso e não apresenta sinais de defeito de fabricação. Parte dos lençóis, da confecção Sabie, tem etiquetas com datas de dezembro de 2004 a maio deste ano.
A loja, localizada no centro de Teresina, emitiu um recibo para 7 kg de "lençóis de hospital". A Folha voltou ao local ontem a fim de obter informações sobre o fornecedor do material, mas o local estava fechado em razão de um feriado estadual. A reportagem também comprou um lençol com a inscrição da Secretaria de Saúde de Santa Catarina numa loja no bairro Parque Piauí, ainda em Teresina.
Adquirido por R$ 9, o produto estava num saco preto em meio a outros lençóis e retalhos. O proprietário da loja Polo Malhas, que não quis se identificar, disse que comprou o material de um vendedor de São Paulo. A Folha localizou clientes que compraram lençóis hospitalares de outras duas instituições na mesma loja, por R$ 5, nos últimos dois meses.
Eles dizem ter comprado o material por causa do baixo preço, que tem, no mínimo, metade do valor do outro tipo de lençol barato da loja.
Os materiais têm logomarcas da Faculdade de Medicina de Marília e do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão. Os dois são da fábrica Gigantex. Os lençóis têm aparência gasta, com a tintura desbotada após várias lavagens.


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